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Em defesa da famila tentacular

Por:   •  10/6/2018  •  1.610 Palavras (7 Páginas)  •  310 Visualizações

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2 A FAMÍLIA E A CRISE ÉTICA CONTEMPORÂNEA

A transformação da família ocidental, causadora de sofrimento e desamparo, tem sido apontada como responsável pela crise ética cultural burguesa, principalmente acerca do comportamento das crianças e adolescentes. Segundo Roudinesco, E. (2003), a família que está em desordem é a nuclear contemporânea, herdeira da família vitoriana.

Entretanto, o passado idealizado da formação familiar tradicional representa um abrigo diante do desamparo que enfrentamos atualmente. A família que foi duramente criticada nos anos 1960 com a onda de amor livre e liberdade sexual e do emergir dos movimentos sociais que envolvem questões de sexualidade e gênero, hoje é reivindicada pelos próprios grupos sociais marginalizados que a criticavam. Isso vai desde a exigência pelo reconhecimento legal de casais poligâmicos até a necessidade de adoção de crianças por casais homossexuais, para constituírem uma família “normal”. A família mudou, mas continua buscando o mesmo ideal.

Hoje em dia a família nuclear é mais idealizada do que nunca, criando uma dívida impagável sobre os membros das famílias desviadas desde modelo. A indústria cultural se alimenta dessas idealizações a partir da romantização exacerbada da família nuclear. Isso envolve tanto simples comerciais de margarina genéricos quanto as toneladas de filmes produzidos em massa que idealizam a vida perfeita do casal perfeito que forma uma família perfeita.

3 AS FUNÇÕES FAMILIARES INSUBSTITUÍVEIS

A demanda por direitos constitucionais de casais homossexuais revela a procura pela reprodução dos papéis familiares tradicionais, mas não mais necessariamente, desempenhados pelas pessoas que correspondiam antigamente a essa função. Alguém tem que suprir a necessidade da função paterna e amorosamente da função materna. A família estruturará edipicamente o sujeito. O desejo que constitui a criança é o “desejo do outro” para se tornar um ser de linguagem.

A criança vai “se sexuar” como macho ou fêmea a partir do atravessamento edípico. Segundo Lacan, a identidade de gênero se afirma no campo da linguagem e não do corpo. Interdição do incesto e sexuação são os principais papéis da família na constituição do sujeito.

Existe uma relação da dissolução da família patriarcal e uma “dissolução dos costumes”. Essa relação se dá de duas formas: No sentido público ao privado, trata-se de quando os valores aprendidos pelo sujeito na família correspondem a ideais importantes para o desempenho de papéis na vida pública. A dissolução dos espaços públicos e vigência de uma ética de consumo, ao invés de uma ética de produção, são os grandes responsáveis pela desmoralização da transmissão familiar dos valores e não o contrário. No sentido privado ao público, trata-se das dificuldades dos pais e mães de sustentar sua posição de autoridade responsável causadas justamente pelo peso da dívida para com a família patriarcal que impede os adultos de legitimar suas funções no âmbito familiar.

Ainda há um descompromisso com as tradições, mas a tradição recalcada retorna ainda com mais força para determinar a vida social. A cultura que nos incita a agir diferente de nossos pais é insuficiente para legitimar as novas configurações familiares, mas também não chega a oferecer o ideal familiar de felicidade dos nossos avós. Assim os pais de hoje em dia ficam desamparados sem a sustentação simbólica da autoridade ilógica tradicional. É a geração do “porque sim não é resposta” sem saber o que fazer sem o poder do “porque sim”.

Limites são impostos pelos pais por conta e risco. Por um lado é bom, pois proporciona liberdade de invenção para os pais. Por outro lado aproxima perigosamente dos caprichos ilógicos dos adultos. A família tradicional pode servir como referência para tamanho desamparo. Em outras palavras o desamparo pode resultar (já está resultando) num reacionarismo patológico de relações interpessoais. Deste lugar mal sustentado é possível também que os adultos não compreendam seus papéis de autoridade como genitores que não só autoriza, mas depende da responsabilidade dessas pessoas. O problema da família que se identifica como desestruturada é principalmente a omissão dos pais aos filhos. Dado que ter um filho hoje em dia demanda auto investimento narcísico (até porque é um indivíduo que vai levar o legado de sua família a diante), os pais têm medo de errar, ninguém se arrisca a contrariar os desejos de uma criança.

Essa autoridade tem que ser exercida através da convicção, sem necessidade de ameaças ou chantagens. Não praticá-la é colocar as crianças em estado de abandono. Mas não abandono amoroso, pois não falta amor, falta um ícone de responsabilidade. O abandono mais recorrente entre as crianças mimadas é o abandono moral. Este não se trata de desestruturação (pais separados, pais jovens, pais sozinhos, pais ausentes, etc.), mas quando o adulto responsável não banca sua diferença diante das crianças.

Mas todos os papéis familiares são substituíveis. O que é insubstituível é o olhar adulto sobre uma criança, desejante da felicidade dessa criança. É o desejo do adulto de dar a esse pequeno ser, limites a

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