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A REPRESENTAÇÃO DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM HISTÓRIAS DE CHICO BENTO

Por:   •  11/12/2018  •  3.377 Palavras (14 Páginas)  •  372 Visualizações

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Nossa língua tem uma grande desaprovação por ainda ter um foco radical nas regras gramaticais, valorizando uma linguagem baseada em regras e, qualquer variação do padrão, é considerada errônea o que é muito prejudicial a ela. BAGNO (1999, p.15 e 16) afirma que:

...ao não reconhecer a verdadeira diversidade do português falado no Brasil, a escola tenta impor sua norma lingüística como se ela fosse, de fato, a língua comum a todos os 160 milhões de brasileiros...

...a verdade é que no Brasil, embora a língua falada pela grande maioria da população seja o português, esse português apresenta um alto grau de diversidade e de variabilidade, não só por causa da grande extensão territorial do país — que gera as diferenças regionais, bastante conhecidas e também vítimas, algumas delas, de muito preconceito —, mas principalmente por causa da trágica injustiça social que faz do Brasil o segundo país com a pior distribuição de renda em todo o mundo. São essas graves diferenças de status social que explicam a existência, em nosso país, de um verdadeiro abismo lingüístico entre os falantes das variedades não-padrão do português brasileiro — que são a maioria de nossa população — e os falantes da (suposta) variedade culta, em geral mal definida, que é a língua ensinada na escola.

O estudo da língua deve iniciar pelo que tem de mais valioso, a variação, valorizando e favorecendo a compreensão da mesma e não procurando eliminá-la, salientar que existem sim variações e que o preconceito caminha lado a lado com ela.

O preconceito linguístico nada mais é do que um preconceito social que diferencia e separa as classes sociais, censurando ou estimulando falantes da língua portuguesa brasileira. Para Bagno (2007, p. 9) “O preconceito lingüístico está ligado, em boa medida, à confusão que foi criada, no curso da história, entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer essa confusão.”.

É importante mostrarmos que a sociedade define uma língua como padrão de prestígio social, porém, isso não significa que a sua identidade, a sua raiz esteja errada. A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes, o uso dela varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme. Dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua.

Partindo da premissa de que existem variações e preconceito, falaremos sobre o preconceito recorrente a fala caipira. No Brasil existe um acesso privilegiado a educação para a população urbana e isso criou uma distinção grande entre campo e cidade. Para o professo5tr José de Sousa Martins, o dialeto caipira é um misto da língua metropolitana e da indígena, ele diz:

“O considerado “falar errado” nesse caso de fato não é “errado”. Trata-se de um dialeto. No caso do falar caipira, trata-se do dialeto caipira, uma variação dialetal da língua portuguesa fortemente influenciada pelo nheengatu ou língua geral”. O dialeto caipira decorreu, no meu modo de ver, da predominância do português falado sobre o português escrito, num universo de fala em que a população também falava nheengatu cotidianamente, mais do que o português. Minha impressão é a de que o dialeto caipira resulta das dificuldades de nheengatu-falantes para falar o português. É nesse sentido que afirmo que o dialeto caipira é uma derivação ou um desdobramento do nheengatu. Ou seja, estamos falando de populações bilingües. É claro que o dialeto caipira, como qualquer língua, também é dinâmico e evolui. Nota-se isso na facilidade de incorporação de palavras novas da língua portuguesa, neologismos, mas também estrangeirismos, devidamente adaptados à pronúncia dialetal […]

As dificuldades de pronúncia de certos sons da língua portuguesa pelos índios dos séculos XVI a XVIII e também pelos mestiços, seus descendentes, os chamados caipiras, marcaram fundo as sonoridades do dialeto caipira […]

Na verdade, o dialeto caipira, resíduo de uma proibição do rei de Portugal, se refugiou no interior do Brasil, onde era menor o alcance da repressão lingüística determinada pelo monarca no século XVIII.” (Martins, 2007)

Esclarecendo as origens e os porquês do preconceito com o caipira, podemos reconstruir e reeducar nossos pontos de vistas e voltá-los não à tolerância, mas à riqueza da nossa história e à sua diversidade. O caipirês, ou dialeto caipira, é uma linguagem regional que não segue os padrões da norma culta da Língua Portuguesa, mas que, como qualquer outra língua, identifica um povo, conta sua história e expõe a cultura.

O dialeto Caipira não ficou apenas no regionalismo, ou no boca a boca; ele foi parar nas páginas das histórias em quadrinhos, que nada mais são que toda e qualquer representação gráfica. Esses quadrinhos, Histórias em Quadrinhos, gibis, revistinhas, enfim, as conhecidas HQs, são narrativas feitas com desenhos sequenciais, em geral no sentido horizontal, e normalmente acompanhados de textos curtos de diálogo e algumas descrições da situação, convencionalmente apresentados no interior de figuras chamadas "balões". Guimarães (2005, p.2):

“História em Quadrinhos é a forma de expressão artística que tenta representar um movimento através do registro de imagens estáticas. Assim, é História em Quadrinhos toda produção humana, ao longo de toda sua História, que tenha tentado narrar um evento através do registro de imagens, não importando se esta tentativa foi feita numa parede de caverna há milhares de anos, numa tapeçaria, ou mesmo numa única tela pintada. Não se restringe, nesta caracterização, o tipo de superfície empregado, o material usado para o registro, nem o grau de tecnologia disponível. Engloba manifestações na área da Pintura, Fotografia, Desenho de Humor como a charge e o cartum, e até algumas manifestações da Escrita”. (apud Guimarães, 1999).

No Brasil essas histórias começaram a aparecer durante o início do século XX, influenciadas pelas histórias de super-heróis norte-americanos. Apesar de não ser originária do Brasil, no país, a tira desenvolveu características diferenciadas, sob a influência da rebeldia contra a ditadura durante os anos 60 e mais tarde de grandes nomes dos quadrinhos underground nos anos 80, ganhando uma personalidade muito mais irreverente comparada à norte-americana. Iannone (1996, p. 48) diz:

Acredita-se que a revista brasileira O Tico Tico tenha sido a primeira do mundo a apresentar histórias

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