RESENHA SOBRE CONCEITOS ABORDADOS EM DISCURSOS DE GILBERTO GIL

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no espaço mental da nação. Mas nem todas elas têm o mesmo poder. Algumas aparecem e desaparecem rapidamente. Outras são sustentadas por interesses econômicos e políticos tão bem organizados que ganham durabilidade e condições de abafar as outras, embora a "unidade" assim criada tenha pernas curtas, nunca seja eterna. É uma "unidade" falsa, precária, efêmera. Porque o país e sua cultura não só se configuram a partir de focos diversos, como se acham em permanente mudança. O Brasil pode não ser sinônimo de feijoada, mas de tucupi. Pode não ser sinônimo de orla marítima, mas de pororoca. Pode não ser sinônimo de orixá, mas do Bom Jesus da Lapa. E é com essa diversidade interna que temos de nos haver.”

Sobre a proposição de novos elementos em manifestações culturais, Gil diz que “tem medo da invenção quem não confia na força das brincadeiras brasileiras. Quem acha que só no congelador elas estarão preservadas. Como não tenho medo de ser brasileiro, pois tudo o que eu fizer será sempre brasileiro, confio totalmente na capacidade das culturas populares brasileiras lidarem com o novo, com o desconhecido, com as informações internacionais - e saírem fortalecidas desses contatos. Em resumo, novas e velhas tradições, signos locais e globais, linguagens de todos os cantos são bem-vindas ao curto-circuito antropológico. Não nos perderemos por isso. Como escrevi certa vez numa canção, o povo sabe o que quer, mas o povo também quer o que não sabe. Muitas vezes esteve nisso que não se sabe - e não no que está estabelecido e cristalizado - o mel do melhor do futuro.”

Gilberto Gil diz que “as políticas públicas para a cultura devem ser encaradas, também, como intervenções, como estradas reais e vicinais, como caminhos necessários, como atalhos urgentes. Em suma, como intervenções criativas no campo do real histórico e social.”

Sobre o trabalho do artista, assim como o do Ministério da Cultura ele diz que “jamais estará na vã tentativa de completar o incompleto ou de solucionar paradoxos, domesticando-os em fórmulas fáceis - e, por isso mesmo, falsas. Não estamos em cena para determinar o que seria verdadeiramente brasileiro, porque o Brasil de verdade vai nos surpreender sempre. Nosso trabalho é tornar cada vez mais evidente a incompletude, o risco, a riqueza, o paradoxo. É apostar na criatividade vital de nosso povo. Mesmo porque a nossa cultura tem se configurado à revelia das elites, das instituições socialmente dominantes e do Estado.”

Gilberto Gil traz abordagens e contribuições importantíssimas para o debate sobre o campo da cultura defendendo que a cultura tem uma grande diversidade de conceitos e significados e envolve arte, crenças, hábitos, costumes, entre muitos outros elementos que formam a dinâmica da comunidade na qual está inserida, e não deixa de ser cultura quando há novos elementos, pelo contrário, a cultura é justamente o produto da junção de vários elementos. .

Portanto, é importante que, mesmo em tempo de crise, ou em principalmente neles, que a sociedade suscite o debate sobre quais possíveis contribuições a cultura pode fornecer para superar essas circunstâncias. Se fomentarmos o debate e soubermos agir, as crises podem acabar por gerar oportunidades de ampliação das políticas culturais, assim como leva-las à um espaço de discussão mais privilegiado. A diversidade cultural possui matrizes inesgotáveis, dado o excesso de oferta de elementos presentes em diversos lugares e comunidades, e devemos reconhecer seu valor.

Bibliografia:

Discurso do ministro Gilberto Gil na solenidade de transmissão do cargo, em 02 de janeiro de 2003. Disponível em http://www.cultura.gov.br/discursos/-/asset_publisher/DmSRak0YtQfY/content/discurso-do-ministro-gilberto-gil-na-solenidade-de-transmissao-do-cargo-35324/10883 (31/05/2017 as 17h17)

Discurso do ministro da Cultura, Gilberto Gil, na Terceira Bienal de Cultura da União Nacional dos Estudantes, em 13 de fevereiro de 2003. Disponível em http://www.cultura.gov.br/discursos/-/asset_publisher/DmSRak0YtQfY/content/discurso-do-ministro-da-cultura-gilberto-gil-na-terceira-bienal-de-cultura-da-uniao-nacional-dos-estudantes-35383/10883 (31/05/201