LENDO MAIAKOVSKI PARA COMPREENDER A REVOLUÇÃO RUSSA
Por: Ednelso245 • 5/2/2018 • 2.659 Palavras (11 Páginas) • 375 Visualizações
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De acordo com Mauricio Tragtenberg no livro A Revolução Russa
“a revolução de 1917 pôs fim à supremacia politica da burguesia, eliminando sua base econômica, a propriedade privada dos meios de produção, e mudou o sistema de propriedade existente. Porém não teve suficiente força para alterar as relações de produção autoritárias que caracterizam uma sociedade dividida em classes.” [3]*
O autor continua ainda dizendo que os setores da burguesia ficaram aliviados quando viram que o governo pretendia estatizar os meios de produção, mas iria permanecer a hierarquia dentro da fabrica, ou seja, a separação de dirigentes e dirigidos.[4]** A militarização do trabalho defendida por Trotski desagradou obviamente a classe proletária, que seria obrigada a ir para onde quer que fosse a necessidade de seu empregador, e poderiam ser presos se recusassem a tarefa destinada. Nesse mesmo momento é aprovada pelo congresso a direção uninominal das fabricas, que levou a uma Oposição Operaria que era formada pelos mesmos trabalhadores que participaram das revoluções de 1905 e 1917, eles criticavam que a direção uninominal tem o caráter individualista que é característica da classe burguesa, afirmando que assim não adiantou de nada a revolução.
O bolchevismo quando passou a utilizar o método Taylor de organização do trabalho, começou a se contradizer, já que o taylorismo foi desenvolvido para a classe dominante em seu próprio beneficio. Tragtenberg continua dizendo que ‘Quando os técnicos de organização do trabalho dividem-no, a ponto de extenuar o trabalhador, dir-se-á que tal divisão é cientifica. Quando os trabalhadores se auto organizam para produzir, isso é considerado anticientífico”[5]***
Assim pode-se notar que os bolcheviques buscaram em modelos capitalistas soluções para os problemas da criação de uma sociedade socialista. Tragtenberg afirma ainda que “Tudo isso constitui uma tentativa infantil de instituir o comunismo por decreto; onde se deve falar em criar, os bolcheviques falam em prescrever” [6]*
Com isso podemos notar alguns aspectos que levaram muitos daqueles que acreditavam em Lenin e Trotski na revolução a reavaliarem seus argumentos em vista de toda a violência e do regime ditatorial que foi estabelecido. Essa desilusão pode ser notada com Maiakovski na obra o Percevejo.
Rosyanne Trotta faz uma analise das duas versões escritas da peça o Misterio-Bufo, uma em 1918 e a outra em 1921:
“Na primeira, escrita em 1918, a revolução acabara de ocorrer e a utopia de um Estado gerido pelos trabalhadores parecia estar ao alcance das mãos. Em 1921, data da segunda versão, o país vivia há três anos sob guerra civil e muitos operários haviam deixado as usinas para se juntar à luta armada; a miséria se agravara, a fome e o frio assolavam o povo; e dentro do próprio partido, as dissensões instauravam uma crise. O caminho para a utopia se mostrava bem mais longo. Por isso, a segunda versão da peça tem humor ácido, referências diretas aos personagens da política, explicitação dos conflitos ideológicos.”[7]**
No momento em que Maiakovski escreve a segunda versão da obra vemos que o sonho da revolução de 1917 tornou-se um claro desapontamento. Guerras armadas e conflitos nas fabricas eram cada vez maiores, a fome, um fator agravante; e os desentendimentos políticos internos só refletiam o governo falho.
A outra obra importante de Maiakóvski e que também é objeto de nosso trabalho, O Percevejo, é considerada a obra-prima da arte de vanguarda russa e ponto alto da produção teatral de Maiakóvski, uma comédia fantástica redigida no final de 1928 e encenada no ano seguinte, marca também um ponto de inflexão na trajetória do poeta. Na obra, o entusiasmo de Maiakóvski com a Revolução de 1917 (encontrado na obra Mistério-Bufo) dá lugar a uma visão crítica do futuro do socialismo.
Diferentemente de em Mistério-Bufo onde se podia notar certa esperança com a Revolução, depois certa discordância com os acontecimentos após a tomada do governo, em o Percevejo não se vê nenhuma perspectiva de algo melhor para o futuro. O autor nos apresenta uma personagem (Prissípkin, que antes de chamava Pierre Skrípkin) que proletária e revolucionaria aliada ao partido bolchevique torna-se um “bom partido”, e na perspectiva de se casar com uma moça de classe burguesa passa a mudar seus costumes, nome e passa agir como se já não fizesse parte de sua classe trabalhadora. É muito clara a crítica que o autor faz ao movimento socialista da época, Prissípkin, antes “camarada” do partido socialista após estar noivo de uma moça de classe mais abastada deixa para trás seus colegas de movimento, uma clara atitude anti movimento.
Depois de 50 anos, Prissípkin, que antes estava congelado devido a um incêndio que acontece na recepção de seu casamento, é acordado em uma época onde robôs substituem pessoas em votações.
“Um enorme auditório em forma de anfiteatro. Os homens foram substituídos por alto-falantes com braços de metal que sobem e descem como sinalizadores de automóveis. Sobre eles - lâmpadas elétricas coloridas. No teto, telas de projeção. No centro, uma tribuna com um microfone. Em volta da tribuna – painéis de controle eletrônico entradas de luz e som.[...]”[8]*
O homem congelado é considerado um operário devido às mãos calejadas e todos são orientados de que se o descongelarem, poderiam despertar os antigos “vírus” da Rússia, o que termina por caracterizar os ideais socialistas como sendo uma doença, que também poderia ser despertada. Mas são esses robôs, que decidem pelo descongelamento, seres dessa Rússia que estava cada vez mais industrializada e menos humanizada.
Há quem diga que lendo O Percevejo identificamos o personagem principal é o próprio Maiakóvski, que sempre defendeu o regime, mas que acabou sendo apontado por seus atos. No fim da obra, Prissípkin é enjaulado e suas atitudes comuns como fumar, beber e dançar são repudiadas.
A obra termina com um grito de Prissípkin (ou do próprio Maiakóvski), que assume um papel de desespero e pede que as pessoas acordem para os acontecimentos na Rússia e lutem por seus direitos, contra a ditadura stalinista.
“Prissípkin – Cidadãos! Meu povo! Meus irmãos! De onde vocês vieram? Vocês são tantos. Quando vocês foram descongelados? Por que eu estou sozinho aqui nessa jaula? Meus amigos, meus irmãos! Venham comigo! Por que eu estou sofrendo? Camaradas!” [9]*
Apesar do sucesso da peça, a montagem original de O percevejo
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