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Análise de uma perícope de Gn 35,21-22a

Por:   •  13/6/2018  •  1.706 Palavras (7 Páginas)  •  444 Visualizações

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- História das origens (Gn 1-11): fala da origem do mundo e da humanidade. Situando inicialmente no paraíso, em seguida é permeada pelo clima do pecado, que segue uma série de injustiças e crimes que acabam provocando o dilúvio. Nem o dilúvio adianta a humanidade, pois comete um novo pecado de orgulho –torre de Babel- e é dispersada por toda a terra. Mas Deus responde a cadeia continua do mal com a vocação de Abraão, começo de salvação da humanidade.

- História dos patriarcas (Gn 12-50) as tradições de Abraão, Isaac e Jacó. Andanças e aventuras de pequenos pastores, sustentados por uma dupla promessa de Deus: descendência numerosa e terra. Que termina com o povo no Egito.

A perícope analisada encontra-se inserida nesse segundo bloco, cuja ideia principal do capítulo (35) diz respeito a um período de peregrinações de Jacó com sua família, bem como das bênçãos que recebeu de Deus em Betel, quando seu nome foi mudado para Israel (35,9) e obteve a promessa de que reis e nações sairiam dele, como também da posse da terra, que dera a Abraão e Isaac, ser sua e de sua descendência (35,11-12).

Nesse contexto de providência divina ocorre a traição de seu filho primogênito e sua concubina, o que na leitura da perícope parece ter ficado sem um desfecho. Contudo, encontramos outra referência ao fato ocorrido na leitura de Gênesis 49,3-4, já no momento próximo da morte de Jacó, quando ele reúne seus filhos para lhes distribuir sua benção. Jacó não deixa o pecado do filho oculto, ele fala aos filhos o acontecido, e por isso, não o deixou sem a devida responsabilização do ocorrido. No leito de morte, quando foi abençoar os filhos, Jacó os chamou um a um. Rúben deveria ser o principal abençoado, já que era o primogênito, mas Jacó lembrou-se do pecado dele (deitar-se com Bala) e não lhe deu a bênção.

A promessa de Deus feita a Abraão passou por direito de sucessão a Isaac e posteriormente a Jacó, e seria, por privilégio de nascimento (primogenitura), transmitida a Rúben. No entanto, diante de sua traição, perdeu o direito à primogenitura, e isto fica mais claro em 1Cr 5,1 “era de fato o primogênito; mas por ter violado o leito de seu pai, seu direito de primogenitura foi dado aos filhos de Jose, filho de Israel, e ele não foi mais considerado como primogênito”.(IBÁÑEZ, Pg. 448)

Estes desfechos (Gn 49, 3-4 e 1Cr, 5,1) relatados em um capítulo bem posterior e em um outro livro bíblico, mostra que Jacó não aceitou passivamente o fato ocorrido, ainda que a perícope não mostre com clareza isso.

- Síntese teológica

A perícope apresentada no contexto patriarcal é um texto que narra um acontecimento constrangedor e, porque não dizer, pecaminoso. Analisaremos a partir daqui o seu conteúdo teológico.

O versículo 21 começa tratando da partida de Jacó do local de sepultamento de Raquel e sua chegada em Magdol-Éder[1], onde fixou moradia temporária com sua família. Jacó teve filhos de suas quatro mulheres - Lia, Raquel, Bala e Zilpa -. Sendo as duas últimas concubinas. Seu filho primogênito era Rúben e nasceu de Lia.

De acordo com o versículo 22a, Jacó teve um aborrecimento inesperado, provavelmente impensável para ele. Talvez sua decepção fosse maior do que a tristeza pela recente viuvez, já que perdera Raquel- conforme a perícope anterior. Ele ficou sabendo que o primogênito, “meu vigor, as primícias de minha virilidade, cúmulo de altivez e cumulo de força” (Gn 49,3) havia se deitado com Bala. Apesar de aparentemente tudo ter ocorrido as ocultas, o pecado de Rúben não ficou escondido.

Anos mais tarde, quando toda a família já estava no Egito e quando Jacó estava em seus últimos dias, o adultério de Rúbem foi trazido à tona numa reunião de família. Todos ouviram o discurso acusatório do patriarca a Rúben: “impetuoso como as águas: não serás colmado, porque subistes ao leito de teu pai e profanaste minha cama, contra mim!” (Gn 49,4)

Provavelmente a situação foi constrangedora para todos, mas principalmente para Rúben, pois custou-lhe caro aquela atitude. Já que perdeu o seu direito de primogenitura como afirma 1Cr 5,1.

Ainda no contexto do povo de Israel, é preciso mencionar a recomendação de Deus na entrega das tabuas da lei no Êxodo 20,12, de honrar pai e mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. A atitude de Rúben foi, sem dúvida, uma desonra para com Jacó.

- Síntese hermenêutica

A perícope isolada parece não possuir uma mensagem significativa, no entanto, se a examinarmos em conjunto com outros textos (Gn 49, 3-4 e 1 Cr, 5,1), mostra que não é possível esconder para sempre e com absoluta segurança o que se faz escondido. Mostra também que um pecado pode ser de fato perdoado por Deus, mas isso não significa que ele sai da história daquele que pecou.

Ainda, pode-se vislumbrar esta perícope com o olhar da modernidade, onde a falta de seriedade e compromisso de casais leva a atitudes de traição.

Em suma, a punição de Rúben teve, na verdade, um peso na história de Israel, pois o rei Davi surge da tribo de Judá que se tornou o “primogênito” de Jacó.

- Bibliografia

Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002

DATLER, Frederico. Gênesis: texto e comentário. São Paulo: Ed. Paulinas, 1984.

FARMER, William. Comentário bíblico Internacional. Estella (Navarra), Editorial Verbo Divino, 1999.

FRANCISCO, Edson de Faria. Antigo Testamento Interlinear Hebraico-Português- Volume 1- Pentateuco; Barueri,

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