APRENDIZAGEM DA ESCRITA DA LÍNGUA PORTUGUESA COMO SEGUNDA LÍNGUA L2: POSSIBLIDADE METODOLÓGICA PARA O ENSINO DA LÍNGUA ESCRITA ORAL PARA A AUTONOMIA DO ALUNO SURDO
Por: Kleber.Oliveira • 24/5/2018 • 6.319 Palavras (26 Páginas) • 501 Visualizações
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3 LÍNGUA E IDENTIDADE
A Língua, segundo o dicionário linguística (editora CULTRIX, 2006) é um sistema de comunicação comum a uma comunidade linguística, sendo composta de regras gramaticais que possibilitam que determinados grupos de falante/ouvintes (Língua Portuguesa) consiga produzir enunciados que lhes permitam comunicar-se e compreender-se. Consequentemente a função primária da língua é a comunicação e a expressão do pensamento.
Segundo F. de Saussure (editora CULTRIX, 2013) e os estruturalistas, a língua é, portanto, um sistema cuja estrutura se estuda a partir de um Corpus, estudo que leva a uma classificação, a uma taxionomia dos elementos do sistema.
N. Chomsky (1972) ultrapassando a fase puramente classificatória, elabora modelos hipotéticos explícitos das línguas e da linguagem. Estabelece modelos de competência e um modelo de performance dos indivíduos, sendo o modelo de competência uma gramática da língua que ele fala, sito é, o mecanismo que coloca em relação sons e sentidos, que associa numa interpretação semântica a sequências de sinais acústicos.
A língua é portanto, um sistema de signos cujo funcionamento repousa sobre um certo número de regras, de coerções. É portanto, código que permite estabelecer uma comunicação entre emissor e um receptor.
3.1 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Segundo (QUADROS E KARNOPP, 2004) as línguas de sinais são consideradas línguas naturais e compartilham uma série de caraterísticas que lhes atribui caráter especifico e as distingue dos demais sistemas de comunicação, além disto é o meio e o fim da interação social, cultural e científica da comunidade surda brasileira, é uma língua visual-espacial.
As línguas de sinais portanto, são consideradas pela linguística como línguas naturais ou sistemas linguísticos legítimos, e não como um problema do surdo ou como uma patologia de linguagem.
O surdo pode então, compreender o uso se ele utiliza- se de uma língua que ele domina totalmente. (BOUVET apud BRITO, 1989, p. 85) Como afirma também Chomsky (apud SKLIAR, 1998, p. 54): a capacidade de comunicação linguística apresenta-se como um dos principais responsáveis pelo processo de desenvolvimento da criança surda em toda a sua potencialidade, para que possa desempenhar seu papel social e integrar-se verdadeiramente na sociedade.
Como defendem Bouvet, Penfield e Roberts (apud KARNOPP, 2002, p. 25), especialistas em fisiologia do cérebro humano constataram, que a língua de sinais é a única língua a qual a criança surda pode aprender sem nenhum atraso de desenvolvimento e isto é fundamental para o desenvolvimento da sintaxe, que parece ser o ponto crucial do desenvolvimento da linguagem e possui um período crítico para o seu desenvolvimento.
A consequência primeira dessa realidade é a existência de uma cultura surda própria e diferenciada daquela do mundo ouvinte (SKILIAR,1998; FARIA, 2002c). Para a maioria das crianças que se iniciam na escola, o uso da língua de escolarização é também a língua materna, mas o mesmo não acontece com a maioria dos surdos, cuja língua materna, naturalmente será uma língua gestual, Língua Brasileira de Sinais. Surgem então dois desafios: Criação de condições e conteúdo que permitam o pleno desenvolvimento da criança.
E o autor Skliar (1999, p.97), complementa que “a Língua de Sinais anula a deficiência e permite que os surdos constituam então uma comunidade linguística minoritária diferente e não um desvio da normalidade.” Nessa perspectiva, pode-se assegurar que somente a língua de sinais permitirá que sejam restabelecidas, para a criança surda, as condições naturais de apropriação da linguagem e deve como já mencionado anteriormente, ser a linguagem materna de todos os indivíduos surdos.
3.2 LÍNGUA PORTUGUESA COMO L2
“A língua que o surdo tem como legítima e usa não é a mesma que serve como base ao sistema escrito, por ser um sistema visuo-gestual, portanto, muito diferente do oral-auditivo.” (SILVA, 2001, p. 48). Desta forma, para os surdos, a aprendizagem da escrita corresponde à apreensão de uma segunda língua (com modalidade distinta à sua primeira língua). Já para os ouvintes, representa apenas o aprendizado de uma diferente modalidade da mesma língua. Nesse sentido, observa-se que surdos e ouvintes passam por etapas diferentes no processo de interação com a escrita.
Conforme Ferreiro (1985) e Ferreiro e Teberosky (1986), a criança ouvinte, durante o período de contato com os sinais gráficos, passa por estágios de evolução, que são caracterizados em quatro grandes níveis: Pré- Silábico, Silábico, Silábico-Alfabético e Alfabético. No caso específico dos surdos, observa-se que a realização dessas etapas não gera resultados satisfatórios, pois elas estão voltadas, na maioria das vezes, para a correspondência entre som e grafia; e os surdos não devem ser ensinados com base em uma língua oral-auditiva, mas conforme a estrutura de uma língua de sinais.
Entretanto, a tarefa de escrever é complexa e não se limita à simples aprendizagem dos códigos de uma língua. Exige do indivíduo tanto a potencialidade de assimilar as diferenças específicas dos sistemas fônico, fonológico, morfológico e lexical da língua, quanto a habilidade de identificar o que há de peculiar na estrutura sintática e no modo como as relações semânticas se estabelecem. Desse modo, é um processo através do qual o indivíduo (seja surdo ou ouvinte) reflete a respeito dos fatos do próprio sistema de escrita, combinando os elementos de maneira singular e distanciando-se, muitas vezes, da variante “padrão” da língua escrita.
Também é preciso considerar que o desenvolvimento da linguagem escrita pelo surdo (assim como pelo ouvinte) implica o domínio de três distintos aspectos: o aspecto funcional, o aspecto lexical e o aspecto gramatical, explícitos ou implícitos na organização textual (cf. FERNANDES, 2006). Contudo, é válido enfatizar que nenhum desses aspectos será conhecido pelo sujeito surdo se uma língua de sinais não constituir a base linguística do processo de aprendizagem. “Sem sua mediação, os alunos não poderão compreender as relações textuais na segunda língua, já que necessitam perceber o que é igual e o que é diferente entre sua primeira língua e a língua que estão aprendendo.” (FERNANDES, 2006, p. 14)
Fundamentando-se em Quadros (1997b), podemos dizer que a aprendizagem da escrita de uma segunda língua por surdos está relacionada com
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