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ENSINO HÍBRIDO

Por:   •  12/11/2018  •  2.453 Palavras (10 Páginas)  •  230 Visualizações

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(c) O que é capital simbólico e cultural para determinado grupo, pode não ser para outro, ainda que ambos pertençam a uma pretensa elite. Por exemplo, nem todo mundo que tem dinheiro, especificamente no Brasil, aprecia caviar, foie gras e escargots, mas em geral são os grupos dominantes que ditam modismos e tendências e o que é ter bom ou mau gosto. A classe média tenta imitar (até onde o dinheiro que ela tem permite) os gostos da classe dominante, posição que desejam alcançar, ao mesmo tempo em que os diferencia dos trabalhadores braçais que preferem ser mais práticos e convenientes na escolha do que é realmente essencial para continuarem trabalhando, (re)produzindo e consumindo. Quando os grupos mais humildes adquirem objetos, habilidades e conhecimentos próprios do grupo social hierarquicamente superior a eles, o grupo dominante se sente ameaçado e modifica seus hábitos de consumo.

À medida que grupos sociais de posição mais baixa na hierarquia lutam para obter mais capital cultural e econômico e começam a adotar os gostos dos grupos acima deles, estes precisam encontrar novas práticas e novos gostos para preservar sua distinção e superioridade. (SEYMOUR, apud SLOAN, 2005, p.09)

1.6- A autora concorda com Bordieu que existem gostos gastronômicos determinados pelo luxo (pessoas “bem nascidas”, com dinheiro, conhecimento e experiência de consumo de bons pratos e vinhos, com hábitos relacionados ao comer para saciar desejos) que se contrapõem aos gostos influenciados pela necessidade (hábitos relacionados ao comer para matar a fome). Isso explica, pelo menos em partes, a preferência de operários por alimentos mais gordurosos, salgados, condimentados fortemente e pesados (o que representa a dura rotina de trabalho, sem grandes prazeres) e a preferência dos burgueses por pratos leves, de baixo teor calórico e rápido preparo (que lembra o ambiente organizado e limpo dos executivos).

Por meio das formas impostas ao apetite, o gosto alimentar e os traços comportamentais associados a ele tornam-se elementos da arte de viver e a expressão do refinamento, em oposição a uma rejeição à natureza animal, à vulgaridade material das necessidades básicas e às classes que satisfazem essas necessidades livremente. (SEYMOUR, apud SLOAN, 2005, p. 15).

- Seymour (2005) concorda com Bordieu que a trajetória das classes sociais é dinâmica e os hábitos de consumo de uma podem (e normalmente costumam) influenciar a outra e vice-versa. Em geral as classes burguesas que aspiram se tornarem elites, artificializam o comportamento adotando temporariamente os gostos e as práticas alimentares da hight society, mas quando sozinhas, retomam os padrões de origem:

Assim, podemos observar uma volta aos alimentos mais pesados e gordurosos do habitus da infância, quando estão sozinhos entre os indivíduos que, em público, adotaram os hábitos mais comedidos do segmento das classes dominantes. (SEYMOUR, 2005, p. 17).

1.7- Segundo Seymour (2005), outros sociólogos e filósofos criticam Bordieu afirmando que, na sociedade pós-industrial do século XX (também chamada de pós-moderna), a indústria de alimentos e de bebidas, associada aos meios de comunicação de massas e ao marketing, padronizam produtos e serviços nivelando o gosto gastronômico “por baixo”, como se o gosto gastronômico fosse ditado apenas e tão somente pelos produtores de fast food e não tivesse nada a ver com classes sociais, porém operários, burgueses emergentes e elites capitalistas mantem, cada qual, seus respectivos capitais simbólicos e culturais que são importantes nas suas decisões de compra (do que depende poder aquisitivo, logo, capital econômico).

- As classes economicamente mais favorecidas podem preferir ingredientes exóticos e caros. Além disso, produtos padronizados com diferenciações irrelevantes para as “particulares de gostos” individuais, ainda permitem distinção dentro e fora das classes sociais. É importante lembrar que, para as classes mais elevadas, quando um produto perde a sua “exclusividade”, elas se afastam dele e procuram outros que os faça diferentes do “resto”.

- Algumas culturas nas quais a culinária se torna uma espécie de patrimônio imaterial que representa aquela sociedade em específico (a francesa e a italiana desde sempre, a catalã e a brasileira, mais recentemente), as tradições bem como as convenções gastronômicas são mantidas.

II – SLOAN, Donald. “O Paladar Pós-Moderno: comer fora na era individualizada” (capítulo 02). In: SLOAN, Donald. Gastronomia, restaurantes e comportamento do consumidor. Barueri, SP: Manole, 2005.

2.1- O autor procura inicialmente responder à seguinte pergunta: no atual contexto pós-industrial, somos livres para formar nossa identidade própria e mostramos isto ao consumir, ou somos produto do meio social.

2.2- A modernidade foi o período em que o sistema de fábricas se transformou em grandes indústrias produtoras de bens de consumo duráveis (automóveis e imóveis, por exemplo) e de bens não duráveis (alimentos e bebidas, por exemplo) em quantidades muito grandes com o apoio dos governos federais que “bancaram” a infraestrutura para isto (hidrelétricas, extração de minérios, fabricação de aço, cimento, asfalto, etc.). Nesse contexto, as classes sociais tinham papéis mais definidos (peões do “chão de fábrica”, técnicos de nível médio e de nível superior como gestores intermediários, portanto burgueses em ascensão e o alto escalão executivo ocupado por cargos políticos, de confiança ou comissionados) e os conflitos sociais mais visíveis também.

2.3- Pós-modernidade: sociedade prestadora de serviços mais “fluídos” (em Internet, por exemplo) dificultando contornos sociais mais precisos para as classes existentes, o que exige que cada indivíduo desenvolva sua própria biografia, sem que seja influenciado pelo contexto de classe tradicional, até então amparada na política. Isto quer dizer que só a realização pessoal de ambições legitima uma posição social, por isso os únicos conflitos “visíveis” seriam aqueles típicos de grupos muito específicos aos quais são atribuídos características tais como raça, cor da pele, gênero, etnia, idade, homossexualidade, incapacidade física, etc. Se, por um lado, na sociedade pós-moderna, os indivíduos sofrem com o isolamento e a insegurança porque lidam com o cotidiano real sem os limites e as condições racionais, por outro, nessa mesma conjuntura social, os significados que a vida adquire são preservados pela hegemonia de uma classe social (talvez a proprietária dos meios de comunicação de massa?) e é essa mesma classe quem ressignifica (ou modifica

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