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A ESCOLA E O PODER

Por:   •  22/3/2018  •  2.619 Palavras (11 Páginas)  •  304 Visualizações

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As relações dos personagens no âmbito escolar permeia a todos, professores, alunos, funcionários, diretores, orientadores, reproduzem a rede de relações de poder que existe na sociedade, a escola é o espaço onde o poder disciplinar produz saber. No século XIX com a instituição disciplinar, que consiste na utilização de métodos que permitem um controle minucioso do corpo através de exercício de utilização do tempo, espaço, movimento, gestos e atitudes, com uma finalidade: produzir corpos submissos, exercitados e dóceis, para impor uma relação de docilidade e utilidade. Ser observado, é um meio de controle, de dominação, um método para documentar individualidades. Os efeitos do poder se multiplicam na escola, com a acumulação de conhecimentos a partir da entrada das pessoas no campo do saber. Conhece-se a alma, a individualidade, a consciência e o comportamento dos discentes, tornando-se assim possível a existência da psicologia da criança e a psicopedagoga. Formam-se a partir de práticas políticas disciplinares, baseadas na vigilância, mantendo o alunos, o olhar permanente, registrando, contabilizando todas as observações e anotações, através de boletins individuais de avaliação, percebendo assim aptidões, e classificações rigorosas. A prática do ensino reduz-se a vigilância, não sendo mais necessário o uso da força para obrigar o aluno a ser aplicado. Necessário que o aluno saiba que esta sendo vigiado, assim como um detento que esta cumprindo uma pena por um crime que cometeu. Práticas com a intenção de marcar, salientar os desvios, caracterizando alunos tidos como problemáticos, ao dividir os alunos e os saberes em séries e graus, salienta as diferenças, recompensando os que se sujeitam aos ditames impostos pelo sistema escolar. A escola é um centro de discriminação, reforça tendências existentes no mundo exterior, há uma vigilância constante, as punições escolares não servem para recuperar o aluno, mas marcá-lo diferenciando-o dos tidos como normais. Assim a escola é um observatório político, um aparelho de controle perpétuo, é a estrutura escolar que possibilita o poder de punir, e que passa a ser tido como natural, os alunos aceitam passivamente esta condição. Por sua vez o professor é submetido a uma hierarquia administrativa e pedagógica que o controla, quando demonstra qualidades é cooptado pela burocracia educacional, com o fim de realizara política do estado, portanto da classe dominante, sendo assim fortalecidos os órgãos educacionais: Secretaria de Educação ou Ministérios da Educação, com o propósito de enfraquecer a unidade escolar básica. Quando na escola, o professor julga o aluno, mediante uma nota, ou participa do conselho de classe, definindo o destino dos alunos, esta desempenhando um papel do estado que exclui àquele que não interessa ao sistema, com o propósito que ele se adéqüe, cedendo assim às aspirações do poder dominante.

Em si mesmas as regras são vazias, violentas, não finalizadas; elas são feitas para servir a isto ou àquilo; elas podem ser burladas ao sabor da vontade de uns ou de outros. O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que as tinham imposto; de quem, se introduzindo no aparelho complexo, o fizer funcionar de tal modo que os dominadores encontrar-se-ão dominados por suas próprias regras. (MICHEL FOUCAULT, 1990, p.17)

A escola é marcada por conflitos, num ambiente que, por um lado reproduz os valores hegemônicos da sociedade, e que por outro, pelos impasses enfrentados em sala de aula. A organização escolar é penetrada por relações de poder e dominação, refletidas em sua cultura e nos saberes que a alimentam, saberes ambíguos, distantes da vida cotidiana, que dependem quase que exclusivamente da comunicação escrita e se adaptam mais comumente a procedimentos de avaliação formal. Assim entendido, denotamos que os critérios de legitimação e hierarquização presentes na sociedade prevalecem na organização escolar, indicando um sistema educacional enraizado numa sociedade estruturada por relações sociais desiguais, com conseqüências profundas no rendimento escolar e nas manifestações que a partir daí se desvelam. A escola, enquanto organização e instituição social tem uma função social que a distingue das outras e é parte fundamental na formação das sociedades humanas. A distinção está na sistematização, no processo formativo que visa inculcar valores, ensinamentos e normas da sociedade, fazendo a mediação entre os conteúdos historicamente produzidos pela humanidade e o aluno, procurando formas para que esses conhecimentos sejam apropriados pelos indivíduos, contribuindo para a formação de novas gerações de seres humanos.

Para entender o porquê dos saberes, pode-se explicar a sua existência e suas transformações como dispositivos de relações de poder, diferente do poder exercido pelo Estado. Embora articulado com o aparelho de Estado, é um poder não totalmente absorvido por este. Pode-se entender este tipo de poder como poder disciplinar, que distribui os indivíduos no espaço, estabelece mecanismos de controle da atividade, programa a evolução dos processos e articula coletivamente as atividades individuais. Para tal, utilizam-se recursos coercitivos como a vigilância, as sanções e os exames, características do poder disciplinar que marca a estrutura e o funcionamento desta instituição. "as escolas se parecem um pouco com as prisões, as fábricas se parecem muito com as prisões. Basta ver a entrada na Renault. Ou em outro lugar: três permissões por dia para fazer pipi" (MICHEL FOUCAULT, 1990, p.52). Há toda uma engenharia que funciona como estratégia ou tática de poder, aparecendo como uma mecânica de observação individual, classificatória e modificadora do comportamento, uma arquitetura formulada para o espaço da prisão, ou para outros agenciamentos, tais como: a fábrica, a escola, o manicômio. Essa maquinaria era o Panopticon, idealizada por Bentham em 1791, e que se tornou o programa mestre da maior parte dos projetos de prisão por volta de 1830-1840.

A escola, cujo ambiente se caracteriza por uma correlação de forças inseridas em determinado contexto que favorece a hierarquização e sujeição nas relações da instituição disciplinar em sua essência, define espaços, subdivide e recompõe atividades, capitaliza o tempo e as energias dos indivíduos pela disciplina, de maneira que sejam susceptíveis de utilização e controle, articula os indivíduos que se movimentam e se articulam com os outros, ajusta a série cronológica de uns ao tempo dos outros, de modo a aproveitar

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