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Resenha Crítica: Discurso do Método - René Descartes

Por:   •  6/3/2018  •  2.503 Palavras (11 Páginas)  •  624 Visualizações

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A medida que o corpo textual vai ganhando forma, um aspecto adotado na construção do discurso é revelado. Os relatos de uma índole pessoal proposta por Descartes, como o fato de querer ser parecido com os outros homens, que podem ter um pensar mais ágil, além de conceber juízo de valor as ações de outrem, denominando-as de inúteis, quando apoiadas na própria história juvenil do pensador, são preparações para um caminho que a leitura nos proporcionara, não de ensino, e sim, contemplação de um método que rompeu com os limites da teoria e se aplicou ao contexto vivido pelo pensador.

Tal fator encontra fundamentação teórica desde o título do texto em análise: “Discurso do Método”. Sabiamente escolhido, o título remete ao não propósito de ensino, mas simples discussão sobre ele, no qual Decartes, de modo a tentar desfazer uma possível ideia acerca do fundamento objetivo da obra, solicita que a mesma seja encarada como uma fábula ou história que não deve ser reeditada, como se os relatos tivessem sido retirados de um contexto de escolhas fictícias.

No seu percurso histórico, o autor acaba por renegar todo conteúdo material até então exposto, mas “não absorvido” dentro de um sistema regular de ensino. Alegando que fora persuadido pelas letras, por falarem que delas se era possível aprender tudo e elas só o forneciam o crescente acúmulo de dúvidas, Descartes escolhe adentrar num livro mundano. Decide viajar pelo mundo, com a certeza de que a matemática seria o único sistema que evidenciava com exatidão a presença da razão, apesar de considera-la mal forjada em aplicabilidades práticas, que queria ir para o Céu, pós estudo de Teologia, e que procurava traçar o caminho de sua vida, iniciado pelo desejo de distinguir o verdadeiro do falso, pela análise dos saberes das pessoas.

Num segundo momento, Descartes transfere o enfoque a uma postura mais egocêntrica e individualista no âmbito da construção e do planejamento, analisando os aspectos de utilidade e finalização de determinadas obras (efeitos de um trabalho ou ação). Afirma que algo fomentado por muitas mãos não molda uma utilidade tão precisa, contrária aos materiais que só possuem um idealizador e cogita que esses seriam os motivos para nossos juízos não serem tão puros e sólidos. Clara alusão à um sistema de desenvolvimento sem influências pré-estabelecidas pelo contingente que expõe os fluxos de vivência social, rompendo com toda uma engrenagem histórica, no qual etapas são iniciadas com o indivíduo ainda muito jovem.

Sua construção, através de solicitações de terceiros atendidas, nos faz entrar em contato com várias verdades não verdadeiras, ou seja, o primeiro passo para nossa caminhada, momento este de pouca clareza diante da explicação do sentimento de Descartes, seria alcançado com o espírito de renovação, pois segundo ele: “As doutrinas recebidas são falsas e sua substituição é urgente”. Todavia, como já mencionado, a obra não tem como prerrogativa uma reflexão do sistema social ou desconstrução conceitual de signos coletivos, pois o verdadeiro intuito seria uma reformulação micro, não objetivando a macro, deixando-o para segundo plano.

O ser jamais poderia buscar reformar o Estado ou o corpo das ciências. O homem deve realizar mudanças internas, no seu próprio sentimento, a fim de alcançar a “verdadeira verdade”, cabendo ao Estado captar essa mudança individual e estende-la à sociedade, configurando um temor quanto a grandes revoluções, por evitar adentrar em complexidades sistêmicas, além de respeito para com o país e Estado que habita, deixado explícito um zelo pelo seu senso patriótico.

Logo, com a reforma na índole do espírito individual, dois pensamentos não poderiam se atrelar ao espírito, deturpando-o, que seriam:

“... julgando-se mais hábeis do que são, não conseguem impedir de fazer juízo precipitados, nem ter bastante paciência para conduzir ordenadamente todos os seus pensamentos, se tiver liberdade de duvidar dos princípios que recebeu, se afastara do caminho comum, não conseguindo ficar no atalho e ficariam perdidos [...] tendo bastante razão ou modéstia para julgar que são menos capazes de distinguir o verdadeiro do falso do que podem alguns outros, podem ser instruídos, devem antes seguir a opinião dos outros”.

De modo genérico e superficial, a falta de modéstia e o excesso da mesma seriam capazes de atrapalhar nossa reformulação, uma vez que a primeira nos afastaria do caminho da verdade, deixando o ser cego por seus princípios, enquanto a segunda não formula opiniões por si só, tornando a renovação do espírito algo impuro, devido certa falta de coragem por parte do indivíduo.

A reformulação por negação de tudo que compõe sua lógica interna, pela substituição de conceitos, não se apresenta como um fenômeno de cunho totalmente radical, ao passo que Descartes propõe a retirada de todo conteúdo até então absorvido, para poder utilizar um método que viria, com o intuito de captar os traços de verdade em meio ao explanado para aquele espírito. A fórmula – sempre reiterando que foi descoberta por René e se aplica exclusivamente para o mesmo, já que não é configurada como um mecanismo padronizado e ensinado – é dividida em 4 partes:

“Nunca aceitar coisa alguma como verdadeira sem que a conhecesse como tal [...] Dividir cada uma das dificuldades em quantas parcelas fosse possível e necessário para melhor resolvê-las [...] Conduzir por ordem meus pensamentos, começando pelos mais simples e fáceis de conhecer, subindo até os degraus dos mais compostos [...] Fazer enumerações em tudo, além de revisões extremamente gerais”.

Sendo voltada a grande simplificação do sistema ideológico, Decartes, de modo quase dogmático, inicia sua busca pela verdade com a “única ciência verdadeira”, a matemática. O filósofo enquadra tal ciência no seu sistema generalizante, logo após a unificação de subdivisões da matéria estudada, ou seja, todas os modelos de matemática, anteriormente separados por preceitos subsequentes e comuns, passam a compor um bloco uno de informação (matemática pura e matemática mistas passam a tornasse somente matemática).

Feita a alteração sistemática, Descartes passa a utilizar ideologias similares as expressas pelos pensadores estoicos, transportando-as do âmbito prático para o do saber. A aquisição de toda verdade que se mostra acessível torna-se a condição principal da felicidade. Através da busca pelo saber que pode ser alcançado, satisfazendo os desejos racionais, já que os outros desejos não devem ser almejados devido

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