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BREVE HISTORICO DA LOUCURA

Por:   •  8/5/2018  •  2.140 Palavras (9 Páginas)  •  320 Visualizações

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Esta ideia eram não presente???? no imaginário local que em 1780, como descreve Foucault (1978), espalhou-se por Paris uma epidemia e as pessoas atribuíram sua origem ao Hospital Geral e a solução seria queimá-lo. “O tenente de polícia, diante da inquietação da população, manda uma comissão de inquérito que compreende, além de vários doutores regentes, o decano da faculdade e o médico do Hospital Geral” (Foucault, 1978). O relatório, no entanto, nega que esteja relacionada a presença dos internos a epidemia e sua origem é atribuída apenas ao mau tempo:

conformes à natureza da estação do ano e concordam perfeitamente com as doenças observadas em Paris desde essa mesma época. Os boatos que começaram a espalhar-se referentes a uma doença contagiosa em Bicêtre, capaz de infectar a capital, não têm fundamento (Joly de Fleury apud Foucault, 1978)

O hospital reconheceu, através de novo relatório, que não dispunha das melhores condições sanitárias para abrigar os internos. O hospital ocupara o lugar da lepra,???? que havia sido banida pra longe das distancias sociais. “O desatino estava novamente presente, mas agora marcado por um indício imaginário de doença atribuído por seus poderes aterrorizantes” (Foucault, 1978).

A ação, no entanto, não era de suprimir as casas, mas de neutralizá-las como causas eventuais do mal, arrumá-las e purificá-las. O movimento de reforma se desenvolveria na segunda metade do sec XVIII e tem em sua origem:

Reduzir a contaminação, destruindo as impurezas e os vapores, diminuindo todas essas fermentações, impedir que o mal e os males viciem o ar espalhando seu contágio pela atmosfera das cidades (Foucault, 1978).

Os hospitais deveriam ser mais isolados e envolvidos por um ar mais puro (Foucault, 1978).

Ao final do século XVIII houve um movimento de melhoramento dos hospitais e começa-se a sonhar com um asilo que seria organizado de forma que o mal nele nunca poderia se difundir. Nestes asilos o desatino seria inteiramente contido e oferecido a sociedade em espetáculo sem perigo aos espectadores “onde o desatino teria todos os poderes do exemplo e nenhum dos riscos do contágio. Em suma, asilo restituído à sua verdade de jaula” (Foucault, 1978).

O público se sentia atraía pelo mundo fantástico que ali reservara, “um mundo adormecido de monstros” (Foucault, 1978).

Atribuía-se ao louco uma ideia de animalidade. Ele era visto como um ser desumano desprovido de racionalidade e da fragilidade humana e de sensibilidade da dor. Como o animal, o louco era humilhado e exposto ao sofrimento. Era tratado como tal e enjaulado:

Eis a descrição de um estabelecimento francês ao fim do século XVIII: “As loucas acometidas por um acesso de raiva são acorrentadas como cães à porta de suas celas e separadas das guardiãs e dos visitantes por

um comprido corredor defendido por uma grade de ferro; através dessa grade é que lhes entregam comida e palha, sobre a qual dormem; por meio de ancinhos, retira-se parte das imundícies que as cercam.” (Pereira, 1985)

Os loucos eram expostos como animais ao público para evidenciar a verdade e a virtude pela razão:

Os loucos são exibidos em espetáculo. Entre todas as formas do desatino são os loucos, curiosas espécies de animais, que merecem ser publicamente revelados. Como entre os loucos e os homens de razão não existe nenhum parentesco, a exibição dos primeiros não oferece perigo para os segundos. Ou melhor, aos olhos de uma razão segura de si mesma, há que se ter cuidado, apenas, contra os perigos do furor animal.

A sua animalidade o protegia contra as misérias do ser humano, como retrata Pereira (1985):

Através do modelo da animalidade, os estabelecimentos assumem o aspecto de jaula ou zoológico. Os loucos não são homens que perderam a razão, mas animais dotados de uma ferocidade natural que precisa ser fisicamente coagida. Despojando o homem de sua humanidade (isto é, racionalidade), a loucura o coloca em relação direta com a animalidade. E esta protege o louco contra as doenças, a fome, o calor, o frio, a dor, em suma, contra todas as misérias da existência.

Durante toda a Era Clássica, após a invenção do internamento, todos os socialmente desajustados tinham o mesmo destino dos loucos. Esta situação, na segunda metade do século XVIII, à partir da Revolução Burguesa que fizera aumentar o contingente com prisioneiros políticos, começa a gerar protestos por parte dos internos não-loucos contra o fato de serem confundidos ou misturados aos loucos.

Ser internado com os loucos significa receber uma punição adicional. Ser internado junto com os loucos é correr o risco da alienação. A loucura, em pouco tempo, torna-se o próprio símbolo do poder que interna. Os protestos são dirigidos, portanto, contra a mistura feita entre loucos e não-loucos e não contra a relação entre loucos e internamento. Ao contrário, entre a loucura e o internamento o vínculo se estreita tanto que se tornará quase essencial (Pereira, 1985).

A Revolução Burguesa e o surgimento de crises políticas e econômicas e do pensamento liberal começam a dar novos contornos ao internamento. Este modelo, então, passa a ser questionado quanto sua viabilidade econômica e acaba por se revelar uma medida incapaz de contribuir com a economia.O Liberalismo acreditava que quanto menos numerosa uma população, mais pobre ela se tornaria, já que a produção seria mais escassa, por essa razão a medida do internamento era um erro econômico. Primeiro, suprimia parte da população que poderia ser produtiva, segundo porque imobilizava parte das rendas produzidas já que os empreendimentos de assistência eram financiados pela burguesia. Neste sentido, os internos precisavam ser inseridos nos meios de produção. Com isso, os que apresentavam condições (pobres, mendigos, prostitutas, endividados, libertinos...) passaram a ser incluídos a sociedade - que os havia excluídos por meio do internamento - retomando o convívio social. O pensamento liberal entendia que a livre circulação da mão de obra faria a pobreza desaparecer.

Os loucos, neste momento, foram confiados às famílias e passaram a representar um perigo solto. As medidas para coibir este perigo era a sanção penal aos que os deixavam vagar livremente. Ou seja, ao louco restou liberdade dos internatos, mas o trancafiamento em suas casas.

Essa situação contribuiu com o fim dos internatos. Mas aos poucos, o ideal de casas reservadas apenas

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