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Identidade e cidadania: representações sociais e políticas de emigrantes brasileiros na internet

Por:   •  24/10/2017  •  5.729 Palavras (23 Páginas)  •  511 Visualizações

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Nesse cenário, ocorre o favorecimento e o incentivo para que a cada ano mais pessoas

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busquem ultrapassar as fronteiras de seu país, a procura de novas oportunidades no exterior. Fatores como o elevado crescimento demográfico de países em desenvolvimento, mão -de- obra em excesso, pobreza e violação dos direitos humanos são apontados por Weber Soares (2002, p. 9) como efeitos desestabilizadores sobre a sociedade e com poder de conduzir à migração. Neide Lopes Patarra compartilha das ideias de Soares e aponta, ainda, para a representação contraditória entre os diferentes interesses dos grupos dominantes no mundo. De acordo com a autora (2006, p. 7), “há que se considerar que os movimentos migratórios internacionais constituem a contrapartida da reestruturação territorial planetária intrinsecamente relacionada à reestruturação econômica-política-produtiva em escala global”.

Diversos pesquisadores já analisaram os fluxos migratórios de brasileiros para o exterior. No Brasil, destacam-se os estudos de Neide Lopes Patarra, que identificou características interessantes desses emigrantes. Segundo a autora, os destinos escolhidos obedecem à características distintas. Os brasileiros que partem para os Estados Unidos geralmente são jovens, pertencentes à classe média, “que entram clandestinamente e se ocupam em trabalhos não qualificados que, ao contrário do que aconteceria em seus países de origem, propiciam-lhes um orçamento maior e a possibilidade de formar uma certa poupança” (2005, p. 27). O imigrante brasileiro nos Estados Unidos possui um perfil diferenciado dos demais imigrantes clandestinos. Patarra aponta que esses migrantes sujeitam-se a um

rebaixamento de status social com objetivo da recompensa financeira. 2

De um modo geral, o perfil dos emigrantes que se dirigem à Europa é semelhante ao dos que se dirigem aos Estados Unidos. No entanto, os emigrantes brasileiros na Europa teriam traços culturais envolvidos na decisão de migrar. Estão incluídas questões históricas e culturais “decorrentes do próprio processo migratório brasileiro que (...) caracterizava-se como receptor de população, com predominância dos fluxos provenientes de Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, entre outros” (PATARRA, 2005, p. 27). Nesse contexto, também soma-se a emigração de mulheres que para lá se dirigem para trabalhar em atividades de lazer, domésticas ou prostituição. Também destaca-se a crescente saída de jogadores de futebol para atuarem em times europeus. No entanto, de acordo com Patarra (2005), a emigração de brasileiros não se trata de “levas” ou de uma “diáspora brasileira”, pois os dados apontam para a hipótese da circularidade.

As migrações internacionais envolvem um contexto de multiculturalismo, de

confronto de identidades. Como explica Stuart Hall (2009, p. 72), “... as pessoas geralmente[pic 2]

2 Nos últimos tempos, nota-se que a perspectiva dessa realidade mudou, principalmente pela queda do valor do

Dólar em relação ao Real. Inclusive, muitos brasileiros estão retornando à terra natal.

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são obrigadas a adotar posições de identidades deslocadas, múltiplas e hifenizadas”. O “brasileiro-e-americano”, ou o “ítalo-brasileiro” (como são chamados os brasileiros com cidadania italiana), por exemplo, transitam por diferentes esferas identitárias de fronteiras móveis. Surge o hibridismo cultural, do qual falam autores como Hall (2009) e Garcia Canclini (2003), cujo processo é marcado por uma revisão de referências.

Contudo, não podemos esquecer que a identidade de cada emigrante é também uma identidade marcada pela contraposição. Autores como Kathryn Woodward (2005, p. 9) falam que “a identidade é marcada pela diferença, (...) é relacional”. Como identificamos na pesquisa realizada para a dissertação do mestrado (ROSSA, 2010), o confronto com os italianos faz com que os brasileiros percebam-se “mais brasileiros” na Itália. A questão da identidade nacional é fundamental para a realização deste estudo, pois é ela um dos fatores de união entre os brasileiros que hoje vivem no exterior.

Hall diz que uma das principais fontes de identidade cultural são as ident idades nacionais. Funciona como se algo estivesse gravado em nosso DNA. De acordo com o autor (2005, p. 47), as culturas nacionais produzem sentidos sobre “a nação” e, assim, constroem identidades. A identidade nacional é formada através das estórias que são contadas sobre a nação, das memórias que ligam seu passado e das imagens que dela são construídas.

As identidades nacionais são representações de uma comunidade simbólica, a nação. “As pessoas não são apenas cidadãos/ãs legais de uma nação; elas participam da ideia da nação tal como representada em sua cultura nacional” (HALL, 2005, p. 49). Essa cultura busca a unificação da identidade nacional, mesmo que seus membros sejam diferentes em termos de classe, gênero ou etnia. Eles precisam de algo para representá-los como sendo todos pertencentes a “mesma grande família nacional” (HALL, 2005, p. 59).

Renato Ortiz diz que as identidades nacionais diferenciam-se umas das outras pela sua dimensão interna. Para o autor (1994, p. 7), “dizer que somos diferentes não basta, é necessário mostrar em que nos identificamos”. No caso do Brasil, existe uma série de elementos formadores da identidade nacional, marcada por diversas simbologias e constituída ao longo da história do país.

Dessa forma, mesmo que os brasileiros venham a viver fora do país, a cultura nacional permanece, ou seja, mantém-se a identidade nacional. O sentimento de pertença à nação continua, assim como o desejo de usufruir os direitos de “cidadão brasileiro”.

Cidadania e espaço público

Não é possível pensar na manutenção da identidade nacional sem o cruzamento com

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questões voltadas à cidadania. O pertencimento à uma nação está ligado à sustentação dos direitos e deveres dos seus cidadãos. Atualmente, discutem-se as mudanças relacionadas às políticas de cidadania, principalmente

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