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O teatro da fé - fichamento

Por:   •  23/10/2017  •  1.358 Palavras (6 Páginas)  •  615 Visualizações

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ao som de Pantli, uma espécie de bandeirinha com que contavam o número 20. Para o Noster, empregava-se a palavra Nochili, uma fruta que os espanhóis chamavam tuna. Assim, ao ensinar o Pai-Nosso, os padres pintavam a bandeirinha do número 20 e após desenhavam uma tuna. Os índios por associação fonética, pronunciavam Pater Noster.” Pág. 207

Outra prática muito usada na comunicação entre europeus e indígenas era o uso de figuras.

“As imagens eram a própria mensagem catequética. Em outras palavras: o pensamento indígena apreendeu o mundo cristão por meio de imagens e cenas. Incorporou-se um Cristianismo imagético à percepção indígena.” Pág. 208

“Essa percepção gráfica, indutora de uma associação valorativa cristã, tanto mais forte deveria ser quanto mais estranho ao universo indígena fosse o conceito apresentado. Assim, voltamos a insistir: a imagem não é uma ilustração da fé, é a própria percepção indígena da fé.” Pág. 208

“Podemos notar que a catequese sobre os índios foi essencialmente cênica. Preocupados com a rápida conquista espiritual formal dos índios, os catequistas do Brasil e do México insistiram na ação soteriológica da Igreja.” Pág. 209

“Ora, após uma ação soteriológica, dever-se-ia seguir uma ação mistagógica: um aprofundamento nos mistérios e no caráter de alteração existencial, na postura biográfica de cada índio. Porém, isto não ocorreu como regra para a massa de índios, ou porque não havia condições, ou porque não era está a intenção.” Pág. 209

“Não era possível colocar milhares ou milhões em escolas com aulas constantes e de efetiva assimilação do código cristão. A catequese permanente que São Carlos Borromeu pregava em Milão já era de difícil execução na península itálica, imagine-se nas vastidões americanas. A Igreja, então, ligou-se aos aspectos exteriores, obrigando os índios à missa e à recitação de estruturas formais. Daí a permanência constante de aspectos existenciais ‘pagãos’, como a poligamia.” Pág. 210

É pontuado nesse momento do texto que, mesmo após a catequese, havia muita reclamação por parte dos padres, que diziam que os índios esqueciam tudo que lhes eram ensinados, não agindo como cristãos.

“Corrigiríamos estas reclamações: não é que a massa indígena não lembrasse ou estivesse atacada de estranha teima catequética; na verdade não aprendiam. Os padres esperaram atitudes existenciais derivadas de uma catequese formal. A submissão dos corpos nunca implicou uma adesão das almas, recitação não implicava adesão, declinações do Decálogo raramente transformavam-se em atitudes coerentes com o Decálogo.” Pág. 212

“Mas, no outro extremo, talvez seja esta a maior virtude da catequese católica na América. Ao ligar-se, conforme a expressão de Gibson, aos aspectos abertos e formais do Cristianismo, permitiu a sobrevivência dos índios e de parte de sua cultura. Levar em conta esta perspectiva mudaria inúmeros enfoques sobre a catequese na América Ibérica.” Pág. 212

“Aprofundando a questão histórica que nunca é tão linear, os paradoxos aumentam. A longo prazo, a catequese favoreceu a manutenção do mundo indígena. As gerações que Ancieta e Martin de Valência educaram viveram uma ruptura maior. Porém, o próprio caráter superficial da catequese e a manutenção do acervo linguístico indígena colaborariam para esta manutenção.” Pág. 216

Finalizando o texto, Karnal coloca a necessidade de se pensar se houve de fato uma catequização indígena, uma vez que ela foi, de certa forma, superficial.

“A catequese da América tem o seu ser calcado no que ela não foi. Porém, não sendo, permitiu que ontologias avoengas continuassem existindo, sob o amplo manto plástico e retórico da Representação. Não é tão amplo que não produza interações e reações, mas não ressignifica tudo.” Pág. 218

“A catequese seria, não exclusivamente na América mas com particular força aqui, um elemento de conquista de Representação: massas nas igrejas, procissões suntuosas, candidatos católicos aos cargos, discursos probos e teatros pios. Esta prática apenas seria garantida nas áreas onde o domínio político existiu com o avanço religioso. Sem o amparo político, nem esta cena coletiva teria sido possível” Pág. 218

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