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Trajetória psicologia

Por:   •  16/4/2018  •  7.902 Palavras (32 Páginas)  •  272 Visualizações

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Crendo ser importante situarmo-nos concomitantemente aos diversos ambientes em que tal desenvolvimento se deu, descreveremos paralelamente o contexto dos três grandes períodos em que o trabalho industrializado se forjou, dando foco ao contexto socioeconômico geral de cada período. A divisão empreendida segue a mesma conceituação e divisão empreendidas por autores como Chiavenato (2010). São eles: a era da Industrialização Clássica (final do século XIX até anos 1945-50), a era da Industrialização Neoclássica (1945-50 a 1980) e a era da Informação (1980 aos dias atuais).

Por que a opção em iniciar o resgate histórico da Psicologia a partir do processo de industrialização do trabalho? É importante observar que a Psicologia se inseriu no campo organizacional no momento em que este migrava da produção artesanal para a produção industrializada. Concomitantemente a este fato, a Psicologia assumiu seu status de ciência, desmembrando-se da Filosofia, sua veia inicial. Essa “dupla mudança” marca a história da própria Psicologia, que, além de se render à normatização científica, se insere nas organizações em um período em que a técnica substituía e operava novas formas de produção. Como ressalta Malvezzi (2009, p. 9),

Desde o final do século XIX, o trabalho tornou-se objeto da ação racional coletiva e, como tal, passou a integrar, formalmente, o objeto de diversas ciências e as metas da organização social, política e econômica, das diversas sociedades que avançaram além do modo de produção artesanal. Essa condição de objeto de cálculo e de racionalidade ganhou força conforme as sociedades absorveram o modelo industrial e evoluíram com este, para responder às suas necessidades de recursos econômicos. (...) O resultado desse movimento deixou clara, desde a segunda metade do século XX, a existência de dois campos novos que tinham o trabalho como seu principal foco; eram eles: a Psicologia especializada no estudo do trabalho e a prática da gestão de pessoas.

É importante ressaltar ainda que a partir da Industrialização Clássica teve início o que alguns autores denominam de “modernidade” (Severiano e Estramiana, 2006, p. 22), uma vez que, tendo no modo de produção capitalista “o grande marco diferenciador” (Ibidem), fundamentar-se-ia, assim, o processo de “modernização social” (Ibidem). Outros autores, por sua vez, atribuem ao início do terceiro período (era da informação) o termo pós-modernidade, por considerar que a partir do referido período (final do século XX – anos 80) ocorreu uma ruptura com as concepções predominantes na modernidade.

Compreende lembrar que as datas apresentadas correspondem a períodos aproximados, podendo os acontecimentos e características de cada época se sobreporem ou se anteciparem, uma vez que a história tende a acontecer de forma dinâmica e nem sempre linear.

A era da Industrialização Clássica

A era da Industrialização Clássica corresponde ao período final do século XIX e início do século XX. Pode-se sintetizar esse período correlacionando-o a dois grandes marcos: a revolução industrial, com a mutação do trabalho artesanal para o trabalho industrial, e a sedimentação da ciência como a resposta a todas as inquietações do homem e a panaceia de todos os males da humanidade. Esses dois pontos se entrelaçarão e darão origem a uma transformação irreversível no modo de vida das sociedades e no sistema socioeconômico – do feudalismo para o capitalismo – que passaria a dominar os sistemas de trabalho a partir de então.

Athayde (2010a) lembra que, com a “descoberta científica do carvão como fonte de energia, dá-se uma acelerada transformação no setor produtivo (máquina a vapor) e de transportes (locomotiva)”. A fabricação artesanal, de produtos para subsistência ou comércio local, de menor proporção, se desloca para o interior das fábricas, transformando as mercadorias em valor de troca, e o artesão, antes dono do seu processo de trabalho, ferramentas e matéria prima, passa agora ao papel de intermediário entre o proprietário do capital e o produto final. Com a Segunda Revolução Industrial, ocorrida no final do século XIX, por volta dos anos 1870-1880, a industrialização da produção teve sua alavancada. Inicialmente na Inglaterra, logo se expandiu para outros países da Europa, chegando em seguida aos Estados Unidos, através do crescimento e intensificação da indústria química, elétrica, de petróleo, aço e alumínio. Com a industrialização em alta, a produção de bens de consumo em larga escala pôde se concretizar, o que gerava uma maior necessidade de produção, tornando contínuo o ciclo de produção e consumo e a consequente geração de riqueza através do comércio.

Esse período também foi palco de uma relevante mudança na marcha das transformações pelas quais passavam o mundo e o homem. Este, que, no período medieval, se pautava no temor aos mitos e à religião, depara-se no final do século XIX com o despontar da ciência, através da qual todos os eventos passam a ser explicados, introduzindo-se uma análise positivista e mecanicista para o que, antes, era atribuído aos desígnios de Deus e dos mitos. O momento se caracteriza pelo rompimento da “visão teocêntrica do mundo [...], suplantada pelo triunfo da racionalidade instrumental” (Severiano e Estramiana, 2006, p. 23, grifo dos autores). Tendo descoberto o poder da razão e, através dela, a capacidade de transformar a natureza, o homem se coloca, agora, como centro do universo, senhor das coisas. A natureza, conforme descreve Severiano e Estramiana (2006, p. 23), a partir de então passaria “a tornar-se objeto de investigação para um sujeito livre e racional”. A superioridade do conhecimento científico, através da mensuração e da previsibilidade, constitui-se como orientação do trabalho humano em um mundo sob transformação.

Inicia-se, assim, uma nova era, a era moderna e, com ela, um processo gradativo de mudança na organização do trabalho, em que os recursos empregados na produção (como os recursos da natureza) são tomados para “atender ao imperativo absoluto da expansão do capital (Antunes, 2009, p. 23). O mercantilismo se coloca como política econômica voltada a atender aos interesses da burguesia ora emergente. A máquina, substituta do trabalho manual, traduz a dimensão do que viria a se transformar a produtividade humana, concebendo-se de forma ilimitada, conforme acentua Decca (1995, p. 8-9):

Essa descoberta delirante da fábrica como lugar por excelência, no qual o trabalho pode se apresentar em toda a sua positividade, não só alimentou as projeções dos apologistas

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