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DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA SALA DE AULA

Por:   •  19/12/2017  •  5.151 Palavras (21 Páginas)  •  522 Visualizações

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A indisciplina na sala de aula afecta também o desempenho dos professores. Em turmas indisciplinadas os docentes vêem-se obrigados a adoptar atitudes pouco consentâneas com a sua função de formadores/educadores, o que, por vezes, lhes provoca situações de mal-estar, «stress» e os deixa psicologicamente afectados: são os conteúdos programáticos que não são integralmente cumpridos, é a relação pedagógica que não funciona, é a sua própria autoridade como professor e como adulto que é posta em causa por «miúdos» irreverentes e desafiadores (Estrela, 1991).

Da experiência profissional como professor, onde os contactos com os problemas disciplinares são muito sentidos, nasceu o interesse pelas questões da disciplina/indisciplina, a vontade de as aprofundar, tendo consciência de que muito há para descobrir e aprender no que diz respeito aos comportamentos ditos indisciplinados. Procurar-se-á, assim, responder a algumas inquietações pessoais e, eventualmente, contribuir para esclarecer alguns aspectos da indisciplina na escola.

Em termos de organização o trabalho começa com uma clarificação conceptual de indisciplina. No segundo ponto, e porque a comunicação assume um papel fundamental no processo de ensino aprendizagem, alongamo-nos um pouco na relação entre a comunicação e a indisciplina na sala de aula. No terceiro ponto analisam-se as possíveis causas da indisciplina na sala de aula, tendo apenas como intervenientes os professores e os alunos. Na conclusão, para reflexão, apontam-se alguns aspectos que poderão servir para prevenir a indisciplina na sala de aula ou, pelo menos, para a suavizar.

1- A INDISCIPLINA

1.1. Clarificação conceptual

O conceito de indisciplina é susceptível de múltiplas interpretações. Um aluno ou professor indisciplinado é em princípio alguém que possui um comportamento desviante em relação a uma norma explícita ou implícita sancionada em termos escolares e sociais.

O conceito de indisciplina é usado habitualmente nas escolas com bastante frequência pelos diversos intervenientes no processo educativo. Contudo, não é um conceito de fácil definição. A maior dificuldade na sua clarificação resulta do facto de não se lhe poder atribuir uma significação sem o integrar num determinado contexto, isto porque actores diferentes podem percepcioná-lo de forma também diferente, ainda que dentro do mesmo contexto (Magalhães, 1992).

Hargreaves (1978) vê a indisciplina como um processo de categorização, de atribuição a alguém ou a uma determinada situação da categoria de indisciplinado. Podemos completar o pensamento deste autor com o de Fontana (1996), que considera que falar a despropósito, evitar o trabalho, levantar-se do lugar sem pedir e obter prévio consentimento, dizer uma asneira, conversar com o colega de lado, fazer barulho, não ser pontual, quebrar regras estabelecidas, podem configurar situações de indisciplina se assim forem consideradas pelos actores sociais em presença, ou seja, se a categoria “indisciplina” for atribuída à situação (Carita, 1997)

"O conceito de indisciplina relaciona-se intimamente com o de disciplina e tende normalmente a ser definido pela sua negação ou privação ou pela desordem proveniente da quebra das regras estabelecidas" (Estrela, 1994: 15). Neste contexto, a indisciplina deverá ser encarada como "negação de qualquer coisa, seja uma norma ou padrão socialmente aceite ou uma regra arbitrariamente imposta" (Magalhães, 1992: 12).

Na mesma linha de pensamento, embora utilizando a expressão "disrupção escolar" em vez de indisciplina, Veiga (1995: 45) aceita como conceito de “comportamento escolar disruptivo” “aquele que vai contra as regras escolares, prejudicando as condições de aprendizagem, o ambiente de ensino ou o relacionamento das pessoas na escola”. O autor baseou-se na noção de "comportamento disruptivo" extraída de Lawrence e outros, que o definiram como o "comportamento que interfere seriamente com o processo de ensino e / ou altera gravemente o funcionamento normal da escola. Além do habitual mau comportamento na aula, no recreio, nos corredores..., inclui os ataques físicos e a destruição intencional da propriedade" (cit. Veiga, 1995: 44). Outras definições poderiam ser apresentadas e delas colheríamos, certamente, os mesmos pontos comuns: a indisciplina assenta essencialmente na violação de regras ou normas (formais ou informais) institucionalizadas em organizações sociais.

2. A SALA DE AULA, PRINCIPAL PALCO DE INTERACÇÕES

Dentro da escola, existem espaços com funções específicas. A sala de aula é, sem dúvida, o mais importante de todos eles. É neste espaço que ocorrem as principais interacções do processo de ensino / aprendizagem. “A sala de aula pode ser encarada como um cenário, onde quotidianamente acontecem representações, então poder-se-á eventualmente trazer a este palco os actores (sociais) que aí desempenham os papéis que lhes foram atribuídos: os professores e os alunos” (Magalhães, 1992:38).

2.1. Comunicação e indisciplina na sala de aula

[pic 1]

Professores e alunos encontram-se em constante interacção[1] no espaço que lhes é reservado por excelência - a sala de aula. Neste espaço, que fisicamente é quase isolado do resto da escola, reveste especial importância a questão da comunicação. É através dela que o professor procura transmitir os seus conhecimentos e os alunos, com o respectivo feedback, mostram se os adquiriram ou não. “Todo o acto pedagógico é essencialmente um acto de comunicação visando induzir a aprendizagem de um saber”. (Estrela, 1992: 50)

Contudo, a comunicação na sala de aula nem sempre é fácil, muitos são os obstáculos que podem dificultar o processo comunicacional, impedir o professor de realizar eficazmente o seu trabalho e, por conseguinte, impedir os alunos de alcançar os seus objectivos. Entre essas dificuldades podemos referir as seguintes: a distância entre o emissor e o receptor; a adequação da mensagem às características do(s) receptor(es); a forma como a mensagem é transmitida e interpretada pelas duas partes em comunicação.

A comunicação na sala de aula poderá ser facilitada ou dificultada pela utilização do espaço por parte o professor. A aproximação ou afastamento do(s) aluno(s) relativamente ao professor e a forma como o professor se desloca na sala ou se coloca em determinados pontos pode influenciar

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