SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL NO TERRITÓRIO MACAENSE: UM OLHAR GEOGRAFICO DOS FATOS
Por: Salezio.Francisco • 26/9/2018 • 1.272 Palavras (6 Páginas) • 278 Visualizações
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Ao longo das décadas com o desenvolvimento econômico acelerado, e o enorme fluxo de pessoas oriundas de todas as partes do território nacional, o centro urbano macaense passa por um processo de inchaço populacional, gerando desafios preponderantes para uma nova reorganização do espaço urbano.
Desta forma as regiões que antes eram consideradas periféricas, pois ficavam distantes do centro, ganham força como bairros urbanos planejados, gerando uma nova realidade de migração urbano- urbano dentro do próprio espaço macaense. Fato que obrigou uma nova política municipal no que diz respeito a urbanização, ficando visível a reestruturação urbanística que a cidade vem vivendo nos últimos dez anos, com o fomento de infraestrutura nos bairros considerados nobres e o afastamento da população operaria para áreas ainda mais periféricas.
Em contrapartida, observa-se que na região central de Macaé houve um esvaziamento da elite local; uma vez que estes já não encontravam subsídios que os mantivessem nessa determinada área. Outro ponto importante é o fato de que essa “elite” migrou para bairros como Bairro da Glória, Vivendas da Lagoa, Mirante da Lagoa, São Marcos, Cancela Preta e Riviera Fluminense; este último já não é considerado um bairro elitizado por conta da forte presença da classe média baixa, caracterizada pela classe operária que evoluiu de patamar sócio- econômico.
Fani (2007, p.47) ilustra abaixo esses aspectos observados nos grupos sociais macaenses, reforçando as diferenciações socioespaciais e explicando melhor dentro do âmbito geográfico.
[...] noção de “desenvolvimento geograficamente desigual” como centro explicativo das diferenciações socioespaciais; com isso trazem uma contribuição indiscutível no sentido de atualização do debate realizado no âmbito da Geografia, potencializando o plano do social e, com isso, no centro do processo constitutivo da diferenciação, iluminam a noção de “desigualdade” que esclarece a existência de uma sociedade de classe que diferencia os seus membros a partir do lugar que ocupam tanto na produção quanto na distribuição da riqueza gerada. Trata-se, também, de considerar o papel da divisão espacial do trabalho como elemento articulador/diferenciador dos lugares.
Complementando a visão de Fani, o Geógrafo Harvey (2004a, p. 110-112) diz que:
O exame do mundo em qualquer escala particular revela de imediato toda uma série de efeitos e processos que produzem diferenças geográficas nos modos de vida, nos padrões de vida, nos usos dos recursos, nas relações com o ambiente e nas formas políticas e culturais. A longa geografia histórica da ocupação humana da superfície da terra e da evolução distintiva de formas sociais [...] inseridas integralmente em lugares com qualidades todas suas tem produzido um extraordinário mosaico geográfico de ambientes e modos de vida sociológicos. [...] Mas as diferenças geográficas são bem mais do que legados histórico-geográficos. Elas estão sendo perpetuamente reproduzidas, sustentadas, solapadas e reconfiguradas por processos político-econômicos e sócio ecológicos que ocorrem no momento presente. [...] Mas os processos de diferenciação são tão ecológicos e sociais quanto puramente econômicos. [...] Essas mudanças tornaram-se no entanto, em épocas recentes, mais voláteis, em parte porque ocorreram mudanças qualitativas no âmbito do próprio processo de globalização. [...] A concepção geral de desenvolvimento geográfico desigual que tenho em mente envolve uma fusão destes dois elementos, a mudança das escalas e a produção de diferenças geográficas.
Baseando-se na ideia de Harvey de que o desenvolvimento geográfico desigual gira também em torno da produção de diferenças geográficas, acrescenta-se aqui o fato de que, com o atual cenário de especulação imobiliária, Macaé foi introduzido a um projeto urbanístico de bairros planejados que abrangem desde prédios pós modernos a condomínios fechados de luxo, processo esse que se observa em diversas cidades brasileiras.
Com a saída dessa classe dominante do centro urbano, criou-se uma refuncionalização urbana, promovida fortemente pelo capital privado que vem atuando na reconstrução e remodelagem dessas áreas com foco na urbanização empresarial.
Referências bibliográficas:
CASTELLS, Manuel. La Cuestión urbana. 4.ed. México. Siglo Veintiuno,1977. 517p.
CORRÊA. Roberto Lobato. O espaço urbano. 3. Ed. São Paulo: Ática, 1995. 94p.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. Diferenciação Socioespacial. São Paulo USP/SP, 2007.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
HARVEY, David. Espaços de esperança. São Paulo: Loyola,
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