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Intituto nacional da seguridade social

Por:   •  8/11/2017  •  5.186 Palavras (21 Páginas)  •  522 Visualizações

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Isaías é um garoto mulato, que vivia no interior do Rio de Janeiro. Ele tinha uma imensa admiração pela inteligência do pai e pela simplicidade de sua mãe. O menino pobre fugia dos brinquedos e de grandes grupos de crianças, no entanto, tinha uma enorme energia para com os estudos. Uma de suas professoras o admirava por isso, o que fomentava ainda mais sua vontade de estudar. Ele sentia a necessidade de ser alguém diferente, que para ele, seria se tornar doutor. Para realizar seu sonho, Isaías precisaria se mudar para o Rio de Janeiro, onde teria mais oportunidades.

O jovem decidiu partir para a capital, e seu tio Valentim foi quem o incentivou nessa decisão, indo imediatamente com seu sobrinho à casa do Coronel Belmiro para pedir a este, que escrevesse uma carta recomendando o sobrinho ao doutor Castro, uma pessoa que Valentim já conhecia e que poderia ajudar Isaías no Rio.

Com a carta Isaías partiu para o Rio de Janeiro, com o intuito de estudar medicina. Seus primeiros dias na cidade foram cercados de preocupações. Sem conseguir falar com o Dr. Castro, ele preocupava-se com o dinheiro que logo mais faltaria. Alguns dias depois, consegue falar com o Dr. Castro, mas no fim, descobre que ele não quis fazer nada para ajudá-lo. Mais uma vez, Isaías se preocupa com a miséria que pensava estar esperando por ele.

Sem dinheiro, Caminha começa a passar por dificuldades. É obrigado a vender seus livros e suas melhores roupas para pagar as diárias de um cômodo onde estava hospedado e se alimentar. Ao escrever à sua mãe, conseguiu que ela o mandasse algum dinheiro, porém, após algum tempo, ela acaba se adoentando e vem a falecer. Isaías recebe a notícia da morte de sua mãe e tem apenas uma leve e passageira dor.

Além de estar na miséria, Isaías Caminha também passa por muitas humilhações, chegando a ser acusado de um roubo no hotel em que estava hospedado.

Por meio do jornalista Gregoróvitch, a quem é apresentado, o jovem começa a trabalhar no jornal “O Globo”, onde exerce a função de contínuo. Porém, com o salário que recebe, consegue apenas manter suas principais necessidades. Com isto, ele vai abandonando seus sonhos, se dedicando apenas em se manter para sobreviver.

A sorte de Caminha muda quando em uma noite flagra Loberant, o dono do jornal, em uma orgia. Temendo que Isaías contasse a alguém a situação vista, o coloca à posição de repórter do jornal.

Ao final da narrativa, Isaías se coloca triste por não se sentir realizado como ser humano, por não ter realizado seu sonho do passado.

[...] Sentia-me sempre desgostoso por não ter tirado de mim nada de grande, de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um outro qualquer. Tinha outros desgostos, mas esse era o principal. Por que o tinha sido? Um pouco devido aos outros e um pouco devido a mim. [...] (BARRETO, 2007, p. 167)

O livro faz crítica à sociedade desigual e corrompida, onde é necessário ter um nome reconhecido ou recomendações para se conseguir algo na vida, onde a inteligência e a honestidade não exercem grande influência sobre a sociedade.

Literatura negra autobiográfica

Souza (2014) relata que a literatura tem sido um elemento importante de propagação de ideias, tanto que no século XIX ela foi usada como veículo de transmissão de valores e ideais que formaram os discursos oficiais sobre o Brasil, porém, ressalta que: ”[..] aos negros, africanos ou afrodescendentes, de acordo com a legislação vigente em todo período colonial e extensiva ao século XIX, não caberia escrever, publicar ou mesmo falar de si ou de seu grupo.” (SOUZA, 2014, p. 64-65).

Segundo Cuti (2010) a preocupação na época era em conceber a nação brasileira como uma população branca. “Os literatos estavam, assim, respaldados por uma crítica literária local, tentando cobrir o próprio país como tema de suas obras”. (2010, p. 17). O que se pretendia com a literatura na época era passar uma boa impressão sobre o Brasil, sobretudo, branca.

Souza diz que mesmo com a determinação que impedia os negros de escreverem, existem registros de afrodescendentes que escreveram sobre si e suas tradições, que tentaram participar das decisões sobre a política nacional e que em pequenas brechas do regime escravista atuaram como sujeitos. Ela cita Caldas Barbosa, poeta satírico do século XVIII, como participante direto do campo da textualidade, com poemas inspirados em modinha e lundus, tradição que circulava oralmente na cultura de origem africana, atuando assim, como sujeito de sua cultura. “Para muitos deles, mestiços, obliterar a vinculação com estas tradições era uma forma de mais facilmente ampliar as brechas do sistema escravista discriminatório”. (SOUZA, 2014, p. 65).

Como autores de uma produção literária em que são incorporadas marcas de problemas e tradições referentes aos negros, a autora classifica os seguintes escritores: Luís Gama, Maria Firmina dos Reis, José do Patrocínio, Antonio Rebouças e Cruz e Souza, Lima Barreto, além de militarem em movimentos sociais voltados para a situação do povo negro e discutirem em suas obras a discriminação racial.

A autora também diz sobre a vontade de escrever para reivindicar direitos do cidadão e lugar ativo na sociedade, que se intensificou em São Paulo, no século XIX, junto com a chamada imprensa negra.

Entretanto, no século XIX, antes mesmo da abolição, pelas vias institucionais ou não, Maria Firmina dos Reis, Antônio Rebouças, Gama, Patrocínio, André Rebouças ilustram a busca da imprensa e da tribuna como forma de fazer ouvidas as reivindicações negras do século. Já no século XX, sofrendo as conseqüências da exclusão programada e crescente do mercado de trabalho e da vida social brasileira, intelectuais, funcionários e operários afro-descendentes reuniram-se em torno de jornais e associações com o intuito de promover confraternizações, cursos, festas na tentativa de romper as barreiras da política cultural da época. O Menelick, Clarim da Alvorada e a Voz da raça são exemplares de momentos em que os afro-brasileiros organizaram-se para produzir textos e intervir na textualidade e na política cultural brasileira. (SOUZA, 2014, p. 66-67).

Como autores da literatura afro-brasileira da segunda metade do século XX, que escreveram sobre aspectos da tradição histórico-cultural que diz respeito à origem africana no Brasil ou do cotidiano afro-brasileiro, a autora destaca: Ruth Guimarães, Muniz Sodré, Joel Rufino dos Santos, Geni Guimarães, Cuti, Conceição Evaristo, Edmilson Pereira,

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