O PROBLEMA DOS UNIVERSAIS: COMO O USO DA LINGUAGEM COMPROMETE O NOMINALISMO DE RUDOLF CARNAP
Por: YdecRupolo • 20/12/2018 • 1.919 Palavras (8 Páginas) • 399 Visualizações
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A formulação empirista, no caso de Carnap, quer negar a existência de propriedades inanalisáveis pelos sentidos, ou seja, abstrações. Para isso, pondera-se que o sistema para encaixar essas abstrações é a linguagem nominalista. Como melhor explica o próprio Carnap:
Os empiristas são em geral desconfiados em relação a qualquer espécie de entidades abstratas, tais como as propriedades, as classes, as relações, os números, as proposições, etc. [...] Na medida do possível tentam evitar toda referência às entidades abstratas e limitar-se ao que se chama às vezes de uma linguagem nominalista, isto é, uma linguagem que não contenha essas referências. (CARNAP, 1980, p. 113)
A partir disso, ditos “universais” são apenas o que observamos de semelhança entre particulares e que efetuamos pela linguagem.
Em Carnap, para falarmos desses tipos de entidades, devemos introduzir um novo estilo de falar, com novas normas. Essa construção será denominada por ele como “sistema de referência linguístico” (CARNAP, 1980, p. 114). Ele divide as questões da existência entre as internas e externas, sendo a última o que diz respeito às entidades como um todo e a primeira no que toca às abstrações. Sobre a primeira, ele escreve que
[...] as questões de existência de certas entidades do novo tipo no interior do sistema de entidades representado pelo sistema linguístico de referência; chamamo-las de questões internas; [...] Formulam-se as questões internas e suas possíveis respostas com a ajuda das novas formas de expressões. (CARNAP, 1980, p. 114)
Como não há demonstrações empíricas dessas entidades, a linguagem deve se apropriar de um novo modo para tratá-las e explicá-las.
Especificamente, sintetizo seu posicionamento exemplificando o sistema de referência através dos números: 1) “números” não existe na realidade, mas é associado linguisticamente à determinada classe de particulares semelhantes; 2) “2” e “3” pertencem à uma classe semelhante que denominamos, por essa nova linguagem, como “números”; 3) logo, algo como “números” está presente apenas na linguagem.
Veja que os números são um caso de questões internas, por isso o uso da nova linguagem. O que Carnap quer sugerir é que mesmo os números não possuindo um aspecto empírico, são dedutivamente aceitos, com isso quer dizer que são logicamente verdadeiros.
No entanto (e aqui pretendo divergir), associar entidades abstratas à linguagem não é o problema em si, tampouco declarar que as semelhanças entre os particulares fazem surgir predicados (universais). A questão é não ver que abstrações como “semelhança” e até mesmo “linguagem” também são entidades do mundo e, portanto, reais.
3 SEMELHANÇA, UM UNIVERSAL – O ARGUMENTO DE BERTRAND RUSSEL
3.1 Defesa dos universais
Antes de irmos ao argumento central da crítica de Russel ao nominalismo de semelhança, é importante entender seu realismo, bem como seus argumentos para defendê-lo. O realismo de Russel vai explicar que a natureza dos universais está em que ele já é antes do conhecimento. Entidades como relações, por exemplo, parecem não pertencer ou se delimitar ao espaço/tempo como os objetos físicos, tampouco se restringem à mente e linguagem.
A grande questão é que o conhecimento dos universais vai além da experiência, mesmo admitindo seu papel secundário nesse processo. É, digamos, uma intuição com uso da ferramenta empírica, um CONHECIMENTO DIRETO (imediato) das coisas.
Se entidades abstratas só pertencem a convenções linguísticas atribuídas por nós, ou seja, negando que haja universais, devemos, conforme Russel,
[...] notar que não podemos provar estritamente que há coisas como qualidades, isto é, os universais representados por adjectivos e substantivos, ao passo que podemos provar que têm que existir relações, isto é, o gênero de universais geralmente representados por verbos e preposições. (RUSSEL, 2008, p. 155)
Para Russel, tudo que falamos possui algo que denote um universal, tais como verbos, preposições, etc. Isso quer dizer que a linguagem fortemente utilizada pelos nominalistas intrinsecamente possui universais. De alguma forma isso acontece por uma capacidade intuitiva de ver o todo e só em seguida preencher as lacunas (mas o todo já estava lá, antes da nossa compreensão).
Isso pode ser exemplificado quando vamos fazer relações dentro de um determinado espaço geográfico. A relação é um universal e, assim, não está situada no espaço/tempo, como também não se restringe à nossa mente. Exemplo: “a Unisinos encontra-se ao norte de Porto-Alegre”. Este fato existe e o espaço geográfico onde se encontra a Unisinos sempre se situará ao norte do espaço geográfico onde se encontra Porto-Alegre, mesmo que nunca tivesse existido algo como Unisinos ou algo como a cidade de Porto Alegre, independente da nossa concepção mental.
3.2 Argumento da semelhança recai em universal
Se o princípio unificador para formular uma linguagem que classifica entidades abstratas é a semelhança entre seus particulares, então ela mesma – a semelhança – se torna um universal. Como bem nos mostra Russel:
Se queremos evitar os universais brancura e triangularidade, devemos escolher uma mancha branca particular ou um triângulo particular e dizer que algo é branco ou é um triângulo se tem a espécie apropriada de semelhança com o particular que escolhemos. Mas, então, a semelhança requerida terá de ser um universal. Como existem muitas coisas brancas, a semelhança deverá aplicar-se a muitos pares de coisas brancas particulares; e essa é a característica de um universal. (Russel, 2008, P. 55)
Se admitimos a existência do universal “semelhança”, não há motivos razoáveis para não acreditar na existência de outros universais.
Nominalistas, no entanto, poderiam objetar que cada semelhança entre os particulares é também um particular e se diferenciam uma das outras, em diferentes casos, que faria com que semelhanças não fossem universais. Contudo, Russel declara que por este ponto de vista, seria necessário criar outras classes de semelhanças, de segunda ordem, para explicar a semelhança entre os particulares “semelhança”. Russel chamará isso de regressão infinita.
4 LINGUAGEM, também UM UNIVERSAL
Partindo de que Russel
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