O entre lugar do discurso latino-americano
Por: Hugo.bassi • 27/9/2017 • 1.404 Palavras (6 Páginas) • 531 Visualizações
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Existe uma abordagem sobre a comunicação que pode servir como ferramenta de reconhecimento do outro, mas também percebemos que há um meio de assimilação e de dominação, nos mostra a impressão de vários personagens da época acerca do outro. Podemos dividir a obra em alguns aspectos: o não discernimento do outro enquanto humano, a comunicação como uma ferramenta de dominação e variações da intuição do outro.
Na primeira parte da obra que é intitulada “Descobrir” é destacado o contato entre Europa e América resultado da procura das Índias por Colombo e que resultou na descoberta do Novo Mundo. O relacionamento com o outro neste mundo não é nada fácil. Todorov observa: “... Colombo descobre a América, mas não os americanos...”, esta sentença demonstra a questão de inferioridade do indígena para o europeu.
Essa ausência de interesse pelo outro se torna claro neste momento, visto que só é possível perceber a presença do outro em meio aos relatos que Colombo faz da natureza. Logo no primeiro contato os descobridores portugueses viam os indígenas como meros objetos vivos, como uma simples parte da paisagem, ou seja, não os consideravam como ser humano, deixando claro o desinteresse para com os indígenas neste momento.
Já os astecas pensaram na possibilidade dos espanhóis serem criaturas de origem divina; o que pode explicar o medo inicial, mas logo essa hipótese foi rejeitada pelos indígenas assim que perceberam o comportamento ganancioso dos espanhóis, que Todorov identificou esse comportamento como a cobiça e a busca por riquezas e prazeres.
O escritor da obra nesta segunda parte, denominada “Conquistar” apresenta a maneira pela qual se firmou a conquista da América apresentando a comunicação como um dos pontos cruciais para a dominação do outro. A comunicação, entretanto é completamente diferente entre Cortez, que a compreende de forma inter-humana, e Montezuma, que a entende como o mundo (a exemplo de Colombo). Extremamente habilidoso em fazer estratégias, Cortez conhece a importância da informação, então utiliza a linguagem como uma importante ferramenta na conquista, a comunicação inter-humana melhor lhe serviu para o domínio do outro, procurou entender a mentalidade do outro de modo a suplantar esta outra cultura.
Outro ponto que chama bastante atenção é a importância que os astecas davam aos signos, ao calendário cíclico e às interpretações das mensagens de seus deuses através de adivinhações e presságios, ou seja, a comunicação dos índios com os deuses, a semiologia.
Percebemos que ao fazer a comparação entre dois mundos completamente diferentes, a obra de Todorov faz-nos pensar em nossa sociedade, leva-nos a refletir sobre nossas atitudes com relação à maneira que tratamos e julgamos o que fazemos com outras sociedades (ou de outros grupos menores, ou até de outras pessoas). O autor nos aponta que deste modo que o questionamento sobre a ideia de “meus” valores sobre o “outro” não é uma questão antiga, mas atual.
“Somos parecidos com os conquistadores e diferentes deles; seu exemplo é instrutivo, mas jamais teremos a certeza de que não nos comportando como eles, não estamos justamente a imitá-los”. (TODOROV, 2003, p.38)
O que faz com que nos leve a refletir sobre a mensagem que transmite em sua obra leva-nos a interrogar, por exemplo, se nossas atitudes de certo modo não são certos aspectos do reflexo da maneira de agir dos espanhóis na época da conquista, que tomaram a sua sociedade, os seus valores como o ideal e como o modelo a ser seguido pelos outros? Será que não atribuímos nossos valores e princípios baseado na decisão de outras sociedades no sentido de aceitar a igualdade do outro?
Este ponto de vista da obra de Todorov não só apresentou um significado importante para a própria história da América ao estudar o procedimento de conquista, como ajudou de forma relevante para a Antropologia no modo de pensar a questão do outro, mais precisamente ao relacionar com o etnocentrismo estudado nesta ciência como um meio incorreto de se estudar as sociedades.
Referências bibliográficas
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. 2ª edição. Martins Fontes. São Paulo, 2003.
SANTIAGO, Silviano. Uma literatura nos trópicos. Ensaios sobre dependência cultural. 2ª edição. Rocco. Rio de Janeiro, 2000.
https://ensaiosjuridicos.wordpress.com/2013/03/28/da-invasao-da-america-aos-sistemas-penais-de-hoje-o-discurso-da-inferioridade-latino-americana-jose-carlos-moreira-da-silva-filho/ acesso em 16/01/2016 às 21h19
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