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DIFERENTES OLHARES SOBRE O SUJEITO E A LOUCURA: SAÚDE MENTAL E CINEMA

Por:   •  28/3/2018  •  3.237 Palavras (13 Páginas)  •  480 Visualizações

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Logo em sua entrada no hospital, em uma conversa McMurphy e o diretor chegaram à conclusão de que ele não parecia apresentar nenhum distúrbio mental, porém, ficaria em observação. Mas mesmo estando neste período de estudo de seu caso, a enfermeira lhe entrega medicações para tomar. Ou seja, acontecia a medicação do paciente sem ao menos terem um diagnóstico sobre o seu caso. Ainda, quando McMurphy apresenta um comportamento que balança a ordem padrão instituída pelo programa do hospital é levado para receber “tratamentos” mais agressivos como eletro-choque.

A realidade que o filme passa é que a análise da real doença do indivíduo não entra como prioridade, assim como se observa na história da loucura, o que acontecia na institucionalização nos hospitais gerais. A instituição tanto na história, quanto a apresentada no filme, não apresentava uma finalidade de diagnóstico e de terapia voltada para este diagnóstico. Não buscava uma cura e sim o controle desses indivíduos e a segregação. Não buscava prepará-los para uma vida em sociedade e sim mantê-los fora da visão da sociedade. O Chefe, por exemplo, apresenta uma linha de raciocínio lógica, consegue falar e ouvir e em todo o momento em que se encontrava naquele ambiente ele utilizou como recurso de proteção a imagem de que não ouvia e não falava, e ninguém procurou atestar as razões clínicas, apenas o “tratavam”. Não representava perigo e nem demonstrava nenhum real problema de ordem psíquica, apenas era de classe indígena excluído da sociedade e sem família, pois o pai também foi institucionalizado e os tratamentos que recebeu o levaram a ficar com reais problemas de funcionamento cerebral. E ao contrário de muitos internos, tinha total consciência de que aquele lugar poderia acabar causando sérios problemas à sanidade das pessoas ao invés de resolvê-los.

Na instituição mostrada pelo filme percebe-se que o local é bem organizado, limpo, higienizado, os internos usam roupas limpas, possuem camas para dormir, podem jogar basquete, cartas; diferente da realidade de muitos hospícios vistos anteriormente na história. Porém, apesar dessa humanização, no sentido de tentar dar dignidade a essas pessoas às tratando, isso ocorria deliberadamente sem a devida atenção à subjetividade de sua “loucura”, os considerados loucos ainda permaneciam presos nessas instituições. No filme algumas pessoas estavam na instituição por vontade própria e outros não, entretanto, mesmo estando por vontade própria, a partir do momento que elas se sujeitavam ao tratamento da Instituição estavam encarceradas, pois não poderiam sair dali até que terminassem o tratamento (o que não parecia acontecer ou funcionar) ou o abandonasse (o que não eram autônomas o suficiente para fazer, o próprio modo de tratá-las fazia isto).

O filme retrata claramente o tipo de tratamento que aquelas pessoas recebiam: o tratamento moral; tratava-se naquela instituição as irregularidades dos costumes e dos hábitos de vida. Assim como afirma Amarante (2005) “no asilo se trabalhava com uma prática médica e pedagógica. A reclusão ficava a serviço da disciplina, já que o objetivo era o ‘tratamento moral’ do louco.” (AMARANTE, 2005, p. 15). Percebe-se de forma muito explícita, assim como nos asilos propostos por Pinel, a disciplina e as normas rígidas impostas pela enfermeira-chefe Ratched, uma vez que “a organização do espaço asilar e a disciplina rígida eram elementos importantes do tratamento, que consistia em confrontar a confusão do louco, sua ‘desrazão’, com a ordem do espaço asilar e com a razão do alienista (AMARANTE, 2005, p.16). Sendo assim, o alienista (o saber médico) é quem determina os padrões do funcionamento dos indivíduos, uma vez que aqueles indivíduos estavam ali sob supervisão e orientação médica, ou seja, em suma, o tratamento era centrado na autoridade do médico e na reeducação pedagógica.

McMurphy se mostra extremamente inconsequente e algumas vezes até agressivo, mas nenhuma “loucura”. Para passar o seu tempo, organiza festas, jogatinas, conversa com todos e tenta ensiná-los a jogar basquete. Ele acredita na capacidade de cada indivíduo que ali está, deixa de lado preconceitos e lida com todos como pessoas “normais”. Sequestra um ônibus e leva os internos para um passeio no mar. E de certa forma, mesmo quando sem intenção, leva aos internos o pensamento de que eles são capazes de realizar muitas coisas. Apesar de toda a suposta desordem causada por ele, os internos passam dias felizes e fortalecem suas amizades e autoestimas e encontram através dessa mediação alguma autonomia. Ao tratar todos os internos como pessoas normais e capazes, ele causa desordem no lugar, atraindo a antipatia dos responsáveis por manter a “ordem” e o controle dos internos, que procuram maneiras mais eficazes de controlá-lo.

Com o passar do filme, por meio da mediação oferecida por McMurphy, é possível perceber muitos internos que não tinham a real necessidade de estarem institucionalizados, mas que os próprios meios de manter o controle e a ordem da instituição acabavam causando ou piorando estas condições não sendo de nenhuma ajuda na esperada “cura”, que nunca chegava. E quando algum interno acreditava estar melhor, acabava convencido pela repressão e questionamentos agressivos da enfermeira chefe de que não estava em condições de ter sua vida em sociedade. Há uma manipulação de forma a tornar os internos totalmente dependentes do lugar.

Através da instituição retratada no filme percebe-se o hospital como elemento central, o pensamento de que a loucura é uma doença e que os loucos precisam ser institucionalizados. Observa-se essa institucionalização claramente no filme, uma vez que por vezes os indivíduos ali internados por mais que estavam ali por vontade própria e por mais que viviam reclamando do lugar, não tinham coragem para sair dali. Afirmavam sempre que ainda não estavam prontos para viver a realidade fora do hospital, mostrando assim a total dependência que eles sentiam do lugar apesar do isolamento, do tratamento moral, da obrigatoriedade de obediência às ordens – que eles mesmos sabiam não ter um sentido –, a aplicação de choques como forma de punir e acalmar, e de serem dopados. Esses indivíduos não eram incentivados ou estimulados a terem um papel social fora dos muros das instituições, tudo se resumia a acalmar aquelas pessoas e ensiná-las a cumprirem as ordens. O tratamento também era feito de forma violenta e desumana. Não se pensava uma perspectiva para aquelas pessoas para além do hospital. Elas próprias tinham a convicção de que não estavam prontas para lidar com a realidade social fora do hospital, como já dito,

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