“NELL” (1994): UM OLHAR DA PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA DE VIGOTSKI
Por: Evandro.2016 • 22/10/2018 • 2.592 Palavras (11 Páginas) • 375 Visualizações
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Jerry buscou dessensibilizar Nell oferecendo pipoca para a moça cada vez mais distante da casa dela. A partir disso a jovem chegou à parte exterior de sua casa e começou a dançar, assim como fazia durante a noite. Seguiu-se uma cena em que a menina correu até a floresta e se divertia a cada vez que Jerry e Paula a perdiam e buscavam encontrá-la. Nessa brincadeira, Nell levou os médicos até a “Mii”, uma caveira com flores no lugar do olho, como a mãe da jovem encontrada morta em casa. A partir disso os médicos inferiram que Nell seria a sobrevivente de irmãs gêmeas idênticas, o que explicaria o gesto repetitivo frente ao espelho.
Os garotos que a viram comentaram em um bar sobre a situação atípica presenciada na floresta. Um jornalista que ali estava se interessou na história e decidiu ir até ela para obter uma reportagem da menina tida como selvagem. O jornalista abordou Nell, que mostrou resistência, e, no momento em que ele tentou tirar uma foto dela, a moça se assustou com o flash e gritou. Jerry interveio e começou a bater no rapaz que acabou descobrindo o nome dela.
Depois de uma discussão, Jerry e Paula decidiram levar Nell para a cidade, para ver a sua reação frente àquilo que os pesquisadores mais temiam que ela entrasse em contato direto. Fizeram um percurso de carro e em dado momento, uma criança mostrou a língua para Nell, que repetiu a ação como o menino, fazendo-o chorar. Durante o passeio os pesquisadores encontram Tedd e Nell passou a interagir com a mulher do policial, que a pergunta “você está assustada?” e Nell se esforça para questionar a mesma coisa para ela, estabelecendo-se uma troca de olhares entre as jovens, representando certa identificação entre elas.
Visitando o mercado, Nell começou a pegar uma grande quantidade de coisas e a colocá-las no carrinho, o que deixou os pesquisadores surpresos. Em um momento, eles começaram a conversar e se deram conta de que Nell não estava mais presente no estabelecimento. Ela saiu pela cidade e entrou no bar em que o homem que a viu estava, e começou a se comportar de forma sarcástica e fazendo menções a um possível abuso contra Nell. Quando ele a pediu para mostrar os peitos, ela inocentemente o fez, sendo este o momento em que Jerry a encontrou. Depois de discutir com os meninos do bar, retirou a jovem dali, a protegendo da exposição. Com a dificuldade de explorar o assunto com ela, os pesquisadores dão para Nell um livro sobre sexo, a fim de que a partir das imagens ela compreendesse o sentido que levou Jerry a dar esse livro para ela.
A notícia de uma menina selvagem vivendo na floresta foi publicada e os pesquisadores discutiram pensando se seria necessário retirá-la do local para evitar a exploração midiática e de curiosos frente a seu caso. Ao mesmo tempo que o policial levou a notícia para os pesquisadores chegou um helicóptero da imprensa, deixando Nell assustada. Todos tentaram proteger Nell e fugiram com ela, tendo o hospital como primeira opção.
Ao chegar no hospital Nell teve um ataque de pânico, resistindo com o próprio corpo para não estar ali. A jovem viu a gêmea dela em uma sala, ainda que na materialidade não houvesse nenhuma criança ali, se soltou e correu até ela, batendo com o corpo no vidro. Após sua chegada passou a manifestar um comportamento similar às primeiras cenas, sem emitir nenhuma palavra e por vezes, batendo a cabeça no vidro. O que Jerry e Paula identificaram como um retrocesso por estarem em uma realidade distinta, os outros pesquisadores identificam como autismo.
Sem vislumbrar outra opção, Jerry fugiu com ela do hospital e a levou para um pequeno apartamento na cidade. Ela permaneceu sem falar qualquer palavra, pensando em uma cena em que uma das gêmeas entra na água e não volta. Enquanto Nell estava deitada dormindo, Paula foi até o apartamento e fez um movimento similar ao de Nell para acalmar Jerry que se lembrava que no dia seguinte deveria levá-la ao tribunal para um novo parecer. Ao reconfortar o médico, Paula o beija e os dois se deitaram com Nell.
No tribunal iniciou um embate entre o pesquisador e Jerry sobre o futuro da moça, até que ela mesma passou a discursar sobre sua própria história, tendo como tradutor o médico que considerava seu amigo. A menina falou sobre como a civilização ocidental crê ser a dona do saber, e de fato sabem sobre muita coisa, mas ao mesmo tempo não sabem sobre tudo. Nesse sentido, expõe que ela não deveria estar sob tutela, não deveriam decidir e nem temer pela menina, ela, senhora de sua vida, em suas tristezas, medos e alegrias é que deveria se guiar. O filme termina com tal consideração se concretizando, em que Nell vive sua independência e liberdade de escolha, brincando com a filha de Jerry e Paula, ensinando à menina seus costumes na floresta.
Análise
Considerando a temática do filme como tangencial à função da linguagem e cultura, a teoria sócio-histórica de Vigotski fornece grande aparato para análise. Conforme as preposições de tal autor, pensar o desenvolvimento dos processos tipicamente humanos é necessariamente apontar as mediações sociais e históricas na qual esse homem se insere (LURIA, 2016). Em Nell, coloca-se em voga a seguinte questão: “deve-se civilizar uma pessoa selvagem sem o desejo da mesma?”. É perceptível a consideração etnocêntrica que envolve esta problemática, vez que desconsideram a possibilidade cultural da jovem, categorizado-a pejorativamente como não-civilizada.
Em se tratando da relação da menina com a linguagem tem-se que, segundo a análise dos pesquisadores retratados no filme, ela teria alguma deficiência intelectual, autismo, e outros rótulos possíveis. Levanta-se a possibilidade de estudar os limites do inatismo no homem, vez que ela não teria ainda sido “socializada”. Não obstante, é deixada de lado a forma com a qual a moça já se comunicava, demonstrando como a linguagem e a própria cultura foram introduzidas para ela, a partir de sua mãe que era afásica.
Na direção contrária dessa avaliação, os pesquisadores, em seus primeiros contatos com Nell dão a entender que a garota se localizava em um estágio primitivo do desenvolvimento, bem como Vigotski (1989) que propõe como primeva a incidência de um discurso pré-intelectual e ao pensamento pré-verbal, para então haver a posterior convergência entre tais funções. No entanto, durante o desenrolar da própria trama se torna perceptível que Nell não diz sons destituídos de significado, mas que a aquisição dos significados foi transmitida pela mãe, o que a diferenciaria apenas no modo de falar o inglês. Desse modo, tem-se que na história de vida da menina esta
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