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A REINVENÇÃO DO DISCURSO POLÍTICO DENTRO DE UMA REDE DE RELAÇÕES DE PODER NO MARANHÃO

Por:   •  6/8/2017  •  3.895 Palavras (16 Páginas)  •  690 Visualizações

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Para ele a rede política tem um alcance heurístico quando se quer analisar o capital de relações de um agente acumulado ao longo de seu itinerário e como o mesmo é mobilizado para um fim específico. Pode-se compreender as associações políticas entre o “líder e seus aliados” a partir do compartilhamento, pelos indivíduos interligados por relações de benefícios, de diferentes critérios de adesão – como posição social, filiação partidária, relações de parentesco, interesses econômicos, pertencimento a uma categoria profissional.

Portanto, a rede de poder representa um espaço de ação política que incorpora seus membros através de relações de compromisso que se dão pelos mais variados interesses, criando estratégias diversas para a sua sustentação, funcionando como um trunfo importante para a construção de lideranças políticas, isto é, representando um respeitável instrumento para a arregimentação de apoios, adesões e bases eleitorais.

É dentro dessas estratégias que o discurso assume um relevante papel como elemento de fortalecimento simbólico, intelectual, político e literário nas redes de relações de poder.

Bourdieu (1989) considera os discursos que são proferidos em uma organização social como sistemas simbólicos, os quais possuem dualidade intrínseca: são estruturas-estruturadas e estruturas-estruturantes. Está contida, nessa noção, uma perspectiva relacional desse autor, acerca de estrutura. Tendo herdado muito do estruturalismo francês, Bourdieu (1992) reconhece o peso que possui a estrutura na determinação do comportamento dos agentes.

Em Durkheim (1970), o universo está contido na sociedade, porque a sociedade produz representações, a partir das quais os homens estabelecem uma ordem de entendimento a este mundo. Ao ordená-lo, a sociedade cria o universo. Essa estrutura, para muitos autores, seria capaz de explicar o comportamento dos agentes, em detrimento do pensamento dos agentes individuais.

No entanto, Bourdieu (1992) estabelece uma ruptura com a dicotomia entre estrutura e agência ao adotar a perspectiva fenomenológica e hermenêutica, criticando, inclusive, a Lingüística, que previa um sistema de linguagem preexistente ao conhecimento dos agentes e dos sentimentos e atitudes deles com relação a ela. Bourdieu (1992), sobre isso, vai enfocar que o individuo fala uma língua que lhe é preexistente, mas as condições em que ele fala não dependem, apenas, da estrutura, mas também dos fins visados por esse mesmo agente, no ato de falar. As palavras que utiliza e o tom de sua voz estarão direcionados tanto pela posição social que ocupa, razão de seu direito de falar, como por aquilo a que Weber (1994) chamou de ação racional direcionada a fins, subjetivamente, visados (agência). Daí a junção entre estrutura e agência.

As representações sociais, para Bourdieu (1992), sofisticando o que diz Durkheim, são sim estruturas, mas não são somente estruturadas. Elas não são somente produto, também produzem coisas. O universo está, sim, contido na sociedade, mas ele só está contido nela porque um grupo de agentes o colocou lá, o fez tal como a sociedade o entende. Essas pessoas são detentoras de um capital (social, político, cultural, econômico). Somente elas têm o poder para dizer como o universo é. Existem outras que dizem que ele é de outra forma, mas seu capital é menor, ou não dispõem do capital necessário para que sua representação domine o grupo que acolhe o que eles dizem.

O que isso quer dizer: no campo social existe oposição e existem alianças, conflitos e jogos de interesses. Dito de outra maneira, Foucault (2006) defende que cada grupo produz a sua verdade, e a verdade que seria admitida para todo o conjunto da sociedade depende da posição ocupada pelo grupo ou pelo agente que a enuncia. Melhor dizendo, a representação que estrutura o mundo social é aquela dominante em uma dada formação social.

São com esses referenciais teóricos que pretenderemos abordar os discursos políticos de José Sarney e Jackson Lago nas eleições ao governo e a rede de relações de poder presentes no período proposto.

A principal marca do discurso de José Sarney nas eleições de 1965 foi a construção simbólica da representação do novo em contrapartida a política do atraso (vitorinista), das “trevas as luzes”. O “novo,” dessa forma, se constituiu na marca diferenciadora de um projeto político, ocupando o lugar central em seu discurso, que se caracterizou pela completa assepsia das relações políticas do candidato com o seu passado na política do Maranhão.

O governo que hoje se inicia tem um caráter de ruptura com o passado recente, no que ele tem de aviltante do exercício governamental e de comprometimento de com o desmando de toda a espécie.

De fato, nesta hora de festa e de alegria para o povo maranhense, estamos sepultando um passado embrutecido pela violência, pela má fé e pela carência de escrúpulo de qualquer ordem. Um passado em que as instituições foram empobrecidas e deformadas quando não corrompidas e viciadas.(Discurso de posse de Sarney como Governador do Estado do Maranhão.)

Emprestando a concepção de Weber (1994), o discurso de Sarney em 1965 (eleição) e 1966 (posse) aparece absolutamente coadunado com o projeto de integração da economia maranhense sob a édige do capital monopolista, que reconstruiu as relações sociais autoritárias, aprofundando as desigualdades sociais e intensificando os conflitos na cidade e no campo. Neste sentido, Bourdieu (1989) concebe que tais práticas discursivas incitam a reflexão de que há uma insinuação de dominação que assume assim as características de um poder simbólico, um arbitrário cultural cuja eficácia depende das estratégias discursivas, estruturada pelos agentes dominantes, tornando-se, a partir daí, estruturantes da situação social ao produzir pelo ato da sua enunciação a verdade do mundo social.

Por outro lado, nas eleições para governador de 2006, presenciamos a evocação da reinvenção do discurso construído nas eleições de 1965, mais que nesse momento passou a ser utilizado pelo candidato de oposição (grupo Sarney) Jackson Lago. Mais uma vez a ruptura com o passado transformou-se no foco central do discurso da ³Frente de Libertação na disputa ao governo do estado entre os candidatos Roseana Sarney e Jackson Lago. O passado (sarneyismo) foi associado pela Frente de Libertação, a obscuridade política, as mazelas sociais, a ineficiência administrativa, sua morte representaria a libertação das “almas cristãs,” sedimentado o caminho para um futuro de riqueza e prosperidade.

Este

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