O Currículo e Multiculturalismo
Por: Lidieisa • 18/6/2018 • 2.637 Palavras (11 Páginas) • 406 Visualizações
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Currículo em ação é o conjunto de saberes, fazeres e interações produzidas e compartilhadas no cotidiano escolar, ele se diferencia e realiza a partir das ações compartilhadas pelos sujeitos. Este tipo de currículo faz parte de muitas práticas que vão além das práticas pedagógicas de ensino, mas incluem ações de ordem politica, administrativa, de avaliação etc.
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A construção social do currículo se dá através das relações de poder, ideologia e da cultura presentes na sociedade. Dessa forma assumindo uma concepção crítica o currículo deixou de ser um elemento técnico, inocente e neutro de transmissão do conhecimento.
“O currículo está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares. O currículo não é um elemento transcendente e atemporal – ele tem uma história, vinculada a formas específicas e contingentes de organização da sociedade e educação.”
(MOREIRA E SILVA, 1995, p.8).
Concordando com Moreira e Silva,
A escola delimita espaços. Servindo-se de símbolos e códigos, ela afirma o que cada um pode (ou não pode) fazer, ela separa e institui. Informa o
“lugar” dos pequenos e dos grandes, dos meninos e das meninas. Através de seus quadros, crucifixos, santas ou esculturas, aponta aqueles/as que deverão ser modelos e permite, também, que os sujeitos se reconheçam (ou não) nesses modelos. O prédio escolar informa a todos /as sua razão de existir.
Suas marcas, seus símbolos e arranjos arquitetônicos “fazem sentido”, instituem múltiplos sentidos, constituem distintos sujeitos. (LOURO, 2003, p. 58).
Segundo Apple (1989), o papel que o estado desempenha na sociedade é muito importante para se compreender o que a escola faz e como se organiza o currículo. O Estado subsidia o capital através de empréstimos e créditos, fornecimento de energia, transporte, etc. Tem contribuição no processo de expansão dos mercados, comercialização dos produtos, manutenção de aparato militar, custeia pesquisas cientificas, treinamento das forças de trabalho e educação, também regulamenta leis, saúde, família, mídia e outros.
Com toda essa influencia e poder este assume um papel na reprodução das relações sociais e na organização da divisão social do trabalho. Dessa forma a educação e o currículo escolar estão organizados não apenas para ensinar os conhecimentos exigidos pela sociedade, mas para auxiliarem na reprodução dos conhecimentos técnicos administrativos, expandir mercados, controlar a produção, o trabalho e as
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pessoas. Esse conhecimento técnico administrativo age como forma de capital econômico, seria um capital cultural que tende a ser controlado e servir aos interesses das classes mais poderosas da sociedade.
A escola passa a ser considerado órgão reprodutivo na medida em que ajudam a selecionar a força de trabalho e a manter os privilégios por meios culturais a partir que reconhece como legítimos o conteúdo da cultura dos poderosos. Reconhecer que o currículo esta impregnado de relações de poder não significa ter identificado essas relações.
É indispensável questionar não apenas o que ensinamos, mas o modo como ensinamos e que sentidos nossos/as alunos/as dão ao que aprendem...Temos de estar atentas/os, sobretudo, para nossa linguagem, procurando perceber o sexismo, o racismo e o etnocentrismo que ela frequentemente carrega e institui. (LOURO, 2003, p.64).
Para a teorização critica cultura é o conjunto de significados, expectativas e comportamentos compartilhados por um determinado grupo social,assim dizer que o currículo é uma seleção cultural significa dizer que o currículo em dado momento histórico é fruto da escolha de conhecimentos considerados mais importantes dentre aqueles que fazem parte de uma cultura mais geral.
O pensamento pós-crítico propõe um currículo que se construa ao redor de temas como cultura, raça, gênero, etnia, sexualidade e multiculturalismo, enfatizando competências e habilidades, e não conteúdos. As teorias pós-criticas ampliam aquilo que as teorias criticas ensinam, o poder torna-se descentrado, não tem mais um único centro, como o Estado, está espalhado por toda a rede social. (SILVA, 2011, p.148).
A cultura não é homogênea, pelo contrário é contraditória e ambígua, por isso o popular tem sido visto pelos dominantes como um agente perturbador das relações de poder existentes, principalmente porque estes temem a afirmação de diferentes modos de vida, a democracia, o utopismo e as possibilidades políticas que estão contidas nas culturas dos pobres, negros, mulheres e outros que compartilham de experiências de total privação de poder. Até mesmo alguns educadores têm sido levados a perceber cultura popular como desvinculada da pauta da escolarização.
O debate sobre multiculturalismo e interculturalismo na educação é muito recente no Brasil, a perspectiva multicultural reconhece as diferenças étnicas, culturais e religiosas entre os grupos que coabitam no mesmo contexto sem necessariamente
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interagir, já a educação intercultural ultrapassa a perspectiva multicultural, sugerindo situações em que pessoas de culturas diferentes interajam. (FLEURI, 2000, p.75).
Moreira (2011) explica que o termo multiculturalismo, pode indicar diversas ênfases, como a atitude a ser desenvolvida em relação à pluralidade cultural; meta a ser alcançada em um determinado espaço social; estratégia política referente ao reconhecimento da pluralidade cultural; corpo teórico de conhecimentos que buscam entender a realidade cultural contemporânea; caráter atual das sociedades ocidentais.
Para o autor o currículo “multiculturalista” é parte das idéias pós-criticas de currículo, por ser um movimento legítimo de reivindicações dos grupos sociais dominados, ele não pode ser separado das relações de poder, é um instrumento de luta politica, assim as sociedades contemporâneas são multiculturais, nelas as diferenças derivadas de dinâmicas sociais como classe social, gênero, etnia, orientação sexual, cultura e religião expressam-se nas distintas esferas sociais.
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