Aborto: crime ou direito?
Por: Hugo.bassi • 26/2/2018 • 6.826 Palavras (28 Páginas) • 454 Visualizações
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312 Rev Esc Enferm USP 2008; 42(2):312-20. www.ee.usp.br/reeusp/
Conflitos com a descoberta vivenciados da Recebido: Aprovado: gravidez
pelas adolescentes
03/07/2007 21/11/2007 Moreira TMM, Viana DS, Queiroz MVO, Jorge MSB
A R T I G O O R I G I N A L
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tado INTRODUÇÃO
mostram que, de cada 1000 adolescentes entre 10 e 19 anos, 42,9% engravidaram em 2001, e que 42,3% dos A adolescência delimita a transição da infância à ida- de adulta, cronologicamente abrangendo dos 10 aos 19
municípios do Estado apresentaram casos acima do esti- pulado(5). anos(1). Trata-se de um período de profundas modifica- ções, marcado pela transição entre a puberdade e o esta- do adulto do desenvolvimento. Nessa fase, a perda do papel infantil gera inquietação, ansiedade e insegurança frente à descoberta de um novo mundo.
O interesse por eleger mães adolescentes para o estu- do foi despertado em 2000, com o ingresso de uma das autoras no Programa Saúde da Família (PSF) de Cariús- Ceará, quando constatou a alta incidência de mães ado- lescentes. Atualmente, atuando no PSF de Jucás-Ceará,
Enquanto parte inerente do ciclo de vida humano, a adolescência constitui-se de características próprias, que a diferenciam das demais faixas etárias. Este é um perío- do confuso, de contradições, de formação da identidade e da auto-estima. É quando se deve deixar de ser criança para entrar no mundo adulto, repleto de responsabilida- des e cobranças, mundo este tão desejado pela sensação da liberdade a ser adquirida, mas também tão temido(2).
continua observando alto número de gravidezes entre adolescentes. Embora essa observação tenha se dado de forma empírica, o fato direcionou o olhar ao seguinte questionamento: Quais os conflitos comumente vivencia- dos pelas adolescentes com a descoberta da gravidez? Ante tal questionamento, foi realizado este estudo objetivando identificar os conflitos enfrentados pelas adolescentes atendidas em uma unidade de saúde após a descoberta da gravidez. Na adolescência, há a descoberta do corpo e dos ór- gãos sexuais. Nas meninas aumenta os seios, os quadris, a distribuição dos pêlos e ocorre a menarca. Esse amadurecimento físico se dá em decor- rência dos hormônios sexuais e do cresci- Atualmente, mento. Na busca do prazer, do conhecimento de si e de auto-afirmação, os jovens, não raro, tornam-se rebeldes e com acentuado com- prometimento de humor, porquanto vivem em
É sabido que existem vários trabalhos publicados acer- ca do fenômeno em pauta. Entretanto, cada vez que pesquisamos, uma faceta do tema pesqui-
os índices
sado se mostra, pois o conhecimento é dinâ- mico. Assim, é importante conhecer o mun- do/vida das pessoas para quem trabalha- mos, para que a nossa fala tenha sintonia com o nosso fazer.
constantes conflitos. Na realidade brasilei-
Este estudo revela-se de importância para ra, muitas vezes a adolescente, além dos con-
a enfermagem e demais profissionais da saú- de porque fornece subsídios acerca dos con- flitos enfrentados pelas adolescentes grávi- das e, assim, pode possibilitar uma prática mais pautada na realidade vivenciada por essas jovens.
REVISÃO DA LITERATURA
O despertar da adolescência
A adolescência é um período de mudanças, ocasiona- das por sua especial sinergia de fatores biológicos, psí- quicos, sociais e culturais. Nesta fase, o jovem se vê em meio a novas relações com a família, o meio em que vive, consigo mesmo e com os outros adolescentes(6). É nesse período da vida que ocorre a transição de um estado de dependência para outro de relativa independência(7).
Sendo a adolescência um processo de desenvolvimen- to biopsicossocial, pode ser marcada por crises, dificul- dades, mal-estar e angústia. Ao abandonar a condição infantil e buscar o ingresso no mundo adulto, o adoles- cente sofre acréscimos em seu rendimento psíquico. O intelecto, por exemplo, apresenta maior eficácia, rapidez e elaborações mais complexas, havendo acréscimo no seu desempenho global. Dessa forma, o adolescente pode for- mar condições de altivez e independência da experiência dos mais velhos. Achando que podem tudo, os adolescen- de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) demonstram o crescimento do flitos próprios da faixa etária, vê-se com
número de internações outras questões conflituosas, como a ocor- rência de uma gravidez.
para atendimento obstétrico nas faixas A gravidez é um período de grandes trans- formações para a mulher. Seu corpo se mo-
etárias de 10 a 14, 15 a 19 e 20 a 24 anos. difica e seus níveis de hormônios se alteram para a manutenção do feto. Com tantas novidades, essa fase pode acabar gerando dúvidas e sentimentos de fragi- lidade, insegurança e ansiedade na futura mamãe. Alguns dos principais temores são alterações na auto-imagem corporal e não ter uma criança saudável. Outros temores são relacionados ao feto e à função de gerar, nutrir e pa- rir. Tais temores podem desencadear fases de irritabilidade e de instabilidade de humor na grávida.
A gravidez é um período de transição biologicamente determinado, caracterizado por mudanças metabólicas complexas e por grandes perspectivas de mudanças no papel social, na necessidade de novas adaptações, rea- justamentos intrapessoais e mudanças de identidade(3).
Atualmente, os índices de atendimento do Sistema Úni- co de Saúde (SUS) demonstram o crescimento do número de internações para atendimento obstétrico nas faixas etárias de 10 a 14, 15 a 19 e 20 a 24 anos. As internações por gravidez, parto e puerpério correspondem a 37% das internações entre mulheres de 10 a 19 anos no SUS(4). No Ceará, dados divulgados pela Secretaria da Saúde do Es-
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Rev Esc Enferm USP 2008; 42(2):312-20. www.ee.usp.br/reeusp/
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