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Fichamento Os princípios de um novo urbanismo

Por:   •  23/9/2018  •  6.765 Palavras (28 Páginas)  •  335 Visualizações

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As formas das cidades, sejam projetadas, sejam resultantes mais ou menos espontaneamente de dinâmicas diversas, cristalizam e refletem as lógicas das sociedades que as acolhem. Hoje o urbanismo necessita, portanto, de uma compreensão fina da lógica que se estabelece na sociedade contemporânea.

É difícil datar o aparecimento dos ‘’tempos modernos’’ que se instalaram progressiva e diferencialmente em diversos países do Ocidente europeu e da América. De fato, é mais correto falar de ‘’modernização’’, pois a modernidade não é um estado, mas um processo de transformação da sociedade.

A modernização resulta da interação de três dinâmicas socioantropológicas, cujos traços podemos reconhecer em diversas sociedades, mas que ao entrar em ressonância durante a Idade Média produziram as sociedades modernas: a individualização, a racionalização e a diferenciação social.

Esses três processos alimentam-se reciprocamente e produzem sociedades cada vez mais diferenciadas, formadas por indivíduos simultaneamente mais parecidos e mais singulares, com possibilidades de escolha mais complexas.

Se a modernidade não é um estado, a modernização tampouco é um processo contínuo, sendo possível distinguir três grandes fases.

A primeira fase cobre aproximadamente o período qualificado como tempos modernos e abarca do fim da Idade Média ao começo da revolução industrial. Ela testemunha a transformação do pensamento do lugar da religião na sociedade, a emancipação da política e a emergência do Estado-nação, o desenvolvimento das ciências e a expansão progressiva do capitalismo mercantil e, logo a seguir, do industrial.

A segunda é a fase da revolução industrial, que assiste à produção de bens e serviços, subordinada, em grande medida, às lógicas capitalistas; o pensamento técnico ocupando um lugar central na sociedade e a constituição do Estado do bem-estar.

A cada uma dessas épocas corresponderam modos de pensamento e criação, figuras dominantes, concepções do poder, representações da sociedade, critérios de eficácia, formas de organização e, certamente, princípios e modos de concepção e organização do território.

A primeira modernidade produziu uma verdadeira revolução urbana. A cidade medieval deu lugar a uma cidade clássica na qual o novo poder do Estado aparece em cena de forma monumental e se apresenta traçando avenidas, praças e jardins urbanos que cruzam e dividem as ruelas, aleias e hortas, recuando e transformando as muralhas, redefinindo e separando o público do privado, os espaços interiores e exteriores, definindo funções, inventando calçadas e vitrines.

Esta primeira cidade é moderna porque é concebida racionalmente por indivíduos diferenciados e porque é projeto, ela cristaliza a ambição de definir o futuro, de ser o marco espacial de uma nova sociedade; ela é o desenho de um desígnio.

A segunda revolução industrial começou com o enorme crescimento demográfico nas cidades, acarretando um crescimento espacial acelerado, gerando, ao mesmo tempo, uma grande pauperização de uma parte das populações urbanas. É nesse contexto que emergem progressivamente novas concepções de cidade, marcadas fundamentalmente pelas mesmas lógicas que regiam o mundo industrial dominante. O urbanismo (que aparece na virada do século 19 para o século 20) aplica, no campo da organização das cidades, os princípios estabelecidos na indústria. A noção da especialização (sistematizada na indústria pelo taylorismo) sob a forma de zoneamento será mais tarde, por Le Corbusier e a Carta de Atenas, levada ao extremo. Com o desenvolvimento dos transportes coletivos e bondes, formaram-se bairros residenciais de alta renda e bairros industriais para fábricas e operários. Mais tarde, o automóvel individual e os eletrodomésticos inscreveram o fordismo, quer dizer, o sistema combinado da produção e do consumo de massa. O desenvolvimento do Estado do bem-estar e de diversos serviços públicos contribuiu igualmente na estruturação das cidades. Os poderes públicos foram levados a atuar cada vez mais tanto no campo do urbanismo quanto no campo econômico-social. Foi criada, assim, toda ordem de estruturas e procedimento para ‘’planejar’’ mais racionalmente as cidades. As cidades e o urbanismo conheceram, assim, uma verdadeira revolução para chegar a um urbanismo fordista-keynesiano-corbusiano, expressão de uma racionalidade simplificadora com seu planejamento urbano, seu zoneamento monofuncional, suas armaduras urbanas hierárquicas, adaptado à produção e ao consumo de massa em centros comerciais, suas zonas industriais e sua circulação acelerada e uma materialização também do Estado do bem-estar com seus equipamentos coletivos, serviços públicos e habitações sociais.

Esta segunda revolução urbana não eliminou totalmente as cidades preexistentes, apesar de ter sido bastante radical em alguns países, como na capital francesa com a destruição massiva de Haussmann. Dessa forma, mais uma vez as cidades comprovaram sua capacidade de sedimentar diferentes camadas de sua história, funcionando como palimpsestos, esses pergaminhos que não mudam, mas que acolhem sucessivamente escritas diversas.

A casa uma das suas primeiras fases da modernização, correspondeu uma mudança profunda na maneira de conceber, produzir, utilizar e gerir, de maneira geral, os territórios e, particularmente, as cidades.

capítulo 2 . a terceira modernidade

- uma sociedade mais racional, mais individualista e mais diferenciada

[a modernização reflexiva]

A modernidade sempre foi objeto de reações hostis de todo tipo. Há uns trinta anos, a crítica assumiu uma nova forma, denominada pós-moderna. Esse movimento chama a atenção pelas mudanças em curso. Todavia, estas mudanças não anunciam e nem apontam o fim da modernização, mas ressaltam, porém, o fato de que a sociedade moderna se libera de um racionalismo que se tornou demasiado simplista e de suas certezas. De certa forma, estamos nos tornando verdadeiramente modernos e de uma forma cada vez mais rápida.

A racionalização, que é um dos três processos de base da modernização, prossegue marando, cada vez mais profundamente, todas as ações individuais e coletivas. Ela conduz a uma reflexão constante sobre a vida social moderna, dessa forma, não se trata mais de simplesmente mobilizar conhecimentos prévios a certas ações, mas examinar permanentemente as escolhas possíveis e reexaminá-las em função daquilo

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