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Um olhar para novas gerações Hans jonas

Por:   •  20/4/2018  •  7.164 Palavras (29 Páginas)  •  256 Visualizações

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Jonas afirma que a técnica só afetava a natureza de forma superficial, por isso, o agir humano não ocasionava consequências futuras. Portanto, o homem estava sempre no centro de preocupação das éticas anteriores, estas eram antropocêntricas, e preocupavam-se apenas com princípios éticos referentes às relações humanas. Além das éticas tradicionais serem antropocêntricas, elas eram também voltadas para ações imediatas, ficando presas ao aqui e ao agora. As consequências das ações não eram levadas em consideração, e por isso, deixadas ao acaso.

Portanto, Hans Jonas defende que as éticas anteriores estavam apenas para as relações do homem com seus semelhantes, por isso, era antropocêntricas. Além disso, era uma ética voltada para o presente, sem se preocupar com as consequências futuras do agir, o modo com as ações do presente iriam repercutir em meio às gerações futuras. Jonas defende que as ações humanas e o domínio da técnica ganharam dimensões maiores, consequentemente este agir terá maior repercussão e causará maiores efeitos no planeta, especialmente na natureza. Dessa forma, todos os pressupostos das éticas passadas deverão ser questionados e repensados, pois eles não são mais válidos e não são proporcionais às novas dimensões do agir humano. Assim uma nova ética demanda novos pressupostos. Essa nova ética, por isso, será uma ética da responsabilidade.

É dito por Hans Jonas que os antigos pressupostos, das éticas passadas criavam máxima do tipo: “ama teu próximo como a ti” ou “nunca trate teus semelhante como simples meio, mas sempre como fins em si mesmos”. Tais máximas só têm validade para os autores dessas ações e para aqueles que partilham o mesmo espaço e tempo que eles. A duração destas ações é um curto prazo de tempo. O alcance delas é um curto espaço. Assim, essas máximas tem o alcance restrito e limitado, tanto no espaço, pois, limita-se apenas a uma cidade, país ou continente; tanto no tempo, pois elas limitam-se apenas aos contemporâneos dos autores da ação.

Assim a qualidade de uma ação, ou boa ou má, é julgada dentro daquele espaço de tempo, sem serem levadas em consideração as consequências de tal ação. Algumas prescrições éticas ainda são válidas, para algumas situações imediatas e íntimas. No entanto, a ética ganhou uma nova dimensão de responsabilidade, devido ao novo alcance das ações humanas. Os danos causados a natureza nos revelam a sua vulnerabilidade e revelam também que a ação humana modificou-se “de fato”. Além disso, surgi um novo elemento que deve ser pensado pela ética, “toda a biosfera”. Somos responsáveis por ela, pois a esta biosfera está sujeita a ação do homem. Como é dito por Jonas, a biosfera é um objeto tão grande que os outros objetos, com os quais as antigas éticas se preocupavam, parecem pequenos se comparados a ela. É dito também, que se a preservação da natureza tem em vista o destino do homem, pois este não pode viver sem aquela, e destruí-la seria autodestruir-se, então, esse interesse ainda seria um interesse antropocêntrico, característico das éticas clássicas. Entretanto, há a diferença de que as ações do homem já não estão mais voltadas para o aqui e o agora, visando só o presente, mas elas visam espaços e tempos maiores.

Jonas diz que toda ética já pensada sempre foi não acumulativa. Agora há um componente acumulativo que deve ser levado em consideração. Pois as decisões que tomamos e as ações que praticamos, no presente, repercutirão no futuro. Por exemplo, se destruirmos a natureza agora, desmatando florestas, extinguindo espécies de animais e plantas e poluindo rios e oceanos, todo esse dano estará acumulado, e o futuro sofrerá consequências devido a ele. Da mesma forma sustentável, essas ações repercutirão de forma positiva no futuro, garantindo às próximas gerações um patrimônio natural bem preservado. Assim, nota-se que o efeito das ações vai se somando, de modo que nenhuma geração encontrará a mesma situação que as gerações anteriores, cada agir estará inserido em uma situação cada vez mais distinta, em relação às antecedentes.

As situações referentes aos vícios ou as virtudes, que eram preocupações das éticas anteriores, sempre recomeçam do zero. Por isso não são acumulativas. Por exemplo, quando um indivíduo nasce, não tem tanta influência se os indivíduos anteriores a ele foram corrompidos pelos vícios, pois para ele ser virtuoso não há uma dependência em relação às ações passadas. Entretanto, se um indivíduo nasce em um mundo onda as florestas foram quase todas destruídas e várias espécies extintas, ele terá de conviver com essa raridade.

A ética tendo esse componente acumulativo deve, portanto, voltar-se globalidade da vida, não só da humana, mais de toda forma de vida existente. Além do mais, deve preocupar-se com os efeitos a longo prazo das ações presentes. Jonas diz que a natureza é um bem a nós confiados, por isso, devemos preserva-lo, esse é uma exigência moral que devemos cumprir. Pois devemos considerar, não só as coisas humanas bens em si, mais também coisas extra humanas, a maior delas é toda a biosfera. Assim, a natureza deve ser preservada tendo em vista, primeiramente, seu próprio bem, pois ela é um bem em si. Caso contrário, se disséssemos que a natureza deve ser preservada tendo em vista o bem humano, estaríamos voltando aos antigos princípios antropocêntricos. Pois para Jonas nenhuma ética anterior, religião ou a ciência, colocaram a natureza como um bem em si.

Há uma superação do homem sapiens pelo homem faber, que é aquele que domina a técnica, essa técnica agora é objeto da ética, pois ocupa lugar central na vida do homem. Assim, a modificação na forma do agir provoca uma modificação na forma de política. A cidade se expande usurpando o espaço da natureza. O natural dá lugar ao artificial. Entretanto, os danos causados pela natureza podem culminar com a impossibilidade de que haja condições para que as futuras gerações existam. Assim, é um dever e também responsabilidade, garantir que haja condições para as futuras gerações existirem no mundo. Para isso é preciso que haja um mundo para elas.

Hans Jonas critica os antigos imperativos e propõe novos imperativos. São eles quatro, dois positivos e dois negativos, um deles diz o seguinte: “Aja de modo a que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana sobre a terra”; se expresso através de negação seria “Aja de modo que os efeitos de tua ação não sejam destrutivos para a impossibilidade futura de tal vida”. Esse imperativo nos permite refletir sobre as ações que praticamos no presente. Devemos agir com responsabilidade,

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