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Fichamento Reconstruindo uma História Esquecida: Origem e Expansão Inicial das Favelas do Rio de Janeiro.

Por:   •  27/3/2018  •  2.466 Palavras (10 Páginas)  •  561 Visualizações

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a dois focos de tensão que afetaram o Rio de Janeiro no final do século XIX: a crise habitacional e as crises politicas. Devido a Revolta da Armada, o governo vinha enfrentando problemas de alojamentos de soldados no Rio de Janeiro. Para resolver a situação, ordens foram expedidas autorizando a ocupação do convento de Santo Antonio, localizado no morro do mesmo nome. Não havendo acomodações suficientes, permitiu então a construção de diversos barracões de madeira numa das encostas desse morro.

Há indícios que em 1893/1894, começaram a ser construídos barracões no morro da Providencia. L. Afirma-se que após a demolição do cortiço Cabeça de Porco (responsável por abrigar mais de duas mil pessoas), que se situava no sopé desse morro, um de seus proprietários autorizou a ocupação da mesma. Não há provas que houve autorização militar para que soldados retornados da Revolta de Canudos pudessem ocupar as encostas do morro.

Foi necessário que a imprensa denunciasse, em 1901, que estava surgindo um novo bairro, construído sem licença das autoridades municipais, em terrenos do estado, perfazendo-se 150 casebres. O impacto da denúncia chegou até o prefeito Xavier da Silveira que se dirigiu imediatamente ao local e descobriu a existência de 400 casinhas que não havia condições precárias de habitar pessoa alguma. Os militares, sendo os primeiros habitantes dos morros, haviam de lucrar com a venda de casebres, algo que só se intensificaria com o tempo. Com todos esses fatores, o poder público ordenou a destruição de todas casas.

A imprensa forneceu um quadro dramático da situação. As ordens de despejos foram fixadas nos portões dos prédios a serem demolidos e definiam prazos extremamente curtos para sua total evacuação. Expulsa de suas próprias residências, a população tinha de resolver rapidamente suas situações, optando a saída por subúrbios. Parte da população não tinha dinheiro para o transporte, se submetendo a apinhar-se em habitações coletivas pagando altos alugueis.

A expansão da favela pelo tecido urbano carioca teve inicio durante a reforma urbana. Terminada a reforma, os jornais se dão conta que a fisionomia do Rio não era dada apenas às amplas avenidas ou novos edifícios. Não muito longe desse símbolo de progresso, uma quantidade apreciável de barracos, verdadeiras negações da modernização urbana, havia se incorporado a paisagem da cidade. A expansão rápida de uma forma urbana inusitada, recuperava parcialmente o processo de difusão espacial da favela.

Em 1907 o processo foi claramente identificado pelo Correio da Manhã, que para os banidos da área central da cidade, havia lhe restado as “montanhas agasalhadoras”. Não se pode identificar corretamente a data em que diversos morros do Rio passaram a se favelizar. No curto espaço de dez anos surgem

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diversas favelas na paisagem carioca. A partir da década de 1920, a expansão de favelas torna-se multidirecional e incontrolável.

Logo começaram a ocorrer uma série de crimes, não diferentes aos da área central da cidade, mas que se distinguiam pela localização exótica do aglomerado e ao difícil a acesso em função as características do local, a ida da polícia ao morro geralmente se revestia de um caráter verdadeiramente militar. Em 1902, o morro da Providencia já é visto pela imprensa como “uma vergonha para uma capital civilizada”. Não há como saber se foi a voz popular ou a voz burguesa que acabou dando a esse morro uma imagem de “perigoso sitio”. A verdade, entretanto, é que a favela se associou a imagem de perigo, crime e descontrole.

Outro fato que agravou a má fama do morro da Providencia foi a concentração de distúrbios sérios durante a Revolta da Vacina. O período da reforma urbana tirou o morro da favela dos noticiários. No que diz respeito a habitação popular, a imprensa tratava de chamar a atenção para o agravamento do problema de moradia e para urgente necessidade de o governo adotar uma política de construção de casas operarias.

Numa sociedade recém-saída da escravidão, era inevitável que as favelas e sua população, na maioria constituída de população negra fossem identificadas como símbolos de “atraso”. Principal responsável pela difusão dessa imagem negativa, a imprensa da época apresentava também, contraditoriamente, que a favela tinha também fases positivas.

Lugar de criminosos, mas também de trabalhadores, lugar onde se mora mal mas também se mora barato, lugar insalubre mas que é mais saudável do que as opções que se oferecem aos pobres da cidade legal. A favela vai assim, assumindo imagens contraditórias e permanecendo na paisagem carioca.

No relatório que escreveu no auge da “era das demolições”, Backheuser afirmava que a política de habitação popular a ser adotada pelo governo deveria dar resposta imediata a três questões: a salubridade, a barateza e a proximidade do trabalho. Apesar das advertências, as questões foram ignoradas e o governo não adotou qualquer politica de construção de casas populares, alegando ver nisso uma “perigosa investida no socialismo”, e a iniciativa capitalista jamais demonstrou qualquer interesse em participar desse mercado.

A permanência das favelas não esbarrava nos interessas do capital, ainda assim, beneficiando-se garantindo mão de obra para a indústria, atividades de construção civil e para a prestação de serviços. Embora teoricamente a permanecia das favelas tenha sido um processo tranquilo, a paisagem carioca foi pontilhada por inúmeras vitorias e derrotas, tendo como exemplo a primeira favela do Rio de Janeiro: o morro de Santo Antonio que, foi removido em 1901 e durante a reforma urbana, retomou o mesmo local.

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Estimuladas pelo crescimento demográfico da cidade e pela ausência de uma política habitacional oficial, as favelas não só multiplicaram como adensaram-se. Visto isso, 1920 pode ser considerada como a década da afirmação definitiva das favelas na paisagem carioca. As mudanças culturais sacudiram o pais nessa época evidenciadas pela eclosão do movimento modernista, também contribuíram para permanecia da favela.

Na busca por novas possibilidades culturais, o modernismo não apenas defendia a adoção de uma estética nova, que afrontava os padrões culturais vigentes, como enfatizava a necessidade de libertação da dominação cultural estrangeira. Resultado desse movimento,

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