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A CONSTRUÇÃO DO MEMORIAL PAULO FREIRE NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO DOS TARUMÃS (2003-2016)

Por:   •  28/11/2018  •  3.358 Palavras (14 Páginas)  •  267 Visualizações

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Por outro lado, neste igarapé, como já mencionamos, há um rico acervo arqueológico milenar. Trata-se de um sítio arqueológico de uma das etnias mais importantes do Rio Negro, os Tarumãs. Descoberto pelos moradores, este sítio apresenta um dos mais completos e diversificado acervo lítico de Manaus. As peças, no momento sem datação, estão reunidas num memorial em um dos povoados as margens deste igarapé. A partir das informações antropológicas contidas na obra de Loureiro[5] deduzimos que este povo existe desde a fase pré-histórica[6] da Amazônia, devido a grande quantidade de material lítico, característico deste período, quanto à cerâmica indígena do acervo, possivelmente pertencem à fase Paredão[7] devido a sua complexa forma técnica e grafismos típicos desta fase. Se levarmos em considerações os períodos das fases cerâmicas, verificamos que a mais antiga é datada do século III d. C. e as machadinhas são da pré-história amazônica. Isto deduz que os Tarumãs, possivelmente, estiveram presentes em todas as fases cerâmicas, pois, curiosamente, encontramos cerâmicas, das quatro principais fases, expostas no Memorial. Além do material arqueológico existe uma pequena quantidade de fragmentos europeus, tais como: garrafas de remédio e bebidas; projéteis de arcabuzes; balas de canhão; louças de cerâmica, etc., que deduzimos pertencer a tal período colonial devido às informações grafadas no material. Com essas peculiaridades, é que argumentamos que o igarapé Tarumã Mirim é berço de uma cultura milenar em Manaus.

3. MEMORIAL PAULO FREIRE

O Memorial Paulo Freire é uma sala de exposição organizada por comunitários em parceria com a Escola Municipal Paulo Freire, com o intuito de reunir e guardar as peças arqueológicas (líticas, indígenas e europeias) encontradas na comunidade e às margens do igarapé Tarumã Mirim.

O memorial está localizado em uma sala da antiga escola na comunidade Agrovila[8], um povoado á margem direita do igarapé Tarumã Mirim pertencente à Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé[9] (RDS do Tupé), sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMMAS). O Memorial foi organizado em 2003, e no mesmo ano foi anexado à Escola Municipal e consequentemente ficou sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal de Manaus. O acervo, até o presente momento, ainda não está institucionalizado pela Prefeitura e nem consta no banco de dados do projeto de Levantamento Arqueológico do Município de Manaus/AM (L.A.M.A), projeto este, idealizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), estando portando, em fase de adequação. As peças arqueológicas foram guardadas com o intuito de serem utilizadas como objeto de pesquisa visando contribuir com a literatura presente do período Colonial de Manaus.

3.1. Processo de organização do Memorial

Em 2003, a comunidade estava no processo de desenvolvimento urbanístico. Eram realizados periodicamente escavações de fossas, cisternas, construções de moradias, campos de futebol, instalações da rede elétrica, etc. Durante essas atividades, artefatos arqueológicos de grande valor histórico e científico afloravam no solo arenoso da comunidade e muitas das vezes, eram ignorados pelos moradores por não terem o conhecimento científico necessário para identifica-los, por conta disso, muitas das vezes os materiais eram descartados como lixo ou algo similar.

Eliel Cavalcante dos Santos, professor do Projeto Telecurso 2000[10] do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e atual Curador do Memorial, percebendo a falta de conhecimento prévio histórico-arqueológico dos moradores, em suas aulas de História, abria espaço para debates sobre pré-história. Mais tarde, esses “espaços” se transformaram em pequenas palestras e em pouco tempo, todos já conheciam a importância do material encontrado na comunidade e que tais machadinhas, cunhas, cerâmicas, dentre outros, foram confeccionados por mãos humanas em um passado muito distante. A partir da aquisição de conhecimentos históricos e arqueológicos referentes ao acervo, os moradores não mais ignoravam tais materiais e sempre que os encontravam direcionavam ao Memorial com o objetivo de guarda-los e preserva-los.

Em 2005, deu-se início a construção da nova escola comprometendo boa parte do sítio arqueológico. Percebendo tal situação, os moradores comunicaram a SEMMAS sobre o fato. A SEMMAS comunicou a Secretaria Municipal de Educação (SEMED) - órgão responsável pela escola - sobre a situação na qual, imediatamente interditou a obra de construção da escola por quase dois anos, sendo concluída e entregue aos comunitários em 2007 logo após a retirada dos artefatos arqueológicos pelas secretarias. Entretanto, em meio a este contexto, não houve a intenção em institucionaliza-lo, com o discurso de que o sítio arqueológico está localizado em uma Reserva Ambiental e uma possível institucionalização comprometeria a Reserva, pois, “atrairia empresários com seus hotéis, restaurantes, balneários, etc., visando atender as necessidades decorrentes do alto fluxo de turistas, o que não é permitido pela RDS do Tupé”[11]. Este discurso é passível de questionamentos, pois sabemos que tal justificativa não condiz com os princípios do Instituto do Patrimônio Histórico do Amazonas (INPHAM), que em síntese, uma possível institucionalização do Memorial criaria uma consciência histórica e patrimonial e como produto final, haveria mais motivos para preserva-lo, até mesmo pelos próprios empresários. É perceptível a luta pela hegemonia da Reserva, pois, verificamos no discurso produzido pela SEMMAS, que este órgão não deseja compartilhar a administração da Reserva com outros órgãos, o que seria inevitável com a possível institucionalização, portanto, a incumbência do Memorial continua sendo da Prefeitura Municipal de Manaus, por meio da SEMMAS. Outra justificativa para a não institucionalização, de acordo com Santos “é a falta dos seguintes profissionais no quadro de colaboradores: Historiador, Sociólogo, Antropólogo e Arqueólogo, exigidos pelo IPHAN como requisitos da institucionalização”[12].

O acervo do Memorial Paulo Freire é de grande valor histórico para cultura de Manaus, devido a sua diversidade de material arqueológico europeu e indígena, em quantidade relevante comparado a outros acervos da cidade. Trata-se de um memorial temático voltado especificamente à cultura colonial de Manaus, pouco explorada por pesquisadores. Ainda, em meio aos artefatos indígenas, encontramos objetos europeus, tais como, embalagens de remédios, louças, arcabuzes,

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