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Questões de gênero na educação infantil

Por:   •  21/6/2018  •  21.803 Palavras (88 Páginas)  •  272 Visualizações

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Palavras-chave: Gênero. Masculinidades. Feminilidades. Educação Infantil.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7

1. EDUCAÇÃO INFANTIL: HISTÓRIA E FUNCIONAMENTO 13

2. RELAÇÕES DE PODER NA ESCOLA 17

3. O FEMINISMO E O CONCEITO DE GÊNERO 19

4. OUVINDO AS VOZES DAS CRIANÇAS 24

4.1 – ALGUMAS CONCEPÇÕES...........................................................................................27

4.2 – UMA INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL.....................................................27

4.3 – AS CRIANÇAS, A TURMA...........................................................................................27

4.4 – DIALOGANDO COM AS CRIANÇAS: NOSSAS VOZES..........................................28

CONSIDERAÇÕES FINAIS 59

REFERÊNCIAS 62

APÊNDICE I – TERMOS DE CONSENTIMENTO 67

INTRODUÇÃO

Um exame de ultrassom permitiu que a primeira leitura sobre o meu corpo fosse realizada. Um médico disse: é menina, e, a partir disso, minha vida foi marcada de forma permanente. De maneira clara ou subentendida, me diziam o que fazer, como me vestir, como me portar, do que brincar e como brincar. Eu nasci menina e deveria me comportar como tal. Deveria viver em um mundo cor de rosa, rodeada de bonecas, maquiagens e princesas. Deveria aprender a ser mulher: ser gentil, educada, meiga, ajudar a cuidar dos meus irmãos e ajudar minha mãe nos afazeres domésticos.

Inventava maneiras de transgredir essas barreiras de gênero impostas. Gostava de brincar de jogos e brincadeiras consideradas “de meninos”, porém minha diferença biológica sempre falou mais alto. Passei grande parte da infância e da adolescência ouvindo comentários que, de tão naturalizados, pareciam mesmo certos. “Desse jeito você não vai casar”, “senta igual mocinha”, “você é uma princesa, princesa não faz isso”.

As composições de gênero determinam os valores e modelos desse corpo sexuado, suas aptidões e possibilidades, e criam paradigmas físicos, morais, mentais, cujas associações tendem a homogeneizar o “ser mulher”, desenhando em múltiplos registros o perfil da “verdadeira mulher”. Se o masculino também é submetido a modelos de performance e comportamento, a hierarquia que funda sua instituição no social desnuda o solo sobre o qual se apoia a construção dos estereótipos: o exercício de um poder que se exprime em todos os níveis sociais (SWAIN, 2001 p. 67).

Foi apenas no primeiro semestre de graduação no curso de Pedagogia pela Universidade Federal de São Carlos – Campus Sorocaba que comecei a perceber que tudo isso não era natural, mas sim parte de uma cultura machista, em que os homens eram vistos como superiores e as mulheres deveriam seguir determinados comportamentos para serem “mulheres de verdade”. Foi na disciplina de Sociologia da Educação que tive meu primeiro contato com o feminismo, movimento que, até então, era desconhecido para mim.

A partir do meu contato com algumas instituições de ensino de educação infantil, através de estágios obrigatórios e não obrigatórios, pude observar que apesar de estar presente o tempo todo, trabalhar as questões de gênero na Educação Infantil não é prioridade entre os projetos pedagógicos. Este trabalha diversos assuntos, mas deixa esse tema (que envolve como a identidade de cada indivíduo é construída) para outras demandas, e os profissionais da escola, por não saberem lidar com o tema, o trabalham de maneira conflituosa.

As crianças são bombardeadas a todo o tempo com falas e ações sexistas por parte dos profissionais da instituição. A escola funciona, então, como reprodutora de uma sociedade machista.

Durante as rotinas das crianças, notei muitas separações por sexo. As crianças chegavam à escola e já eram divididas em filas: uma para meninos e outra para meninas. Quando chegavam à sala de aula, havia a contagem dos alunos. Com um giz de cor rosa, o professor responsável pela turma colocava o número de meninas presentes na sala, e, com um giz de cor azul, o número de meninos. Até quando brincavam havia essa separação. Os meninos podiam fazer coisas e as meninas não, pois, segundo o docente, para as meninas era “perigoso”. Essas interiorizações de gênero ocorriam sempre, e eram vistas como certas ou erradas a partir de repreensões, que faziam que a criança distinguisse o que deveria ou não fazer. Observei que o brincar inocente passava a ser vigiado por normas presentes na sociedade, fazendo com que as crianças apresentassem um comportamento tido como adequado ao próprio sexo, com essa observação de norma podendo gerar nas meninas, muitas vezes, fragilidade e insegurança.

Para Moreno (1999), em seu currículo o modelo escolar esconde uma cultura sexista e androcêntrica. A cultura androcêntrica diz respeito a uma estrutura preconceituosa, baseada no patriarcado. O homem é tido como o centro e suas experiências são tidas como verdades universais. Há o sexismo intensificando essa ideia, colocando a mulher como inferior ao homem.

Também pude notar que até mesmos os filmes passados para as crianças faziam essa separação. Nas escolas, os filmes favoritos dos professores e das crianças sempre foram os clássicos da Disney. Assistindo a alguns filmes, observei que durante as produções eram repetidos os comportamentos esperados por homens e os comportamentos esperados por mulheres. Nas produções, ser homem é ter comando e força, e ser mulher é ser submissa e frágil.

Não faltam exemplos, tanto nas instituições de ensino que tive a oportunidade de estagiar, como na escola em que realizei esta pesquisa, de situações em que há uma divisão por sexo, tanto nas brincadeiras como em outras atividades. Fazendo uma relação com o texto de Finco (2015), vemos que essa divisão ocorre com a influência dos adultos, e não é natural das crianças. Segundo a autora, há muitos esforços para que as crianças criem uma identidade de gênero masculina ou feminina. As preferências e comportamento não são provenientes do corpo biológico, mas sim construídas pela sociedade através do tempo. Sendo assim, não há como

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