ESCRAVIDÃO MODERNA: REFLEXÕES A PARTIR DA LEI, DO COMPORTAMENTO DAS PESSOAS E DAS ORGANIZAÇÕES
Por: Juliana2017 • 19/9/2018 • 5.827 Palavras (24 Páginas) • 304 Visualizações
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Na Inglaterra do século XVIII, os ventos sopram para novas invenções que modificariam completamente a estrutura social e comercial da época que provocaria mudanças na ordem econômica, política e social, bem maiores do que as mudanças ocorridas no milênio anterior. Nesse contexto, surge a máquina a vapor revolucionando o modo de produção e paralelo a ela uma série de novas invenções que possibilitariam desenvolvimento e a ruptura com a maneira de fazer as coisas, dando início à fase conhecida como Revolução Industrial que pode ser definida como a substituição da ferramenta e homem pela máquina, e que trouxe como produto desta nova era o capitalismo industrial.
Nessa fase, ocorre a substituição da maneira artesanal pela era industrial e o marco para a escravidão em nossos dias, já que com o desenvolvimento das fábricas, surgem alguns elementos bem importantes, desaparecendo a figura do artesão, que na Idade Moderna era o detentor dos meios de produção para dar lugar a uma nova classe conhecida como proletariado. Ocorre a divisão do trabalho, e a especialização das atividades desenvolvidas, que conforme Chiavenato (2000, p.32) “a mecanização do trabalho levou à divisão do trabalho e a simplificação das operações, substituindo os ofícios tradicionais por tarefas semi-automatizadas e repetitivas, que podiam ser executada com facilidade por pessoas sem qualificação e com facilidade de controle”. A produção em larga escala é dividida em etapas, distanciando cada vez mais o trabalhador do produto final, já que este passava a dominar apenas uma etapa da produção, perdendo com isso a sensação de estar produzindo algo e contribuindo para a sociedade, mas aumentando a sua produtividade pela repetição. As condições de trabalho são precárias, perigosas e insalubres, com carga horária abusiva, longas jornadas de trabalho, com mulheres e crianças trabalhando. Nesta fase, os empregadores ditavam as relações de trabalho sem intervenção estatal. Os operários começam a ser organizar, formando movimentos e forçando o surgimento de leis trabalhistas com o objetivo de amenizar os conflitos existentes.
A imposição de condições de trabalho pelo empregador, a exigência de excessivas jornadas de trabalho, a exploração das mulheres e menores, que constituíam mão-de-obra barata, os acidentes ocorridos com os trabalhadores no desempenho das suas atividades e a insegurança quanto ao futuro e aos momentos nos quais fisicamente não tivessem condições de trabalho foram as constantes da nova era do proletário, às quais podem-se acrescentar também os baixos salários. (NASCIMENTO,1997, p. 15).
Ocorre assim, a Revolução que trouxe vários benefícios para os dias atuais, no entanto, deixou heranças que dificilmente serão extintas do nosso meio, sendo uma delas as que dizem respeito à relação entre quem detém os meios de produção e quem é o mero executor.
O mundo tem atravessado várias revoluções desde então, no entanto, a Revolução Industrial serve como divisor de águas para relações mercantis de nossa época, pois o homem da atualidade herdou dela a industrialização, a especialização da mão de obra, as primeiras leis trabalhistas e uma mudança progressiva das necessidades de consumo da população, conforme novas mercadorias foram sendo produzidas.
3 HOMEM MERCADORIA
Vive-se num mercado global onde as relações comerciais ditam as regras a serem seguidas. Nesse mercado, a produção de mercadoria com o intuito de atingir o mercado consumidor se tornou o objetivo principal. Cada vez mais se buscam compradores para os produtos e serviços que são oferecidos. “Com a revolução industrial, a divisão do trabalho e a produção maciça para o mercado mundial, a mercadoria aparece efetivamente como uma potência que vem realmente ocupar a vida social.” (DEBORD, 2000, p.7)
O sistema capitalista que consiste na produção dessas mercadorias traz o homem como trabalhador que também se transformou numa mercadoria básica para o funcionamento deste processo produtivo, tornando-se numa mercadoria a ser consumida pelo mercado ao vender a sua capacidade produtiva: única mercadoria que possui. Karl Marx já afirma isso ao dizer que “a riqueza de uma sociedade em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma imensa coleção de mercadorias, e a mercadoria individual como sua forma elementar” (MARX, 1983, p.45). O homem tornou-se numa mercadoria validada por uma assinatura na carteira de trabalho, com seu preço negociado, tipo de pagamento, jornada de trabalho, repouso, entre outros. Ele assume de um lado o compromisso de produzir algo e o empregador em troca o compensa com um pagamento. Como ele não é dono do meio de produção, a única forma que vê de obter o seu sustento é sendo empregado do dono do meio de produção, sujeitando-se ao que este desejar.
Para a conversão do seu dinheiro em capital, portanto o dono do dinheiro deve encontrar no mercado o trabalhador livre, livre no duplo sentido de que, como homem livre, pode dispor da força de trabalho como sua mercadoria e que por outro lado não tem outra mercadoria pra vender, faltando lhe todo o necessário para a realização de sua capacidade de trabalho. (MARX apud HUMBERMAN, 1992, p.230).
A exploração é camuflada, oculta e mascarada. Geralmente nem se percebe o quanto se é explorado, pois o escravo moderno de um modo geral foi destituído de sua capacidade de pensar, se revoltar e lutar contra o sistema proposto. Vive completamente alienada a sua condição. Huberman explicitou essa condição em relação aos explorados de outrora:
Era fácil ver que nos dias da escravidão o trabalhador - isto é, o escravo – fazia um péssimo negócio. Todos concordavam com isso. Os mais delicados podiam mesmo exclamar com raiva: ‘É chocante! Está absolutamente errado que um homem trabalhe para outro! É uma boa coisa que a escravidão tenha sido abolida’.
Igualmente era fácil ver que no período feudal o trabalhador - isto é, o servo – fazia mau negócio. Não há dúvida quanto a isso. Era evidente que ele, como escravo, tinha de trabalhar para outro homem – seu senhor. Trabalhava, digamos, quatro dias na semana na sua terra, os outros dois dias na terra do senhor. Em ambos os casos, a exploração do trabalhador era evidente.
Mas não era fácil ver que na sociedade capitalista o trabalhador continuava a fazer um mau negócio. Presumidamente o operário é um agente livre. Ao contrário do escravo ou do servo, ele não tem de trabalhar para seu dono ou senhor. Presumidamente, ele pode trabalhar ou não, como queira. E, tendo escolhido o patrão para o qual deseja
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