A Psicologia Oncológica
Por: SonSolimar • 17/12/2018 • 2.690 Palavras (11 Páginas) • 324 Visualizações
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Deste modo, procura esclarecer os fatores biológicos e sociais implicados na origem e nos tratamentos do cancro, bem como clarificar os aspetos psicológicos envolvidos na doença, na remissão ou recidiva e no seu impacto na família e nos profissionais de saúde (Campos, 2010).
Psico-oncologia: evolução histórica
Segundo Holland (2002), uma das pioneiras na área da psico-oncologia, é com a fundação do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em 1880, que surgem os primeiros estudos direcionados para a descoberta de formas de lutar contra o cancro. E a partir de 1948, aparecem os primeiros relatos de remissão da doença, criando assim mais esperança para os pacientes, familiares e equipas médicas. O pessimismo que cercava o diagnóstico de cancro começou a diminuir e o mesmo passou a ser encarado como uma doença a enfrentar e não a ocultar.
Se até então o paciente com cancro era tratado por clínicos gerais e oncologistas, a criação de equipas multidisciplinares revelou a necessidade de abordar o paciente de uma forma holística, na qual o psicólogo começou a ser solicitado para ajudar a tratar dos sintomas de angústia, depressão e ansiedade que assolavam o doente e os seus familiares. Assim, além de enfatizar os fatores psicossociais, biológicos e psicológicos, o psico-oncologista também procura fornecer uma maior compreensão acerca do processo de adoecimento e desenvolvimento da doença, bem como as suas implicações nos vários domínios de vida da pessoa (Hulbert-Williams, Neal, Morrison, Hood, & Wilkinson, 2012).
Intervenção em psico-oncologia
Embora seja relativamente recente, a psico-oncologia tem vindo a despertar cada vez mais interesse entre os profissionais de saúde, pois possibilita melhorar a qualidade de vida dos pacientes, aumentar as possibilidades de reversão da doença, fortalecer os seus recursos e modos de enfrentar a doença e os tratamentos, bem como desenvolver e promover serviços e programas de atenção primária, secundária e terciária no campo da oncologia que atendam também às necessidades dos familiares e dos profissionais de saúde envolvidos (Rosberger Perez, Bloom, Shapiro, & Fielding, 2015).
Apoio psicológico ao paciente
O paciente oncológico tem tendência a percecionar o mundo de forma negativa, o que geralmente, dificulta a sua recuperação, pois o sofrimento não se limita apenas ao mal-estar proveniente dos tratamentos, mas também ao isolamento ao qual deve ser submetido, para evitar qualquer tipo de contaminação no período pós tratamento e que, muitas vezes, é vivido como um profundo sentimento de abandono (Campos, 2010).
A doença surge como um inimigo que deve combatido e, de uma forma geral, a atenção parece incidir apenas no tratamento físico, esquecendo-se a história pessoal, familiar e social. Neste contexto, é essencial que as instituições hospitalares habilitem a sua equipa para lidar com as limitações, angústias e conflitos do doente, de modo ajudá-lo a lidar com a sua nova condição de vida e a promover o processo de reabilitação. Assim, é fundamental que o psicólogo que atua neste contexto considere o sujeito no seu todo, tendo em conta tanto o sofrimento físico como o psíquico. O apoio emocional e a oportunidade para discutir os receios em relação à doença e ao tratamento, ajudam o paciente a enfrentar a doença e consciencializá-lo da sua condição atual (Veit & Carvalho, 2008).
Este acompanhamento é importante para o paciente atribuir novos significados ao seu estado, reinterpretar a sua patologia e diminuir as emoções negativas, pois só assim poderá acreditar que a sua situação pode ser revertida (Christo & Traesel, 2009).
Apoio psicológico aos familiares
O apoio aos familiares é fundamental, uma vez que também eles passam por momentos de desestruturação que surgem devido à falta de acompanhamento durante as diferentes fases da doença. Verifica-se, ainda, que além das preocupações e receios partilhados com os doentes, os familiares deparam-se, também, com questões de ordem mais prática, como a escolha do local onde irão ser prestados os cuidados, a avaliação da qualidade dos mesmos e quais os profissionais que irão fazer o acompanhamento durante o processo de adoecimento e reabilitação (e.g., médico, psicólogo, prestador de cuidados domiciliários) (Rosberger et al., 2015).
Os familiares sentem necessidade de estar com o paciente e ajudá-lo a lidar com as mudanças físicas que gradualmente vão ocorrendo, mas todo este processo se torna desgastante e causa elevados níveis de stress. Neste sentido, também precisam de receber apoio e algum reforço sobre o seu contributo para o conforto do paciente. É, ainda, fundamental que sejam informados acerca da condição do doente e da sua morte iminente, pois só assim conseguem lidar com a mesma. Face a esta situação, o psico-oncologista deverá preparar a família para as modificações físicas, emocionais e sociais pelas quais o paciente irá passar e ajudá-la a compartilhar os seus medos, expectativas e emoções (Bultz, Travado, Jacobsen, Turner, Borras, & Ullrich, 2015).
Apoio psicológico aos profissionais de saúde
Os profissionais que lidam com doentes oncológicos necessitam de ter a capacidade de identificar, avaliar e, sempre que possível, atenuar os sintomas físicos e o isolamento social associados à doença. No entanto, ao providenciarem esses cuidados a pessoas com uma esperança de vida que se prevê curta sentem-se confrontados com a ideia da sua própria morte (Cardoso, Luengo, Trancas, Vieira, & Reis, 2009).
Este confronto, por vezes, traduz-se na identificação com o próprio paciente, o que gera alguma indefinição no comportamento dos profissionais de saúde. Por um lado, pode funcionar de forma positiva, porque reforça a empatia com o doente e é útil na tomada de decisões mais próximas às necessidades do mesmo; por outro lado, o profissional de saúde corre o risco de experienciar de forma intensa e excessiva as vivências do doente e envolverse demasiado, o que, inevitavelmente, influencia o desempenho das suas funções (Bultz, Cummings, Grassi, Travado, Hoekstra-Weebers, & Watson, 2014).
O profissional tem, ainda, tendência para associar o doente a algum familiar ou pessoa próxima, o que pode ser prejudicial para o próprio e também para o doente, dependendo da relação existente entre o profissional e essa pessoa. Deste modo, o psico-oncologista deve ajudar os profissionais de saúde
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