Capitulo 1 livro psiquiatria Dinâmica
Por: Juliana2017 • 18/12/2018 • 3.208 Palavras (13 Páginas) • 352 Visualizações
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Apesar da aparência de que o ego é apenas um resultado das forças do id e do superego, essa instância tem suas próprias características adaptativas e autonômicas. O ego desempenha varias funções sem influência das outras instâncias, essas incluem o pensamento, aprendizado, percepção, controle motor, linguagem e etc. Hartmann diz que há a existência de uma área egóica livre de conflitos, e, é por meio dessa neutralização de energias sexuais e agressivas que é possível a adaptação de mecanismos que são primariamente instintivos e do id, para tornarem-se secundariamente autônomos ou adaptativos de forma consciente e, logo, do ego. Integrando mais ainda essa autonomia do ego, David Rapaport (1951) e Edith Jacbson, aperfeiçoaram essa proposta de Hartmann, incluindo essa perspectiva para a própria análise clínica, dizendo que também é necessário um aprofundamento das funções, forças e fragilidades egóicas. Ballack e colaboradores (1973) sistematizaram as funções do ego, de forma que pode ser usada tanto em pesquisas quanto na avaliação clínica.
TEORIA DAS RELAÇÕES DE OBJETO:
“O ponto de vista da psicologia do ego é que os impulsos (sexuais e agressivos) são primários, enquanto as relações de objeto são secundárias” (p, 37/39). Vale lembrar que o termo objeto não está apenas se referindo a apenas itens físicos, mas também há a adição de pessoas e até todo o conjunto de relações interpessoais. A teoria das relações de objeto defende outra perspectiva, propondo que o impulso surge no contexto de uma relação, e não propriamente apenas de uma maneira interior. Nessa perspectiva é possível analisar que há uma transformação das relações interpessoais em representações internalizadas das mesmas.
As representações internas são separadas de dois modos: self (a pessoa) e o objeto (o mundo externo). Dessa forma, também há uma perspectiva antagônica de positividade ou negatividade, de modo que o individuo irá fazer essa classificação de acordo com a própria relação entre as duas partes (self-objeto). Exemplos: amor e experiência positiva são formados nos períodos em que a criança está sendo amamentada. Há uma internalização dessa experiência, de forma que o self (a criança sendo saciada pela amamentação) seria bom, e há uma experiência também positiva do objeto que está dando contexto a essa situação (a mãe atenta e que a cuida) gerando, por fim, prazer e
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saciedade. De forma contrária, também é possível exemplificar que, no caso da mãe não estar disponível, ela irá gerar uma experiência negativa, tanto do self (a criança frustrada e solicitando o alimento) quanto do objeto (a mãe não disponível), gerando então fome e raiva.
É importante ressaltar que o objeto que foi internalizado (introjetado) não necessariamente é, de fato, o que ele representa na realidade, podendo haver então uma criação de preconceitos ou até conceitos fantasiosos que, por fim, serão introjetados como uma verdade. O conflito inconsciente também não funciona da mesma forma da psicologia do ego. Nessa perspectiva relação-objeto o conflito não é apenas uma luta constante entre o impulso e as defesas morais, “ele também é um choque entre partes opostas de unidades de relações de objeto internas” (Kernberg, 1983; Ogden, 1983;
Rinsley 1977 apud p,38/40), ou seja, além do conflito id-superego, haverá uma internalização de experiências (positivas ou negativas) do self e também de experiências com os objetos do mundo externo.
Com essa proposição de relações objetais influenciando ou até desenvolvendo a psique humana, foram criados vários conceitos importantes que agregam valor a psicodinâmica:
Conceitos de Melaine Klein: Posição esquizoparanóide e depressiva (Criação e uso dos mecanismos de dissociação do ego, projeção, cisão e identificação, a partir das primeiras relações que um individuo tem).
Conceitos de Winnicott: Mãe suficientemente boa (Caracteriza as exigências mínimas ambientais necessárias para a criança ter um desenvolvimento normal – lembrando que a palavra mãe está relacionada a um significado de papeis parentais, e não, necessariamente, um fator feminino e biológico ligado à pessoa).
Conceitos de Balint: Falha básica (Caracteriza o sentimento de que „algo está faltando‟ como uma falta de uma mãe suficientemente boa, ou até que a mãe tivesse falhado em proporcionar experiências de afeto e amor).
Conceitos de Fairbairn: De forma mais crítica, este autor irá se afastar mais ainda da teoria dos impulsos, considerando então que a “etiologia das dificuldades de seus pacientes esquizoides” não vem das frustrações de suas pulsões, mas sim de uma “falha de suas mães em proporcionar experiências que lhe dessem a certeza de que eram amados pelo que eram” (p,40/42). Ele acreditava que “os instintos ou os impulsos não buscavam prazer, mas sim um objeto” (p,40/42).
PSICOLOGIA DO SELF
“Enquanto a teoria das relações de objeto enfatiza as relações internalizadas entre representações do self e do objeto, a psicologia do self enfatiza como as relações externas ajudam a manter a auto-estima e a coesão do self” (p, 45/47). O principal autor dessa linha teórica será Heinz Kohut (1971, 1977, 1984), em sua teoria ele relaciona o paciente com um estado de necessidade desesperada de certas respostas das outras pessoas que irão servir para a manutenção de um sentido de bem-estar e integração do self.
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Após ter verificado que alguns pacientes com traços narcísicos não poderiam ser encaixados no modelo estrutural da psicologia do ego, Kohut irá observar e desenvolver dois tipos de transferência, que os seus próprios pacientes utilizam: a especular e a idealizadora.
Na transferência especular, o paciente transfere para um objeto externo uma busca de respostas de confirmação ou validação. Nesse fenômeno também pode ser observado um aspecto de self grandioso ou exibicionista.
Na transferência idealizadora, o paciente atribui uma perfeição a algum objeto/imago, cuja presença e a transferência do afeto protegem o self de desfragmentação.
Portanto na perspectiva de Kohut, um estado narcisista do self é algo que irá integrar a construção e desenvolvimento do self. Ao contrário do que Freud aborda, teorizando que há uma necessidade
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