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Análise dos discursos das Capas das Revistas Carta Capital, Época e Veja

Por:   •  19/8/2017  •  2.893 Palavras (12 Páginas)  •  515 Visualizações

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regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou linguística, as condições de exercício da função enunciativa (FOUCAULT, 1971).

É necessário considerar todas as condições de produção de linguagem, pensando o sentido conforme o espaço, o tempo, que propiciaram o discurso. Mesmo que a responsabilidade pela produção discursiva seja atribuída ao sujeito, a A.D. de linha francesa descentra o sujeito de linguagem, pois acredita que o mesmo sofre interferência da história, da língua, da religião, de questões políticas, não tendo controle sobre o discurso, o que leva à conclusão de que o mesmo não é transparente. Sendo assim, é necessário que se analise não somente os enunciados, mas também o que está por trás deles.

Os sentidos não estão só nas palavras, nos textos, mas na relação com a exterioridade, nas condições em que eles são produzidos e que não dependem só das intenções dos sujeitos. Os dizeres não são, como dissemos, apenas mensagens a serem decodificadas. São efeitos de sentidos que são produzidos em condições determinadas e que estão de alguma forma presentes no modo como se diz, deixando vestígios que o analista de discurso tem de apreender. São pistas que ele aprende a seguir para compreender os sentidos aí produzidos, pondo em relação o dizer com sua exterioridade, suas condições de produção. Esses sentidos têm a ver com o que é dito ali, mas também em outros lugares, assim como o que não é dito, e com o que poderia ser dito e não foi (ORLANDI, 2005).

No caso dos media existem dois pontos: a produção e a recepção. Nesse primeiro, é onde ocorre a enunciação do discurso, ou seja, a fabricação da notícia, que será transmitida pelos media, carregada das intenções e ideologias do jornalista e da empresa de comunicação. Quando esse discurso é construído, ele é feito direcionado a um determinado destinatário, podendo o enunciador reunir informações sobre seu hipotético público. Porém, ao reconstruir o sentido, a interpretação do interlocutor pode não coincidir exatamente com o que o enunciador pretendia representar, pois depende dos conceitos pré-construídos de quem lê a notícia, tornando o ato de enunciação assimétrico.

Se por um lado os media buscam transmitir ao público os acontecimentos de maneira legítima, cumprindo o compromisso de construir um discurso verdadeiro, por outro objetivam aumentar o consumo dessa informação, o que muitas vezes pode trazer certa dramatização às notícias, apelando-se para o lado emocional do leitor, na tentativa de que o mesmo partilhe de um mesmo ponto de vista do enunciador.

No caso do objeto de estudo, as capas das revistas Carta Capital, Época e Veja, deve-se analisar não somente texto e imagens, mas o implícito, o “não dito”, que também constitui o discurso. Segundo Ducrot, o “não dito” permite que se diga algo sem se comprometer como se o tivesse dito, beneficiando-se da eficácia da fala e da inocência do silêncio.

3- Análise do Corpus

Capa da revista Carta Capital

Título: “Lava Jato a toda. As novas prisões ampliam as perspectivas da operação. Sergio Moro, por Nirlando Beirão”.

O primeiro objeto de análise é a capa da revista Carta Capital, publicada no dia 2 de novembro de 2015, onde encontramos as fotos de Delcídio do Amaral, André Esteves e José Carlos Bumlai. As fotos, em preto e branco, têm o mesmo tamanho e ocupam a totalidade da capa, o que produz o efeito de sentido de que a responsabilidade das acusações são iguais. Além disso, a disposição das fotos faz com que se enxergue apenas a parte central dos rostos, como se fossem vistos através de grades (metáfora visual). Delcídio do Amaral tem uma expressão de tensão e seus olhos direcionados para cima, como se estivesse sendo observado e julgado por alguém posicionado acima dele. André Esteves aparece no centro da capa, entre Delcídio e Bumlai, produzindo o efeito de sentido de que o banqueiro talvez seja o elo entre os outros dois acusados. Na foto, Esteves tem uma expressão tranquila, confiante, esboçando leve sorriso e olhar direcionado para a frente, como se olhasse diretamente para o leitor, como se fosse alguém que não tem nada a temer. E, à direita, José Carlos Bumlai aparece esboçando preocupação, testa franzida e queixo levemente abaixado, como se estivesse envergonhado. Além das fotografias, textualmente, a capa traz nove enunciados. Os três primeiros aparecem na parte superior, dentro de uma caixa retangular branca, ocupando um mesmo espaço e estão separados do restante da capa, o que leva à suposição de que são assuntos não relacionados à matéria principal. O quarto enunciado, também dentro dessa faixa retangular branca, está destacado dos demais, dentro de um círculo azul e acompanhado da fotografia do rosto de um homem. Neles podemos ler:

Enunciado 1: Argentina. Macri vence as eleições. O mais difícil será implantar seu modelo;

Enunciado 2: Fraude. Como funcionava a manipulação do real nos bancos estrangeiros;

Enunciado 3: Memória. A autobiografia de um escravo brasileiro liberto, 160 anos depois;

Enunciado 4: + QI. Jornalistas na tela (Além de Chatô) pág. 65.

Os três próximos enunciados que aparecem na capa do periódico são os nomes de Delcídio do Amaral, André Esteves e José Carlos Bumlai, em caixa-alta, fonte na cor preta e posicionados centralizados em frente de cada respectiva foto, identificando os personagens.

O último enunciado aparece em destaque, na cor preta, dentro de duas faixas amarelas atravessadas na parte inferior da capa que, associadas às fotos em preto e branco, atraem o leitor à leitura.

Enunciado 8: Lava jato a toda. As novas prisões ampliam as perspectivas da operação. Sergio Moro, por Nirlando Beirão.

O enunciado 8 situa o leitor sobre o tema central da matéria, as últimas prisões efetuadas dentro da Operação Lava Jato que, associadas às fotos, levam ao entendimento de que se trata das prisões de Amaral, Esteves e Bumlai. O nome de Sergio Moro aparece na cor vermelha, dando destaque ao nome do juiz no enunciado, chamando a atenção do leitor para esse quarto personagem.

Capa da revista Época

Título: “25 de novembro de 2015, o dia que não terminou. A prisão do líder

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