PROTAGONISMO INFANTIL SEGUNDO REGGIO EMILIA
Por: SonSolimar • 15/6/2018 • 1.793 Palavras (8 Páginas) • 523 Visualizações
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Mas, afinal, quem foi Loris Malaguzzi? Loris Malaguzzi foi um educador e professor italiano formado em Pedagogia pela Universidade de Urbino.
Malaguzzi foi o principal idealizador da abordagem Reggio Emilia, desenvolvendo a teoria das cem linguagens da criança e a pedagogia da escuta.
Assim coloca-se Malaguzzi:
A criança é feita de cem./A criança tem cem mãos/cem pensamentos/ cem modos de pensar/ de jogar e de falar.
Cem sempre cem/modos de escutar/ as maravilhas de amar./ Cem alegrias pra escutar e compreender./Cem mundos/ para descobrir./Cem mundos/ para inventar./Cem mundos/ para sonhar./A criança tem/cem linguagens/(e depois cem cem cem)/mas roubaram-lhe noventa e nove./A escola e a cultura/lhe separam a cabeça do corpo.
(Trecho de As Cem Linguagens da Criança de Loris Malaguzzi)
Podemos afirmar que a criança aprende com o corpo todo, assim sendo, é importante que as escolas que fazem uso da abordagem criem seus “laboratórios do fazer”, onde se misturam as tradicinais linguagens gráficas com atividades que estão ligadas ao corpo, ao movimento, podendo também fazer atividades de comunicação verbal e não-verbal, manejo de ferramentas multimídia, tudo isso em um espaço agradável, dando liberdade para que a criança possa se expressar, lembrando e observando, sempre, que cada criança deve ser atendida conforme suas necessidades.
Um dos diferenciais da abordagem de Reggio Emilia com relação à rotina de nossas escolas está no fato de que os pais podem entrar nas salas de aula e interagir com seus filhos. E não há um tempo determinado para o encerramento dos projetos, enquanto há assunto para ser explorado ele pode, e deve, vigorar até que as crianças tenham satisfeitas suas curiosidades sobre aquele assunto.
Outro ponto que também chama muito a atenção é que o professor muitas vezes fica na porta da sala apenas observando seus alunos, fazendo suas anotações a respeito de cada um. Literalmente é ver as crianças aprenderem brincando.
As salas de aula não possuem carteiras e os alunos não tem a obrigação de ficar assentados esperando que o professor explique determinada disciplina, as aulas acontecem de maneira alternativa, ensinando a criança a pensar e a indagar-se a si mesma e aos outros. Isso traz respostas muito positivas no desenvolvimento cognitivo dessas crianças. Outro ponto muito interessante é que quando a criança começa um trabalho como uma torre de copos ou de blocos, por exemplo, e por algum motivo ela não teve tempo para terminar, ela não tem que desmanchar o que está pronto para começar do zero no dia seguinte, ela para o trabalho e no outro dia ela continua de onde parou. Isso faz com que ela não perca o “fio da meada” e não se sinta desestimulada em fazer longos trabalhos manuais.
Nas cidades italianas onde a abordagem vigora, é comum ver desenhos dos alunos expostos em locais públicos como estações de metrô ou em praças onde há grande fluxo de gente. As crianças sentem-se importantes, valorizadas por ter seu trabalho ali exposto não para um julgamento, mas para a apreciação da comunidade.
E talvez seja essa aproximação da escola com a comunidade que faça do projeto um sucesso absoluto tal como ele é. Os pais estão sempre por dentro de tudo o que acontece no ambiente escolar e, por outro lado, os professores ampliam os espaços de seus alunos com a possibilidade de exploração fora daquele ambiente de tal forma que não haja uma rotina que seja estressante ou enjoativa para ambos (docentes e discentes) e, assim sendo, como o mundo é o limite, a abordagem permite que se trabalhe de formas variadas: numerais, o pictórico, que é um objeto tão importante especialmente na formação dos primeiros anos, isso sem falar no controle motor, senso de coletividade, ludicidade, enfim, abre-se um leque de oportunidades à frente do professor observador.
Gandini explica sobre a abordagem de maneira bastante clara e sucinta quando diz:
Nos últimos 30 anos, o sistema criou um conjunto singular e inovador de suposições filosóficas, currículo e pedagogia, método de organização escolar e desenho de ambientes que, tomados como um todo unificado, chamamos de abordagem de Reggio Emília. Essa abordagem incentiva o desenvolvimento intelectual das crianças por meio de um foco sistemático sobre representação simbólica. As crianças pequenas são encorajadas a explorar seu ambiente e a expressar a si mesmas através de todas as suas cem "linguagens" naturais ou modos de expressão, incluindo palavras, movimento, desenhos, pinturas, montagens, escultura, teatro de sombras, colagens, dramatizações e música. (EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999, p. 21)
A abordagem até hoje é exemplo para o mundo todo e nenhum outro modelo de aprendizado me parece tão bem sucedido quanto esse.
Essa interação entre escola e comunidade só tende a trazer bons resultados. O fato de ensinar aos alunos o convívio harmonioso com todos os profissionais da escola, levando-os muitas vezes para ambientes como a cozinha, trabalham muito mais que coordenação, tato, olfato e paladar. Essas atitudes ensinam valores como respeito pelo próximo e moldam o caráter da criança, coisas que farão a diferença pelo resto de suas vidas.
Sabemos que algumas escolas no Brasil já reconheceram a importância dessa abordagem reggiana e tentam adaptar esse estilo à nossa realidade escolar.
Em Joinville, no estado de Santa Catarina, uma professora aceitou o desafio de construir uma praça com sua turma de alunos de 4 anos segundo a abordagem de Reggio Emilia.
Ela traçou uma estratégia e pôs a garotada para explorar o espaço e estudar sobre o que fariam na praça. Utilizaram pneus reaproveitados e fizeram mosaicos com diferentes materiais. Hoje, a praça que foi inaugurada com a presença das famílias, é utilizada por toda a comunidade escolar.
Muitas adaptações precisam ser feitas no ambiente físico de uma escola quando ela decide adotar a abordagem reggiana, pois, nessas escolas, as cozinhas, por exemplo, são todas envidraçadas para permitir que haja interação entre os alunos e os funcionários que estão preparando o alimento.
O pátio dessas escolas também possui uma área ao ar livre para que as crianças possam explorar e recolher material para os seus experimentos. Outra adaptação importante que nossas escolas infelizmente não possuem é a presença de uma atelierista
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