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O CAMINHO MELHOR JOVEM: POLÍTICAS DE INCLUSÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PARA AS ÁREAS OCUPADAS PELAS UNIDADES DE POLÍCIA PACIFICADORA.

Por:   •  22/3/2018  •  2.455 Palavras (10 Páginas)  •  468 Visualizações

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A adoção de projetos como o Caminho Melhor Jovem, nos alerta para alguns pontos como: a demanda por projetos que visam à parceria público-privada; a valorização do trabalho técnico; a necessidade de justificar a ocupação das áreas pela policia. Por outro lado, pouco se fala sobre o os projetos educacionais voltados para os jovens das comunidades, e como eles participam nesse novo momento histórico.

O presente trabalho é o primeiro passo do projeto de mestrado em desenvolvimento e abordará apenas a relação entre o programa e os cursos técnicos. Fundamenta-se teórica e metodologicamente no materialismo histórico.

A partir dessas premissas, desejo investigar o encaminhamento que o Caminho Melhor Jovem segue para realizar o desejo das juventudes que buscam suporte financeiro e motivacional para ingressar em cursos técnicos, universidade e principalmente, no mercado de trabalho.

As contradições do programa

A educação na sociedade contemporânea burguesa é pensada como uma ponte para o trabalho. Não no trabalho no seu sentido ontológico explicitado em Marx (MARX, 2004), onde o mesmo é base para as relações entre o homem e a natureza, as sociais, e educativas. O trabalho para Marx pode ser entendido como o “processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza” (MARX, 2004b, p.211), e possui uma “dupla centralidade quando concebido como valor de uso: é criador e é mantedor da vida em suas múltiplas e históricas necessidades e, como decorrência dessa compreensão, é principio educativo” (PEREIRA, 2014, p 60).

Como hipótese inicial, há a prerrogativa que, ao pensarem na inclusão da juventude excluída no mercado de trabalho, pode ser criado um “modelo libertador” (FREIRE, 2005), uma práxis educativa capaz de libertar o homem da situação de opressão, ao qual se encontra sujeitado, através da libertação de sua consciência, tornando-o sujeito crítico e reflexivo, capaz de transformar sua realidade e inserir-se na sociedade de forma efetiva. Ao mesmo tempo, atendendo aos aparelhos “privados de hegemonia” (GRAMSCI, 1989), o Caminho Melhor Jovem orienta a juventude para cursos técnicos, voltados para as demandas de mercado. Abaixo explicito a parceria do programa e a rede Faetec.

A parceria entre o Caminho Melhor Jovem e a Rede Faetec entra na segunda fase. Até a próxima quinta-feira (31/03), novas vagas estão abertas para 18 cursos profissionalizantes de diversas áreas de atuação. Entre as ofertas, estão oportunidades para camareira em meios de hospedagem, bartender, montador e reparador de computadores, entre outros. Os cursos de formação são oferecidos em 23 unidades da Faetec que estão localizadas em diversas regiões da cidade do Rio. As inscrições devem ser feitas nos territórios do CMJ onde o jovem interessado é atendido. [8]

Outro ponto que nos atenta a guinada do projeto para atender as demandas do mercado, deslocando-se ainda mais da ideia de trabalho para Marx, é marcado pelo início do projeto “Jovem Criativo” na favela do Jacarezinho. A partir de atividades em grupo, o projeto tem como finalidade o desempenho e o protagonismo do jovem no ambiente de trabalho.

O Projeto tem como objetivo estimular o desenvolvimento criativo dos(as) jovens no mercado de trabalho por meio de atividades artísticas, e será ministrado em quatro módulos. Os temas abordados serão: identidade; criatividade; conflito; e relações no trabalho. Ao final de cada módulo o(a) aluno(a) receberá um certificado.[9]

Até o presente momento, podemos concluir que o Caminho Melhor Jovem desviou seu foco inicial para atender as demandas de mão de obra do mercado. No próximo ponto farei uma rápida analise da conjuntura do neoliberalismo com intuito de relacionar a conjuntura internacional com a adoção de projetos sociais nas favelas ocupadas pela UPP.

O Neoliberalismo

O neoliberalismo veio acompanhado de novas modalidades políticas, ideológicas (JAMESON, 2002) e de relações de trabalho. Na área de educação, as políticas públicas sofreram uma série de redirecionamentos a partir da crise do capitalismo de 2007, repaginando as relações do neoliberalismo com os países periféricos. A doutora Sonia Maria Rummert já alertava para esse processo em seu estudo sobre políticas públicas para educação de jovens e adultos no Brasil na última década do século XX:

Nas duas últimas décadas, empreendeu-se, no Brasil, um processo de reformas da matriz neoliberal que resultou na desconstrução dos compromissos ético-políticos e sociais firmados pelo Estado na Constituição de 1988. Tal processo correspondeu às demandas para a inserção do país, de forma associada e subalterna, no atual quadro hegemônico mundial. É, assim, nos marcos da nova ordem econômica internacional e de adaptação do Estado brasileiro à concepção de estado mínimo, que é empreendida a reforma educacional brasileira na década de 1990. Combinando centralização das decisões com descentralização das ações e das responsabilidades de execução, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96) e demais instrumentos legais imprimiram às políticas públicas, no âmbito da educação, o tom acentuadamente pulverizado e compensatório. Tal lógica, que orienta as políticas educacionais, redefiniu também o financiamento público e o conteúdo da ação governamental, passando a priorizar estratégias de focalização em grupos de extrema pobreza. (RUMMERT, 2007, p.31)

A reestruturação do capitalismo encontrou nos países periféricos um amplo espaço para implementação de políticas que visassem à incorporação de um novo modelo de cidade. Com a aproximação dos megaeventos no Brasil, o país se tornou um lugar altamente profícuo à experimentação de novas práticas do capitalismo. O exemplo mais denunciador é a cidade do Rio de Janeiro, nosso foco. Analisando as novas diretrizes do capitalismo na educação, proponho uma necessidade de salientar uma proposta crítica-reflexiva da relação trabalho e educação para além do capital.

A adoção de projetos como o Caminho Melhor Jovem, nos alerta para alguns pontos como: a demanda por projetos que visam a parceria público-privada; a valorização do trabalho técnico; a necessidade de justificar a ocupação das áreas pela policia. Por outro lado, pouco se fala sobre o processo de formação dos jovens das comunidades, e como eles se enxergam, enquanto protagonistas nesse novo momento histórico.

Na obra intitulada A miséria da teoria ou um planetário de erros,

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