O PROBLEMA DOS UNIVERSAIS NO NOMINALISMO DE GUILHERME DE OCKHAM
Por: Juliana2017 • 3/10/2018 • 2.745 Palavras (11 Páginas) • 438 Visualizações
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dualismo.
Só é possível afirmar o conhecimento de um objeto ou coisa com o conhecimento intuitivo do próprio objeto ou da própria coisa. Para afirmar que algum indivíduo tem uma essência, seria necessário demonstrar que a essência desse indivíduo se distingue de algum modo da coisa mesma. Ockham afirma que não existe uma distinção entre existência e essência. Tal distinção não é justificável, pois a essência não se distingue da coisa singular enquanto ela existe.
“Desde que nós tocamos no ser existente, devemos fazer uma digressão para considerar, como o ser existente está relacionado com a coisa, isto é, onde o ser de uma coisa e a essência de uma coisa são duas entidades fora da alma, distintas uma da outra. Parece-me que não há tais duas entidades; nem que o ser existente signifique algo de diferente na coisa. Pois, se esse fosse o caso, seria ou substância ou acidente. Não é acidente porque então o ser existente de um homem seria a quantidade ou qualidade; isso é manifestamente falso, como fica claro por indução. Nem pode ser dito que seja uma substância porque toda substância é ou matéria ou forma ou um compositum de ambos, ou é uma substância absoluta. Mas se o esse é outra coisa que a da entidade da coisa, não pode ser dito que seja nada disso. (Summa Log., III-2 c. 27)
Conclui-se, para Ockham, que o singular não tem essência. Ou seja, objetos como o homem e esta mesa não possuem uma essência de homem ou de mesa. Pois para afirmar que algum indivíduo tenha uma essência, seria necessário demonstrar que a essência desse indivíduo se distingue de algum modo da coisa mesma. Estabelece-se, portanto, que tudo aquilo que pertence ao singular, é singular. A essência de Sócrates não é semelhante e nem parecida com a de Hume ou a de Wittgenstein. Deste modo, Ockham postula que a essência não é algo universal e nem distinta da existência, pois como afirma o pensador britânico: “A existência de uma coisa não é outra e senão sua essência” (Summa Log., III-2 c. 27). Logo, o singular não tem essência, pois ele é a sua própria essência.
O empirismo, também vale para Ockham, como motivo de crítica dos conceitos metafísicos tradicionais vigentes à época. A substância só é conhecida através dos seus acidentes como por exemplo “não conhecemos o fogo em si mesmo, mas sim, o calor que é acidente do fogo.”. (Idem) e por isso somente possuímos conceitos conotativos (sentido figurado, vagos) e negativos da substância como por exemplo: “o ser que subsiste por si”, “o ser que não existe em outrem”, que é “sujeito dos acidentes” e etc.
A causa ou a causalidade para ele e, portanto, muito antes de Hume, não possui validade empírica; o conhecimento de um fenômeno não se pode chegar nunca ao conhecimento de outro fenômeno que seja a causa ou efeito do primeiro, pois nada se tem conhecimento senão através de um ato de experiência, e causa e efeito são duas coisas diferentes. A separação que Ockham faz em relação à metafísica aristotélica é ainda mais evidente pela sua crítica da causa final. “A causalidade do fim consiste em ser amado ou desejado pelo agente; mas que o fim seja amado e desejado não significa que ele atue, seja de que forma for, efetivamente: a causalidade do fim, é, pois, metafórica, não real. (In Sent., II, q.3, 3 G).]
II – O problema dos universais
A questão dos universais é, de modo geral e com aspectos diferentes, um problema que tem acompanhado toda a história da filosofia. Em Platão como em Aristóteles esta dificuldade já pode ser percebida. Platão, em sua Teoria das Ideias, defende um realismo transcendente, pois para ele os universais nada mais são do que as Ideias ou Formas verdadeiras, eternas, belas e imutáveis existentes no Mundo Inteligível (A República, VII.). Já Aristóteles, propõe um realismo imanente, pois para ele os universais são as substâncias que estão no interior das próprias coisas sensíveis e que são apreendidas pelo intelecto através da atividade abstrativa (Categorias, V).
Para Ockham, toda a realidade extra mental é imediata e singular (individual). Se os objetos ou coisas reais fora da mente são apenas singulares e individuais, então os universais não possuem existência real, mas somente mental. Portanto, ele afirma que o universal é um ato mental que representa as coisas individuais: “(...) o intelecto, apreendendo uma coisa singular, produz em si mesmo um conhecimento dessa coisa singular, apenas conhecimento que se chama paixão da alma, capaz por sua natureza de representar a coisa singular”. (OCKHAM, Scriptum in Librum Primum Sententiarum, II, 8. In: Seleção de Textos, p. 365). Conhecimento intuitivo - singular
Embora entre as coisas singulares não haja uma natureza comum, existe entre elas características comuns. O conceito mental, abstraído dos singulares, pode ser aplicado a um conjunto de indivíduos que possuam as mesmas características. Nesse sentido, tal conceito é um universal, pois se torna predicado para uma pluralidade de seres: “assim, pois, se pode dizer que o mesmo conhecimento pode referir-se a coisas infinitas, mas não será um conhecimento próprio de nenhuma delas, nem por semelhante conhecimento se pode distinguir um do outro (...)” (OCKHAM, Scriptum in Librum Primum Sententiarum, II, 8. In: Seleção de Textos, p. 366). e ainda, (...) o universal é naturalmente sinal predicável de muitas coisas, em grande parte como a fumaça significa naturalmente o fogo, o gemido do enfermo indica a dor e o riso demonstra a alegria interna: e universal assim não é senão a intenção mental, de modo que nenhuma substância fora da alma e nenhum acidente extra mental é universal nesse sentido” (Scriptum in Librum Primum Sententiarum, II, 8. In: Sel. de Textos, p. 361). Abstrato
A realidade é formada por coisas singulares, as quais, entre si não possuem nenhuma natureza comum, mas somente características semelhantes, similitudes. São símiles, portanto. A mente ou, como prefeririam os medievais, a alma, realiza um ato mental, um ato de apreensão, e abstraí das coisas particulares as semelhanças excluindo as diferenças acidentais. Assim, no interior da mente ou alma, se forma um conceito confuso que se refere a diversos seres particulares, que é predicado de uma pluralidade de seres e, nesse sentido, é universal. Em outras palavras, o universal é um signo que significa um referente, isto é, um termo que traz em si uma significação não sua, mas de outrem, que representa uma coisa distinta de si. Além disso, o universal não é algo distinto do próprio procedimental mental. Mas antes, o universal consiste na própria ação intelectiva com suas próprias paixões. E, portanto, a partir
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