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EMANCIPAÇÃO - CAP 1 DE MODERNIDADE LÍQUIDA

Por:   •  17/10/2018  •  1.566 Palavras (7 Páginas)  •  298 Visualizações

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Padrões e rotinas fazem com que os homens saibam como agir na maior parte do tempo, e que raramente se encontrem em situações em que as decisões devem ser tomadas com a própria responsabilidade e sem o conhecimento das consequências.

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2 DESENVOLVIMENTO

Emancipação

O que está errado em nossa sociedade é que ela deixou de se questionar, não reconhece mais qualquer alternativa para si mesma. Mas isso não significa que tenha suprimido o pensamento crítico como tal, pelo contrário, fez da crítica da realidade e do que está posto uma parte inevitável e obrigatória da vida dos indivíduos. Mas a sociedade da modernidade fluida é inóspita à crítica, acomoda o pensamento e a ação críticos de modo que permaneça imune a suas consequências, saindo intacta e sem cicatrizes. Atualmente temos a crítica ao estilo do consumidor, que veio substituir a crítica ao estilo do produtor. As causas da mudança estão ligadas à profunda transformação do espaço público, e do modo como a sociedade opera e se perpetua. A crítica clássica, de Adorno e Horkheimer, insere-se no contexto de uma modernidade pesada, sólida, condensada e sistêmica, tendente ao totalitarismo. Um dos principais ícones dessa modernidade é a fábrica fordista, que reduzia a atividade humana a movimentos simples e rotineiros, excluindo a espontaneidade e iniciativa individual. A teoria crítica pretendia neutralizar e eliminar de vez a tendência totalitária da sociedade, buscando sobretudo a defesa da autonomia, da liberdade de escolha e da autoafirmação humanas. A sociedade que entra no século XXI é moderna de um modo diferente da que entrou no século XX. A modernidade é marcada pela contínua modernização, por uma insaciável destruição criativa. Ser moderno significa ser incapaz de parar e de ficar parado, por causa da impossibilidade de alcançar a satisfação. Duas características fazem nossa modernidade nova e diferente: o colapso da antiga crença de que há um fim no caminho que andamos, um tê-los alcançável, e a desregulamentação e privatização das tarefas e deveres modernizantes.

A apresentação de seus membros como indivíduos é marca registrada da sociedade moderna. A individualização é uma atividade incessante e diária, e muda seu significado constantemente, assumindo novas formas. Ulrich Beck contribui para a compreensão do processo de individualização, através de diversas obras. A individualização consiste em transformar a identidade humana de um em uma tarefa, encarregando os atores da responsabilidade de realizar essa tarefa e das conseqüências de sua realização. Os indivíduos não mais nascem em suas identidades; precisam tornar-se o que já são, sendo esta uma característica da vida moderna. A modernidade antiga desacomodava para reacomodar, sendo essa reacomodação uma tarefa posta aos indivíduos. Os estamentos, a que se pertencia por hereditariedade, foram substituídos pelas classes. O pertencimento às classes era uma realização, deveria ser buscado, continuamente renovado, reconfirmado e testado na conduta diária. Os indivíduos com menos recursos tinham que compensar sua fraqueza individual pela força do número, partindo para a ação coletiva, somando suas privações, que se congelavam em interesses comuns. O coletivismo foi a primeira estratégia para aqueles incapazes de se auto afirmar enquanto indivíduos. O que distingue essa individualização da individualização da segunda modernidade é a ausência de lugares para reacomodarão, e os lugares que se apresentam são frágeis, e frequentemente desaparecem antes que seja completado o trabalho de reacomodarão. Tanto no estágio leve e fluido da modernidade quanto no sólido e pesado a individualização é uma fatalidade, não uma escolha. Os riscos e contradições são socialmente produzidos, mas o dever e a necessidade de enfrentá-los estão sendo individualizados. Atualmente, os problemas dos indivíduos podem ser semelhantes, mas não podem fundir-se para formar uma totalidade. Tocqueville afirma que a libertação das pessoas pode torná-las indiferentes. O indivíduo é o pior inimigo do cidadão, pois o cidadão busca seu próprio bem-estar através do bem-estar da cidade, enquanto o indivíduo tende a ser cético ou prudente em relação à causa comum. O outro lado da individualização parece ser a corrosão e lenta desintegração da cidadania. Os cuidados e preocupações dos indivíduos, enquanto indivíduos, enchem o espaço público, como seus únicos ocupantes legítimos, expulsando todo o resto. Assim, o público é colonizado pelo privado.

A sensação de impotência, ainda que com liberdade, induz à tentativa de resgate de um passado de marcha ombro a ombro, mas que hoje já não tem função, porque as aflições agora são não-aditivas, não podendo ser condensadas em interesses compartilhados. Assim, o indivíduo passa a ser o pior inimigo do cidadão, porque enquanto o cidadão deve buscar a causa e o bem comum de uma sociedade justa, vê-se que tal objetivo é incompatível com um mundo onde os benefícios do trabalho conjunto são inferiores à busca individual, levando à corrosão e desintegração da cidadania. Esse processo faz com que o espaço público seja preenchido por preocupações dos próprios indivíduos, transformando o interesse público apenas na curiosidade sobre as vidas de pessoas públicas. Por outro lado, há um crescente déficit entre a condição de indivíduos de jure e de facto, impedindo que o mesmo controle seu destino, situação que somente pode ser superada por meio do resgate da cidadania e da atuação na Política com P maiúsculo. É que, ao revés de haver uma colonização do público pelo privado, conforme preocupações da teoria crítica clássica, o que vem ocorrendo é o contrário, sendo o espaço público o lugar onde se faz a confissão de segredos privado e onde há cada vez menos questões verdadeiramente públicas. Enquanto isso, o verdadeiro poder passa ao largo dos governos e parlamentos, situando-se nas redes eletrônicas.

2.1 COMO “EMANCIPAR” SEM SER MAL COMPREENDIDO

O problema passa pela escolha de um envolvimento político ou o radical distanciamento da prática política. A visão da filosofia como um objeto de ação dos filósofos, sem intercâmbio com o mundo real, não parece adequada, e o desengajamento político cheira a traição. Tal ponte política deve ser enfrentada, ainda que com os riscos inerentes ao processo, buscando-se suavizar a passagem da filosofia para o mundo. De qualquer forma, sendo a política o elo entre os valores

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