Fichamento : A Conquista da América
Por: eduardamaia17 • 22/5/2018 • 4.140 Palavras (17 Páginas) • 527 Visualizações
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“Sabe-se que uma longa discussão oporá Colombo aos reis (e depois será instruído um processo entre os herdeiros de ambos), que se refere justamente ao total dos lucros que o Almirante estaria autorizado a retirar das "Índias". Apesar de tudo isso, a ambição não é realmente a força motriz da ação de Colombo. Importa-se com a riqueza porque ela significa o reconhecimento de seu papel de descobridor, mas teria preferido o rústico hábito de monge. O ouro é um valor humano demais para interessar a Colombo, e devemos acre ditar nisso quando ele escreve no diário da terceira viagem:
"Nosso Senhor bem sabe que eu não suporto todas estas penas para acumular tesouros nem para descobri-los para mim; pois, quanto a mim, bem sei que tudo o que se faz neste mundo é vão, se não tiver sido feito para a honra e o serviço de Deus" (Las Casas, Historia, 1, 146).
E no fim de seu relato da quarta viagem: "Não fiz esta viagem para nela obter ouro e fortuna; é a verdade, pois disso toda esperança já estava morta. Vim até Vossas Altezas com uma intenção pura e um grande zelo, e não minto" ("Carta Raríssima", 7.7.1503).”
(p. 6, 7)
Mas além do acúmulo de ouro, Colombo também estava motivado por uma perspectiva religiosa.
“[...] de acordo com Marco Polo,
"há muito tempo o imperador de Catai pediu sábios para instruí-lo na fé de Cristo" ("Carta Raríssima", 7.7.1503),
e Colombo quer fazer com que ele possa realizar este desejo. A expansão do cristianismo é muito mais importante para Colombo do que o ouro, e ele se explicou sobre isso, principalmente numa carta destinada ao papa. Sua próxima viagem será "para a glória da Santíssima Trindade e da santa religião cristã", e para isso ele "espera a vitória do Eterno Deus, como ela sem pre me foi dada no passado"; o que ele faz é "grandioso e exaltante para a glória e o crescimento da santa fé cristã".” (p. 7)
As dois objetivos, o do enriquecimento e da missão religiosa, se unem quando Colombo expressa ver na expedição um caminho que o levará a uma possível cruzada.
“Além disso, a necessidade de dinheiro e o desejo de impor o verdadeiro Deus não se excluem. Os dois estão até unidos por uma relação de subordinação: um é meio, e o outro, fim. [...] Qual um Dom Quixote atrasado de vários séculos em relação a seu tempo, Colombo queria partir em cruzada e liberar Jerusalém! Só que a ideia é extravagante em sua época e como, por outro lado, não há dinheiro, ninguém quer escutá-lo. Como um homem desprovido e que gostaria de lançar uma cruzada podia realizar seu sonho, no século XV? É tão simples quanto o ovo de Colombo: basta descobrir a América e conseguir nela os fundos…No dia 26 de dezembro de 1492, durante a primeira viagem, ele revela em seu diário que espera encontrar ouro, e "em quantidade suficiente para que os Reis possam, em menos de três anos, preparar e empreender a conquista da Terra Santa.” (p. 7, 8)
“Era pois esse o projeto que Colombo tinha apresentado à corte real, procurando obter o auxílio de que precisava para a primeira expedição. Quanto a Suas Altezas, não levavam isso muito a sério, e deviam reservar-se o direito de empregar o lucro do empreendimento, se lucro houvesse, com outras finalidades.” (p. 8)
Pode-se perceber claramente a presença do sentimento religioso empregado por Colombo e a herança do desejo de “guerra santa” que remonta dos tempos medievais.
“[...] Paradoxalmente, é um traço da mentalidade medieval de Colombo que faz com que ele descubra a América e inaugure a era moderna. [...] Porém, como veremos, o próprio Colombo não é um homem moderno, e este fato é pertinente no desenrolar da descoberta, como se aquele que faria nascer um mundo novo já não pudesse mais fazer parte dele.” (p. 8)
Colombo encontra prazer na descoberta da natureza americana e parece se alegrar, inspirado em Marco Polo, por exemplo, em poder relatar aos espanhois os primeiros relatos sobre o "mundo novo".
“Mas, por outro lado, ele parece encontrar na descoberta da natureza, atividade à qual ele se adapta melhor, um prazer que faz com que essa atividade se haste. [...] Basta mencionar a existência de uma nova ilha para que ele seja tomado da vontade de visitá-la.” (p.9)
“Os lucros que ali "deve" haver têm apenas um interesse secundário para Colombo. O que conta são as "terras" e sua descoberta. Esta, na verdade, parece estar subordinada a um objetivo, que é o relato de viagem. Dir-se-ia que Colombo fez tudo para poder escrever rela tos inauditos como Ulisses. Ora, o relato de viagem não é, em si mesmo, o ponto de partida, e não somente o ponto de chegada, de uma nova viagem? O próprio Colombo não tinha partido porque tinha lido o relato de Marco Polo?” (p. 9)
Colombo hermeneuta
Colombo apresenta suas convicções baseadas em três esferas que sustentam suas especulações a respeito do novo mundo: natural, divina e humana. Ele usa desses argumentos para sustentar, por exemplo, a hipótese de que a terra por onde passa é mesmo um continente e não uma ilha.
“Três argumentos vêm apoiar a convicção de Colombo: a abundância de água doce, a autoridade dos livros santos e a opinião de outros homens encontrados.” (p. 9)
Esses argumentos são utilizados também para sustentar os motivos da conquista.
“[...] o primeiro humano (a riqueza), o segundo divino, e o terceiro ligado à apreciação da natureza. [...]” (p. 9)
Contudo, o argumento humano é o mais suscetível ao erro, quando se leva em consideração que Colombo mal entendia o que os índios diziam. O natural, aplicado à lógica, era sem duvida o mais confiável.
E o divino encontra-se em uma esfera diferente, já que envolve a questão da fé. Embora ele professasse a fé cristão, Las Casas afirma que Colombo também acreditava em seres mitológicos, como sereias e ciclopes. E essas crenças influenciam as interpretações que ele faz do que encontra pelo caminho. E muitas vezes esse caminho já tem uma ilustração pré concebida a partir de suas crenças.
“Colombo pratica uma estratégia "finalista" da interpretação, como os Pais da Igreja interpretavam a Bíblia: o sentido final é dado imediatamente (é a doutrina cristã),
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