A poesia e o ensino de História
Por: YdecRupolo • 29/11/2017 • 3.287 Palavras (14 Páginas) • 536 Visualizações
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como sujeito ativo no processo educacional é que o educador não consegue adaptar o conhecimento científico ao cotidiano dos estudantes. É por esse motivo que a educação se torna, por vezes, cansativa e monótona.
Falar da realidade como algo parado, estático, compartimentado e bem-comportado, quando não falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos, vem sendo, realmente, a suprema inquietação desta educação. A sua irrefreada ânsia. Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, como seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é “encher” os educandos dos conteúdos de narração. Conteúdos que são retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão ganhariam significação. (FREIRE, 2011, p.79-80).
Esse modelo educacional não é pensado, proposto e praticado à toa, há muitos motivos que fazem com que a nossa educação seja bancária e o principal deles é que é perigoso pensar por si só.
Se a educação funcionasse de acordo com a sua real atribuição, a de despertar no ser humano seu senso crítico, certamente a desigualdade e os diversos problemas sociais seriam minimizados; pois quando o homem tem consciência de seu papel histórico, ele consequentemente se vê enquanto ser transformador e começa a conciliar seu conhecimento teórico com sua ação transformadora.
Obviamente, quem está no poder jamais vai querer despertar nos oprimidos o sentimento de revolta, de justiça e inconformação. É justamente em contrapartida a esse sistema que o educador que teoricamente tem a consciência da importância da educação como papel transformador deve perceber o estudante enquanto um ser tão capaz de melhorar o mundo quanto ele.
Cabe assim a quem “ensina” encontrar novos métodos e materiais de ensino para facilitar o processo de aprendizagem, se importando sempre com a realidade vivida pelos estudantes.
O professor, no processo pedagógico, incorpora (ou deveria, ou poderia incorporar) múltiplos saberes e concepções construídos durante a socialização da criança, nas vivencias da criança, no mundo vivido fora da sala de aula, na família, nos espaços de lazer, nos ambientes sociais e educativos, nos meios de comunicação de massa, etc. A formação do aluno/cidadão se inicia e se processa ao longo de sua vida em diversos espaços de vivencia. Logo, devemos considerar e incorporar, sem culpa
e sem medo, diversos meios, materiais, vozes, indícios que contribuem para a produção do conhecimento e aprendizagem histórica. (FONSECA, 2009, p.172-173).
Felizmente, a visão de que a educação e principalmente a disciplina escolar de história só é feita com documentos escritos e oficiais já é tida como ultrapassada e antagônica ao processo criativo de aprendizagem.
Existem diversos materiais de fácil acesso que podem ser utilizados para promover a absorção de conteúdos, materiais esses que permitem a reflexão crítica de assuntos histórico-sociais e que conseguem assim fazer a ligação necessária entre o conteúdo histórico e o cotidiano do estudante.
Além das aulas de campo, das visitas a museus e patrimônios históricos que são responsáveis por uma aproximação física entre a história teórica e os estudantes, existem diversas outras fontes que possibilitam essa forma prática do conhecimento histórico. Como, por exemplo, as canções, as fontes orais e iconográficas, os jornais, a internet, a literatura e a que destrincharei aqui: A poesia.
Durante muito tempo a história e a poesia foram vistas como antagônicas. A História teria como função o relato dos fatos, das ocorrências. Enquanto que a poesia era considerada uma mera descrição de ações imaginárias, de ficção.
Até o século XVII, existiram duas posições consideradas extremas nesse âmbito teórico, a primeira defendia que a história era bem mais importante que a poesia, pois a história se baseava na realidade; a poesia no imaginário, na mentira. A posição contrária a essa foi defendida pela maioria dos historiadores e tinha como base a dicotomia aristotélica entre história e poesia; para Aristóteles esta descreve o universal; a história, o particular. Apoiado nessa ideia ele afirma que aos poetas o que interessa não são os fatos em si, mas a estrutura deles, eles descrevem o que poderia ter acontecido; enquanto que os historiadores se interessam pelos fatos em sua singularidade, se resumem ao que aconteceu. Logo, Aristóteles considera a história menos filosófica que a poesia, pois para o mesmo os episódios não dependem um do outro; a história erra ao produzir sempre o retrato da vida como um todo que tem obrigatoriamente a necessidade da visão dos fatos com a eterna conexão entre si.
A partir do Iluminismo os historiadores estiveram expostos a este postulado aristotélico. Faz parte das novas experiências do século XVIII, quando a história foi levada a um novo conceito reflexivo, que também as paredes divisórias entre os campos do historiador e do poeta se tornassem osmoticamente permeáveis. Do poeta, sobretudo do romancista, passou-se a exigir que, se quisesse convencer e impressionar, ele deveria dar a palavra à realidade histórica. E vice-
versa, exigiu-se do historiador que, por meio das teorias, hipóteses e fundamentações, ele tornasse sua história aceitável e plausível. Da mesma forma que o poeta, de sua história o historiador deveria extrair unidade e sentido. (KOSELLECK, 2006, p.248).
Diminui-se assim a ideia de oposição entre a poesia e a história e percebeu-se que mesmo com as características peculiares de ambas existem diversos momentos em que as duas se entrelaçam e que o distanciamento entre elas não traz nenhum caráter benéfico para a compreensão das mesmas.
Mesmo que os poemas estejam condicionados ao destino pessoal de quem os escreve, continuam com aspectos políticos, sociais e históricos. Pois toda ação, seja ela individual ou coletiva é refletida e reflete a história. Cabe assim, a quem os analisar saber fazer a distinção entre as características presentes nos mesmos e perceber a importância e a ligação de cada aspecto presente na poesia.
Alguns usam da subjetividade presente na poesia como algo que vai contra os princípios historiográficos, mas esquecem de que a história é subjetiva e que não existe neutralidade na mesma; ela não é fatalista e a prática do historiador é sempre refletida nas transformações históricas de seu tempo e, quando o mesmo interpreta o passado reflete também sua subjetividade. “A história não é algo abandonado, parado
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