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Uma Perspectiva antropológica da dança do ventre: teoria e métodos

Por:   •  22/12/2018  •  2.967 Palavras (12 Páginas)  •  351 Visualizações

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Já constatamos que houve uma corrente imigratória de árabes sírios e libaneses para o estado do Piauí entre o final do século XIX e meados do século XX, mas pretendemos descobrir como a história desses imigrantes pode ter influenciado o desenvolvimento da prática de uma modalidade de dança proveniente dessa cultura, aqui nessa pesquisa denominada dança do ventre.

De maneira que de acordo com Boas (2005, p.34-35) o estudo detalhado de costumes (...) propicia-nos quase sempre um meio de determinar com considerável precisão as causas históricas que levaram à formação dos costumes em questão e os processos psicológicos que atuaram em seu desenvolvimento. Essa afirmação ressalta a importância do método histórico da antropologia defendido por Boas pela importante função de descobrir os processos que levam ao desenvolvimento de certos costumes, bem como,

A investigação histórica deve ser o teste crítico demandado pela ciência antes que ela admita os fatos como evidências. A comparabilidade do material coletado precisa ser testada por esse meio, e cumpre exigir a uniformidade dos processos como prova de comparabilidade. Além disso, quando se pode comprovar que há uma conexão histórica entre dois fenômenos, estes não devem ser aceitos como evidências independentes. (BOAS,2005, p. 37)

Desse modo se legitima a pesquisa na busca das possíveis raízes históricas da dança do ventre no Piauí para a resolução de problemas tais como: teria sido essa prática uma tentativa de manutenção cultural pelos ascendentes árabes? Ou esse interesse teria sido desencadeado pela mídia? Como tem se dado o processo de apropriação dessa prática?

O passo seguinte do ensaio é travar um dialogo com a possibilidade de um estudo da dança do ventre a partir do método da observação participante difundido por Bronislaw Malinowski a partir de sua experiência descrita na obra “Os Argonautas do Pacífico Ocidental”, de 1922, que constitui seu trabalho de campo nas ilhas Trobriand, quando inaugura o método da etnografia.

Ao tempo em que Malinowski rompe com a “antropologia de gabinete”, método de análise antropológica de uma comunidade através de relatos de terceiros, foi ele o pesquisador que inaugurou o método da observação participante. Na introdução de “Argonautas” o autor coloca a observação participante como um método que torna possível diferenciar “[...] os resultados da observação direta e das declarações e interpretações nativas e, de outro, as inferências do autor, baseadas em seu próprio bom-senso e intuição psicológica”.

A principal característica da observação participante se dá pela inserção do pesquisador ao grupo pesquisado, esse, para além de um observador externo, passa a tomar parte da vida cotidiana dos sujeitos investigados, fator que fomenta a compreensão da comunidade em questão pela sua própria perspectiva. Uma das razões colocadas por Malinowski (1976) é justamente esse contato intimo com a sociedade investigada possibilitar a coleta de dados partindo da apreensão do comportamento desta.

Nesse sentido Le Breton (2016 p. 19) afirma que a “experiência antropológica é uma maneira de desapegar-se das familiaridades perceptivas para recapturar outras modalidades de abordagem e sentir a multidão dos mundos que se escoram no mundo”. De modo que se faz imprescindível então observar todos os aspectos da cultura em questão - não apenas aspectos particulares, como a organização social e a religião - e anotar o maior número possível de informações em um diário de campo.

A essas informações, segundo Malinowski (1976), deve-se dar atenção á expressões e narrativas peculiares à comunidade estudada e que fomentam a compreensão do seu ponto de vista de si e do mundo, constituindo o principio de investigação denominado por ele de corpus inscriptionum, onde o investigador para além do ‘esqueleto’ da vida nativa, deve apreender o corpo, o sangue e ainda seu espírito, ou seja, a visão de mundo da sociedade estudada.

É importante ressaltar que na pesquisa sobre dança do ventre, em andamento, o método da observação participante já está sendo colocado em prática, onde o lócus observado são alunas de dança de um curso de dança ministrado por esta pesquisadora. As aulas, que ocorrem uma vez por semana, oportunizam a observação de falas e comportamentos importantes á construção do diário de campo que posteriormente auxiliará o desenvolvimento da pesquisa mencionada.

Um desafio percebido na observação participante é o de trabalhar com pensamentos pré-conconcebidos de ordem etnocêntrica decorrentes da trajetória do pesquisador, pois ao tempo em que este deve permanecer aberto á histórias de vida diferentes da sua, deve também travar um diálogo com suas pré-noções a respeito da temática pesquisada.

A sugestão de Malinowski (1976) para essa questão é a troca das hipóteses pela formulação de problemas, os quais ao tempo em que possibilitam a relativização das ideias preconcebidas possibilitam também direcionar um olhar diferente ao outro, aos sujeitos estudados.

O ideal é que o pesquisador deva analisar os dados somente quando tiver questionado e superado pelo menos parte de seus conceitos formulados anteriormente á pesquisa e que possam vir a prejudicar sua inserção no cotidiano da sociedade em questão. A intenção é criar um processo de relativização, bem como de aculturação do pesquisador, ainda que de modo parcial, de maneira á deixar os fatos falarem por si, ao tempo em que são anotados em um diário. Sobre a questão das ideias pré-concebidas pelo pesquisador, Le Breton (2016, p. 18) afirma que o antropólogo deve desconstruir a evidência social de seus próprios sentidos e se abrir a outras culturas sensoriais, a outras maneiras de sentir o mundo.

A experiência do etnólogo ou do viajante é geralmente a do despovoamento de seus sentidos, ele é confrontado com sabores inesperados, com odores, músicas, ritmos, sons, contatos e usos do olhar que sacodem suas antigas rotinas e lhe ensinam a sentir outramente sua relação com o mundo e com os outros. (LE BRETON, 2016, p. 18)

A própria inserção do investigador no grupo social investigado deve pressupor um avanço sobre os seus preconceitos, visto que essa medida em si já propicia um olhar crítico às visões anteriores do pesquisador, preparando-o para a análise dos dados coletados, á partir de uma vivência diferente da sua.

Porém, retomando a questão do desafio do pesquisador entre superar suas ideias preconcebidas e estar aberto ás experiências advindas do grupo pesquisado, se faz importante

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