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Alguns aspectos do espectro autista

Por:   •  9/9/2018  •  2.312 Palavras (10 Páginas)  •  357 Visualizações

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Fisiológica e anatomicamente, os portadores deste transtorno apresentam diferenças quando comparadas com indivíduos normais. Regiões do sistema nervoso central, em autistas, apresentam alterações: no cerebelo, no sistema límbico, além de uma anormalidade na organização minicolunar cerebral. Percebe-se também aumento do volume do ventrículo lateral esquerdo, malformações corticais, hipoplasia dos lóbulos VI e VII do vermis cerebelar, do tronco cerebral. Regiões cerebrais potencialmente envolvidas são a amígdala e as áreas pré-frontais, sendo que a alteração na região dos corpos amigdalóides parece ser responsável pelo processamento das emoções e, consequentemente, pelo comportamento social.

Há evidências, em estudos de neuroimagem, de que os bebês com esta síndrome apresentam um padrão anormal de desenvolvimento cerebral. Tal padrão caracteriza-se por um crescimento acelerado do crânio durante o primeiro ano de vida, sem caracterizar a macrocefalia. Em seguida, ocorre uma desaceleração em algumas regiões do cérebro, enquanto em outras áreas há uma parada do crescimento. Assim, vem se estabelecendo uma relação entre autismo e hereditariedade.

Quanto à neuroquímica, a elevação nos níveis de serotonina, nas plaquetas, tem sido o achado mais consistente em autistas. As hipóteses dos níveis serotoninérgicos estarem elevados no autismo podem vir a explicar as dificuldades nas relações interpessoais e a apatia frente ao estímulo.

Apesar da maioria dos autistas apresentar algum nível de retardo mental, tal característica não é um critério determinante para identificação desta síndrome, uma vez que há indivíduos autistas que apresentam cognição “normal” ou superior. Diante disso, o simples resultado de teste de QI não é critério adequado para o enquadramento de um indivíduo nesta síndrome. Além disso, existem muitos autistas que, mesmo tendo um retardo mental leve ou moderado, apresentam habilidades avançadas para determinadas atividades.

As alterações orgânicas presente no cérebro social dos autistas dificultam sua capacidade de analisar seus comportamentos e suas emoções partindo da observação da reação do outro. Uma vez que apresentam diferentes estratégias para o processamento emocional, os autistas têm dificuldades no reconhecimento de emoções apresentadas nas expressões faciais. Nesse sentido, o uso do olhar, a responsividade, o desenvolvimento de empatia, comunicação intencional, atenção compartilhada e jogo simbólico ficam prejudicados. Muitas vezes o olhar do autista não está focado no olhar do outro, e sim na boca. Assim, como grande parte da expressão de emoções ocorre através do olhar, a percepção dos comportamentos e das emoções fica prejudicada nos autistas.

Como já mencionado, o autismo acarreta uma dificuldade de se compreender e reconhecer estados mentais de outras pessoas, bem como apresentam comprometimento na capacidade de meta-representação, ou seja, têm dificuldades para compreender os próprios estados mentais. A capacidade de o indivíduo abstrair o estado mental do outro, a partir dos referenciais internos (subjetivos) comparados com os externos, é conhecida como “teoria da mente”. No indivíduo autista há grandes dificuldades no entendimento de crenças, desejos, dúvidas e intenções alheias. Em função da sua limitação ou incapacidade de interpretar o comportamento social alheio, os indivíduos autistas são levados a uma falta de reciprocidade social, dificultando a interação deste indivíduo na sociedade.

SCHMIDT (2012) fez uma análise do autismo, a partir do filme “Temple Grandin”, que é baseado na história real de uma jovem autista. Nele, ele afirma que, apesar das questões em aberto, nos últimos tempos, se avançou muito nos estudos sobre autismo. Isso é corroborado, inclusive, com crescente produção literária das próprias pessoas com esse transtorno. O objetivo do artigo foi analisar alguns aspectos como: cognição, diagnóstico, ilhas de habilidades, dentre outros.

O filme Temple Grandi retrata a vida desta jovem autista, mostrando a percepção dela em relação ao mundo e a insegurança dos pais quando se depararam com o diagnóstico de autismo. Tample Grande foi incentivada a se desenvolver cognitivamente pela mãe e por um sensível professor do ensino médio. Em determinando momento, quando passa um tempo na fazenda de sua tia, ela demonstra interesse pelos bovinos, passando um longo tempo com eles. A partir de então, ela se interessa por um sistema que segura os animais no momento de vacinação. Em uma de suas crises, ela corre e se aperta por esse mesmo sistema, percebendo que isso também a acalmava. Ao chegar o período de ir para a faculdade, ela desenvolve uma “máquina do abraço”. No entanto, precisou convencer o reitor que isso não era algo erótico, mas um auxílio durante os momentos difíceis. A partir de então, ela testa a eficiência da máquina com vários alunos da faculdade.

Ainda na universidade e apesar de todas as dificuldades, inerentes à sua condição, Grandi desenvolve sua tese de doutorado. A tese tratava de uma nova maneira de conduzir o gado para o abate, com o intuito de evitar que o animal se estresse. Pelo sistema criado por Temple, o gado não percebe que está sendo encaminhado para o abate. Calcula-se que, atualmente, o método desenvolvido por Temple Grandi é utilizado em 50% do gado sacrificado nos EUA. Assim, por meio de um olhar diferenciado e uma sensibilidade única, ela consegue revolucionar o sistema de manejo do gado. Ao que parece, o que permite Temple Grandi desenvolver sua tese é a capacidade que têm os autistas de priorizar as partes em detrimento do todo. O filme demonstra todas as dificuldades enfrentadas por ela, bem como o quanto é importante ter alguém que acredite no potencial das pessoas.

SCHMIDT (2012) chama a atenção para a dificuldade de um diagnóstico correto quando se trata de autismo. Isso se deve, em parte, ao fato de não existir um marcador biológico para este transtorno. O diagnóstico, portanto, passa pelo viés subjetivo gerando confusões para os familiares.

Uma crítica em relação à categorização do autismo foi levantada pelo autor, já que apenas o diagnóstico categórico de Transtorno Autista parece não dar conta da variabilidade dessa condição. O autor fez uma previsão sobre o DSM V que ainda iria ser publicado ao falar sobre a substituição dos transtornos globais do desenvolvimento para um grupo dos transtornos do espectro autista integrando os diagnósticos de Autismo, Transtorno Desintegrativo da Infância, Asperger e TID-SOE num continuum. Temple, neste caso, teria recebido o diagnóstico de transtorno do espectro do

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