O Bullying na Escola
Por: eduardamaia17 • 13/3/2018 • 3.079 Palavras (13 Páginas) • 390 Visualizações
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A violência é um dos fenômenos mais discutidos contemporaneamente. Não seria exagero falar de uma “quase onipresença” do tema em todos os lugares e segmentos sociais (países ricos e pobres, empresários e trabalhadores, governo e sociedade etc.). A chamada violência juvenil, em particular, ganha, a cada dia, mais destaque no debate público.
Um estudo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI) trazido por Almeida (2005) revela que, no período de 1999 e 2000, a violência foi o tema relacionado à infância e à adolescência que atingiu o maior percentual de aumento no que se refere à abordagem pela mídia escrita brasileira.
De 1999 para 2000, houve um aumento de 121,65%. Ainda nessa direção, estatísticas oficiais mostram que, entre 1979 e 1996, a mortalidade por homicídios e outras violências aumentou 97% no total da população brasileira e 135% entre os jovens de 15 a 24 anos de idade (WAISELFISZ, 1998). Mostram, também, que os indivíduos envolvidos em situações de violência são cada vez mais jovens.
A própria escola, instituição que pressupõe e que visa a promover uma cultura de paz, sem o quê é impossível educar de verdade, vê-se atormentada por atos de violência (pichações, bullying, etc...).
Ainda que a violência na escola não seja tão ostensiva quanto fora dela, os membros da comunidade escolar vivem com medo e sentem-se permanentemente ameaçados. Essa configuração gera o aumento da angústia social (CHARLOT, 2002).
O ato violento pode ser compreendido como sendo “a expressão da imposição das necessidades, expectativas e vontades de um ator social sobre as necessidades, expectativas e vontades de um outro ator” (ALMEIDA, 2005, p.234).
Para Touraine (1992), a violência é a expressão da exclusão social e um dos maiores fenômenos do nosso tempo, decorrente das crises e do desaparecimento dos controles sociais, políticos e econômicos.
Para os atores sociais, a violência, segundo Michaud (1989), é uma opção possível sob vários aspectos: “como comportamento desviante a serviço da busca de fins socialmente legítimos” (aqueles que procuram fazer fortuna), como comportamento rebelde para mudar os fins ou os meios socialmente reconhecidos.
Sob a ótica da concepção marxista, “não é o emprego da violência que produz as transformações sociais”, mas são estas transformações que passam pela violência (MICHAUD, 1989).
A ação violenta, por si só, não promove mudanças. É preciso que estejam reunidas as condições econômicas e sociais, já que a violência “é determinada pelo estado econômico e não o contrário”.
Podemos relacionar a seguinte afirmação de Michaud (1989) com as idéias de Freud: “a agressividade é própria do homem bem como dos outros animais. Tal instinto pode ter sido adaptativo nos primeiros homens, mas uma vez que estes começam a dominar o meio ambiente, a se assenhorear das técnicas e a formar grandes grupos, o instinto torna-se nocivo”.
Num estudo de conduta anti-social ou agressiva, Martins (2005) cita Loeber e Hay (1997, p.373), os quais definem este tipo de conduta como sendo “aquela que inflige dano físico ou psicológico ao outro; e/ou perda ou dano de propriedade, podendo ou não constituir uma infração às leis vigentes”.
Bullying
Na medida em que a discussão conceitual acerca da violência aproxima-se do ambiente escolar, as reflexões acerca do chamado bullying ganham crescente destaque. O termo pode ser definido como “vitimização e/ou intimidação entre pares ou por maus tratos entre iguais” (MARTINS, 2005).
A repetição do comportamento, ou pelo menos a ameaça de que pode voltar a repetir-se, a intenção de prejudicar ou magoar o outro, o abuso de poder que alguém exerce sobre outra pessoa e a situação de vulnerabilidade da vítima são aspectos que, para Martins (2005), parecem comuns às definições de bullying trazidas por vários estudiosos.
Para Collel e Escudé (2002), o mal trato entre iguais pode tomar diferentes formas e utiliza, como categorias de diferenciação, o maltrato físico, o maltrato verbal, o maltrato misto (físico e verbal) e a exclusão social. Estudos feitos por estes autores afirmam que a faixa etária de maior incidência de condutas de bullying varia entre os 11 e 14 anos e que os meninos utilizam mais as formas diretas de abuso (pegar, armazenar, insultar), enquanto as meninas usam em maior medida as formas indiretas (falar mal de alguém).
Há, segundo Collel e Escudé (2002), quatro protagonistas na dinâmica do bullying: o agressor, a vítima, os companheiros e os adultos (pais e mães). Um círculo de vitimização pode ser criado por um ou mais indivíduos que faltam com o respeito ou hostilizam um ou mais pares.
O processo, em muitos casos, ocorre de maneira progressiva, podendo atingir proporções mais graves (como a agressão física), fazendo com que a vítima dificilmente saia desse circulo sem a interferência ou ajuda externa.
Dois tipos de vítima são constantemente observados, conforme Collel e Escudé (2002): a vítima clássica, considerada como sendo “fisicamente débil”, com poucos amigos e que reforça as atitudes do agressor pela sua fragilidade e a vítima provocadora que é agredida pelo fato de apresentar alguma diferença física do grupo (corpo, vestido, altura, etnia) ou maneiras de ser e de pensar próprias que diferem da maioria.
A reivindicação por parte de vários alunos de que as metodologias de ensino precisam ser mais dinâmicas acarreta a crença de que a escola parou no tempo, não incorporando, nem acompanhando as inovações e as mudanças tecnológicas dos últimos anos. E, para obterem a atenção do alunado, muitos profissionais do ensino recorrem à imposição da disciplina. Medidas disciplinares severas e castigos podem também interferir na propagação de atos de violência nas escolas.
Para Leão (2000), a escola, “(...) ao instituir um sistema de notas e avaliações que concentra um grande poder nos professores, muitas vezes utilizado como forma de coação sobre os alunos, pode estar contribuindo para produção e reprodução de atos violentos. O “fracasso” nas avaliações alimenta sentimentos de injustiça e práticas de auto-afirmação muitas vezes ancoradas em formas de resistência violenta e frontal”.
A escola torna-se o alvo de uma parte da violência dos jovens: aqueles que ela exclui prematuramente. Então, a instituição é tentada a restabelecer uma repressão feroz, mas logo se dá conta de que se rompeu o antigo equilíbrio
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