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Estamira - Análise de uma Loucura sob auspício Lacaniano

Por:   •  28/4/2018  •  3.015 Palavras (13 Páginas)  •  462 Visualizações

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A partir do “delirium” que Estamira, quando pronuncia enfaticamente seu nome como “Esta-mira”, que ela se sustenta como sujeito que “não é comum”. Em seu delírio, diz: “A minha missão além de ser eu, a Esta-mira, é revelar... É a verdade, somente a verdade. Seja a mentira, seja capturar e mentira e tacar na cara, ou então... ensinar e mostrar o que eles não sabem, os inocentes. Não existem mais inocentes, não tem. Tem só esperto ao contrário....” (Estamira - SIC)

A história de vida de Estamira revela um conglomerado de traumas oriundo desde a mais tenra infância. A morte do pai é narrada por ela como fator preponderante de desestabilização emocional sofrida tanto por ela quanto pela mãe. A partir desta perda sua mãe sofreu surto psicótico de sua mãe. Ela expressa essa dor: “Eles levaram meu pai no 43. Aí meu pai nunca mais volto, entendeu? Meu pai chamava eu de tanto nomezinho... chamava de uns nome engraçado: merdinha, neném, filhinha do pai... Ai depois sabe o que eles falaram? Depois eles falaram que meu pai morreu. Ai então minha mãe ficou pra cima e pra baixo comigo. Judiação! Coitada da minha mãe. Mais perturbada do que eu.” .[SIC]

Ela ainda narra que após a morte do pai, outra figura masculina aparece em sua vida, o avô. O avô que violenta sexualmente sua mãe, e que irá violentá-la na infância: “O pai da minha mãe é da família Ribeiro. Tudo polícia, tudo general, tudo não sei o que... ele é estuprador! Ele estuprou a minha mãe. E fez coisa comigo. A minha depressão é imensa.” .[SIC]

Continua sua narrativa de desastres emocionais ao narrar que certa vez, aos nove anos de idade, quando pensava em ir a uma festa e por não possuir sapatos, o avô lhe sugere que ela se deite com ele para lhe comprar um par. A partir destas narrativas poderíamos sugerir a relação traumática de Estamira associada ao “nome do Pai” sob a ótica psicanalítica: um rompimento brusco do Édipo, que pode ser suposto, com a morte de seu pai, às violências sexuais que iniciaram com o seu avô e que estiveram presentes em diversos momentos de sua vida.: “Eu não gosto do pai da minha mãe por que ele me pegou com 12 anos e me trouxe pra Goiás Velho... e lá era um bordel”. .[SIC]

O avô de Estamira a inicia na prostituição aos 12 e neste momento, outro fator importante começa a emergir, que é a relação de como conseguir dinheiro de um modo “sujo”, relação esta, estabelecida pelo avô com a oferta dos sapatos, e que ressurge no momento em que ela é levada à prostituição. Tais fatores podem ser relacionados, futuramente, com a dependência econômica de um marido que a maltratava, e com a “escolha” do lixão como forma de se manter.

A filha de Estamira em um dito momento também revela sua dor e culpa ao internar sua mãe em um manicômio após ela ser abandonada pelo marido:

“A partir do momento que ela largou meu pai, a primeira coisa que ela fez... deixou nós na casa de não sei quem no morro... e foi buscar minha avó no dia seguinte. E minha avó sempre seguiu com a gente até morrer. Então pra que eu não carregasse isso que ela carrega hoje... eu já sabendo da história, eu jamais tentei fazer isso. Até hoje ela carrega isso com ela e chora por isso.” (Filha de Estamira - SIC).

Após a separação do marido e várias internações Estamira acaba indo trabalhar no aterro sanitário a fim de encarar a vida decadente que a circunda: “Eu faço dinheiro, não é o dinheiro que me faz” .[SIC]. Ela expressa neste ato a importância, mas de ser livre em relação a ele. Mas são nos delírios e nas falas perturbadas que Estamira consegue expressar tudo o que não consegue dizer linearmente, é neste Dito (Lacan, 1900) que ela expressa seu sofrimento, sua decepção com um D’us em que tanto acredita, seus traumas relacionados ao abuso sexual, sua relação com o seu corpo, com sua família, com o aterro, com a opressão social, com a fome e com a vida. É através deste discurso que ela afirma e reafirma seu lugar no mundo - sua existência. Estamira é então diagnosticada com Esquizofrenia Paranóide.

- DESCREVENDO OS SINTOMAS DE ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE EM ESTAMIRA

A Esquizofrenia é considerada pela psicopatologia como um tipo de sofrimento psíquico grave, caracterizado principalmente pela alteração no contato com a realidade (psicose). Segundo o DSM-IV, é um transtorno psíquico severo caracterizado por dois ou mais dentre o seguinte conjunto de sintomas por pelo menos um mês: alucinações visuais, sinestésicas ou auditivas, delírios, fala desorganizada (incompreensível), catatonia ou/e sintomas depressivos. É hoje encarada não como doença, no sentido clássico do termo, mas sim como um transtorno mental, podendo atingir pessoas de qualquer idade, gênero, raça, classe social e país. Segundo estudos da OMS, atinge cerca de 1% da população mundial. (Dalgalarrondo,2008).

Segundo Dalgalarrondo (2008) os sintomas da Esquizofrenia são divididos em sintomas positivos e negativos. Os sintomas positivos são experiências anormais e os negativos são perdas do comportamento normal de uma pessoa. Embora os sintomas positivos sejam mais chamativos e dramáticos e que no início causam maior preocupação, são os negativos que causam problemas mais sérios e que duram mais.

Sintomas positivos mais comuns são:

- Sentimento de estar sendo controlado por forças exteriores (os pensamentos e ações seriam determinados por motivações alheias ao indivíduo)

- Alterações da percepção. A pessoa ouve vozes, vê coisas, sente cheiros ou tem outras sensações sem que nada exista (alucinações)

- Crenças estranhas (de importância exagerada, de grandeza, de estar sendo perseguido - são os delírios)

Os sintomas positivos ocorrem nos episódios agudos e podem ser muito assustadores.

Sintomas negativos - podem incluir a perda de concentração, falta de energia e de motivação, desinteresse pelas pessoas e pelo ambiente. As pessoas com Esquizofrenia frequentemente ficam incapacitadas para o trabalho, para as coisas comuns do cotidiano, podem chegar até ao abandono do cuidado com a própria higiene. Muitos chegam a uma condição muito precária como moradores de rua como presenciamos em Estamira.

Identificando os sintomas positivos negativos da esquizofrenia com os sintomas apresentados no documentário, é possível perceber apresentação reduzida dos sintomas negativos. No documentário a “Estamira”

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