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ASPECTOS FILOSÓFICOS E SÓCIO ANTROPOLÓGICOS DO CONSTRUTIVISMO PÓS PIAGETIANO II

Por:   •  19/11/2018  •  3.476 Palavras (14 Páginas)  •  287 Visualizações

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Dito Isto como introdução, queria falar um pouco das teorias que, na história da Filosofia, chegaram até hoje e, agora no século vinte (mil novecentos e oitenta), são colocadas como teorias com relação à única coisa que nos Interessa no Construtivismo e na aprendizagem: a pessoa, a personalidade, se quiserem, o sujeito, o indivíduo. Estas são expressões que, às vezes, usamos como idênticas, mas elas não dizem a mesma coisa. Cada vez que usamos um termo desses devemos saber o seu conteúdo.

Há, portanto, a necessidade de percebermos que isso, ao qual chegamos hoje, é nada mais do que a tentativa de fazer com que Indivíduos que povoam o mundo, indivíduos que nos cercam, indivíduos pequenos, indivíduos adultos, devem ser pensados na sua capacidade de sobreviverem felizes, de sobreviverem num mundo em que o viver bem seja a regra geral. Ora, se aprendemos, não aprendemos para conhecer apenas. Aprendemos, fundamentalmente, para podermos viver bem, para podermos (traduzindo na expressão dos antigos) ser felizes.

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Se enumerássemos as teorias que, hoje, silo os paradigmas dos quais nos vêm novidades sobre os fundamentos do Construtivismo, poderíamos falar em três maneiras de pensar a subjetividade. Havia uma maneira de pensar a subjetividade cm que se dizia: O sujeito é o fundamento do conhecimento; não há conhecimento que se possa pensar sem um sujeito. Isso era geral, Isso era vago, Isso era abstrato e realmente assim passou para nós. Mas nós poderíamos dizer que, ainda que essa ideia de sujeito subsista, Já havia, embutido na palavra sujeito, um outro elemento que se repetiu multo, mas que só no século vinte efetivamente tomou uma nova dimensão: a palavrinha eu. O eu não tomou uma verdadeira carga de Importância a não ser a partir de certas teorias filosóficas no século vinte. Mas o eu é ainda abstrato. Por exemplo, há poucos anos atrás (dez ou quinze anos), a teoria predominante na Psicologia era a Ideia da comunicação. Era a Ideia de que os Indivíduos são, no fundo, pequenas máquinas que, através do núcleo do seu eu, se comunicam com os outros, emitem mensagens e recebem mensagens. Pensava-se como uma grande conquista na Psicologia. Ainda hoje muitos pensam Isso na Educação como uma grande conquista. Não tão grande assim porque tem o elemento abstrato, tem o elemento ainda não concretamente definido. Porque a nossa mente não é puramente um núcleo que contém um eu que se comunica com um outro eu. Nós não olhamos para aquilo que se põe entre os dois eus, nem olhamos o lugar em que cada um desses eus está situado. Este é, digamos, o defeito desse segundo paradigma, ao lado do sujeito: o paradigma do eu.

Qual seria o terceiro paradigma, que afirmo com tanta responsabilidade de ser a base, a novidade? Não podemos defini-lo com um termo. Podemos descrever esse terceiro elemento com o terceiro paradigma, que é a base filosófica, segundo penso, do Construtivismo.

Começo definindo esse paradigma da seguinte forma: ouvimos dizer que temos uma razão teórica e uma razão prática. Efetivamente, não temos razão teórica. Melhor, nós não temos razão. Não existe a razão. Essa é a convicção no finai do século vinte. Poderia trazer até vocês filósofos de muitos tipos e todos diriam a mesma coisa: Não existe razão porque razão é a fantasia de que temos dentro de nós um instrumento acabado, poderoso, que nos ajuda a argumentar, a discutir, a trazer razões, a nos defender, etc. Sabemos que razão é uma fantasia para quem não tinha nomes para chamar aquilo que acontece conosco. Portanto, não existe razão, não existe razão teórica e muito menos razão. Q que existe, efetivamente, é o modo de comportamento racional. Nós somos multo mais complexos do que uma razão como se imaginava. Temos modo de comportamento racional, e esse modo de comportamento racional pode ser com relação à Ciência, com relação ao comportamento, com relação a relações com os outros.

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Há muitos modos de proceder racionalmente. Não devemos mais Imaginar que podemos aperfeiçoar uma razão. Não existe razão para ser aperfeiçoada. Aliás, seria um luxo à toa, seria uma espécie de cristal que a gente guarda na cristaleira, e no primeiro dia que se pega na mão, cai no chão e quebra. Não existe uma razão para ser guardada na cristaleira. Somos seres obrigados a sobreviver, no chão, no dia-a-dia, no mundo concreto. Por Isso, não se educam razões para depois soltá-las no mundo. Tentem pegar uma criança e dar-lhe condições absolutamente perfeitas para formar a sua razão e soltem-na no mundo. Será atropelada pelo primeiro carro, assaltada pelo primeiro ladrão, será absolutamente Incompetente para sobreviver.

Portanto, o mito da razão está morto. É Importante aprender a proceder racionalmente, e o Construtivismo quer Isto. Proceder de maneira racional significa descobrir qual é o modo mais eficaz de sobreviver, não egoisticamente, mas de sobreviver com os outros e de sobreviver no mundo. Sobreviver não somente com ideias, mas sobreviver com relações éticas, com relações de ligação com os outros, de investimento afetivo e emocional com os outros. Aí está a racionalidade. Esta outra razão, ela existe hoje muito mais perfeita nos computadores e em todos os elementos que a informática nos põe à disposição.

Não existe razão teórica, não existe razão. Se alguém me pergunta: A razão está morta? Digo que está morta porque nunca existiu. Nós tínhamos a ilusão de poder falar em “faculdades" porque não sabíamos o que dizer. Hoje, nós sabemos. A ciência progrediu tanto que nós sabemos claramente as reações dos indivíduos, nós sabemos que aspectos podemos prever, nós sabemos que aspectos são surpreendentes em cada um, etc. Temos à disposição informações, temos à disposição saber. E esse saber é o que toma racional pessoas e toma racional coisas. Não existe razão pura. Leiam o livro que saiu, em português, há pouco tempo. Alguns de vocês viram o filme; mal traduzido, mas cm todo caso um filme fantástico: O enigma de Kasper Hauss. O enigma de Kasper Hauss e, talvez, o melhor resumo do que eu gostaria de dizer para vocês. Vale a pena vocês lerem pra ver como a razão não existe e como nosso modo de viver no mundo é multo diferente do que nós Imaginamos através desses dogmas.

Não somos cristais, não somos cristaleira e nem estamos guardados numa cristaleira, não temos faculdades prontas. Nós temos disponibilidades psicofísico-mentais, físico-biológicas, se quisermos neurobiológicas, nós temos um cérebro, que produziram essa coisa estranha que somos nós. Indivíduos, conscientes,

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