Trabalho de campo Psicologia Comunitaria
Por: Carolina234 • 6/3/2018 • 5.730 Palavras (23 Páginas) • 443 Visualizações
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MAYSA - Perguntei se a ONG tinha um espaço físico “como um orfanato” onde as crianças destituídas de suas famílias vivem até serem adotadas, porque pelo que li no site, não parecia ser isso, mas perguntei para acabar de fato com a dúvida. Então entrei na pergunta que eu acreditava mais correta pelo que li da ONG. Sua finalidade é para preparar as pessoas que tem esse desejo de adotar acompanhando-as até o processo de adoção e ajudar aqueles que já adotaram em suas dificuldades familiares?
Então vou voltar lá atrás, posso?! A Aconchego é um projeto que tem como missão trabalhar pela convivência familiar, promover esta convivência. É muito colado a essa ideia de adoção, mas adoção é um dos caminhos do fortalecimento da convivência familiar, então, nem falamos mais em orfanato, falamos em instituição de acolhimento. Na década de 80, existia a ideia de orfanato, essa ideia caiu, porque nem todas as crianças eram órfãs. Elas estão lá muitas vezes porque tiveram destituição do poder familiar, ou estão em medidas protetivas, muitas vezes nem estão com o poder familiar destituídas, elas tem a guarda do estado naquele momento, mas estão vinculadas a sua família biológica; quando e se esta família se recupera, elas podem voltar para esta família. Aí passamos por essa ideia de orfanato para abrigo e hoje em dia nem se chama mais abrigo, se chama INSTITUIÇÃO DE ACOLHIMENTO, que é o termo politicamente correto (risos), e não é só porque é politicamente correto, é porque representa o que a gente quer promover.
O Aconchego não é responsável, não tem ligação direta com nenhuma instituição de acolhimento aqui em Brasília. Quem faz isso é o poder executivo, que é dever do Estado. Então através das secretarias Estaduais e Municipais de Direitos Humanos, eles têm as instituições de acolhimento funcionando e ai a criança fica lá sob cuidado de pessoas que estão por ali (funcionários) e se ela tem o poder familiar destituído, pronto! Esta criança está disponível para adoção, ai ela entra no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), que na nova lei ele vai estabelecer uma ordem na prioridade dos pais. Tem uma fila de famílias pretendentes a adoção e de acordo com os perfis das famílias que pretendem adotar e das crianças disponíveis para adoção eles fazem este cruzamento, mas tudo isso via poder público, não tem nada a ver com a Aconchego. A Aconchego é um grupo de apoio, e ai o que a gente faz!? A gente vai com diferentes programas que tem no projeto aconchego, a gente vai tentar atender e criar formas de apoio que vão atender as diferentes demandas e pontas neste processo. Então a gente tem uma ponta que é com as crianças, a gente tem o projeto click, que trabalha com algumas crianças de algumas instituições; a gente tem o projeto irmão mais velho, que vai fazer uma parceria social com adolescentes de escolas particulares pra ter alguma vinculação afetiva, ter algum tipo de contato no mundo exterior com essas crianças das instituições; tem o apadrinhamento afetivo, tudo isso voltado para as crianças. O projeto que eu trabalho (Adoção Tardia), ele é focado nos pais das crianças que já foram adotadas. A gente tem uma preparação, curso de pretendentes né...
GIOVANA - Então elas já foram adotadas. O projeto é após né?!
Após! A gente tem um grupo de apoio.
MAYSA - Mas aí vocês vão atrás dessas pessoas ou elas vem?
Elas vem! Elas ficam sabendo...
MAYSA - Por que eu vi o vídeo da Soraya (coordenadora geral da Aconchego) onde ela comenta que é complicado, que á principio as crianças chegam nas famílias querendo ser o filho perfeito, para que elas não sejam outra vez rechaçadas (abandonadas, etc).
Exatamente!
MAYSA - E a partir daí, depois de um determinado momento as crianças acabam mudando a forma de agir porque, tornam-se elas mesmas!?
Sim, tornam-se elas mesmas, aprendem a conviver, o que é uma família, uma convivência familiar né!? Porque imagine você, gente... vocês estão no curso de psicologia né?! Imagine você o que é o desenvolvimento psíquico de uma criança que cresceu boa parte da vida dela numa instituição? Ela não sabe o que é uma família, ela não sabe o que é representar o papel de filho, ela não teve essa figura parental que marcasse na vida dela. Ela sabe o que é viver numa instituição. Então a gente tem pessoas no grupo que a criança chegou à casa da família e a criança falou: Ué cadê os outros? (como se pensasse: como assim, só tem eu?). Ela sabe viver em instituição. Viver em instituição é o que? É ter rotina padronizada, é ter horário pra tudo. Não tem essa questão individualizada.
MAYSA - Conviver com muitas crianças e pouco afeto, porque ainda que haja afeto por parte dos profissionais, imagino que seja difícil depositar tanto afeto em todas as crianças da instituição.
Dos cuidadores né!? E o cara que tá ali, tá ali como profissional, ela não é responsável pelo vinculo afetivo daquela criança pela parentalidade. Então estas crianças têm desafios diversos, quando a criança começa a se sentir mais seguro, começa a trazer todo conteúdo dela. Mostrar tudo o que tem de bom e tudo o que tem de ruim.
MAYSA - Neste vídeo a Soraya fala também que elas tendem a ser agressivas com a figura mais próxima que em geral é a mãe. É esse o tipo de demanda que os pais de crianças adotadas vêm trazer a vocês buscando solucionar?
Demandas desse tipo, de como lidar com esta hostilidade (quando ela aparece) de como lidar com a história de vida pregressa da criança, que pra muitos pais é muito dolorosa, eles não sabem como abordar, como lidar com aquilo quando a criança trás a tona alguma lembrança de alguma situação difícil que ela viveu, como lidar com o conflito entre irmãos, como lidar com a dificuldade de escolarização, como lidar com a questão dos limites, imposição de regras... no final o que que a gente conclui? Que este grupo ele é um grupo formado por famílias formadas por adoção tardia, mas a gente fala e trata de temas que existem em todos os processos de filiação. Pai e filho, mãe e filha; seja pela adoção, seja pelo nascimento dentro da família. Então assim, a gente tá lidando com a construção do vínculo afetivo entre pais e filhos, este é o foco!
Roberto - Então quer dizer que se uma mãe com o filho ou filha, ou um casal com filhos biológicos e quiser passar por isso (por esse processo)...
A
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