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O Espaço e historicidade do espaço nas salas de aula brasileiras

Por:   •  21/10/2018  •  2.371 Palavras (10 Páginas)  •  260 Visualizações

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Diante disso, podemos relacionar o caráter coercitivo e limitante do formato escolar predominante ao projeto de educação pretendido no momento histórico em que se estabeleceu a escola pública e gratuita no Brasil, sendo importante atentar aos interesses políticos do processo de inserção desse moldelo escolar no mundo urbano e à contruibuição para a transformação social dos indívíduos a que ela se destinou.

No mundo cristão ocidental a educação sempre esteve nas mãos da Igreja Católica. Apenas no final do século XVIII e início do século XIX surge na Prussia o conceito de educação pública, gratuita e obrigatória que temos hoje. Com o fim de evitar as revoluções que ocorriam na França no período, os manarcas incluiram em suas ações alguns princípios do Iluminismo para satisfazer o povo em seus anseios revolucionários, mas com o intuito de manter o regime absolutista. A escola prussiana se baseava na forte divisão de classes e castas e sua estrutura, herdada do regime militar e punitivo espartano, fomentava a disciplina, a obediência e o regime autoritário, formando ‘docéis súditos’ desses estados através da educação controlada. A transmissão de saberes nesse sistema educacional, se dava de cima para baixo, com alunos dispostos individualmente, todos voltados ao professor, figura que detinha o conhecimento. Esse modelo educacional se espalhou pelo mundo, e em poucos anos educadores visitaram a Prússia para se capacitar. Muitos países importaram esse formato escolar com o discurso de acesso à educação para todos e elevando a bandeira da igualdade, quando justamente a essência do sistema provinha do despotismo, que buscava perpetuar modelos elitistas e a divisão de classes. A escola então se configura a partir da ideia de criar um corpo docente capaz de dirigir a opinião dos indivíduos. Além disso, o projeto de instrução pública que foi se constituindo no século XIX propunha o progresso material, intelectual e moral dos homens de acordo com as demandas criadas pelo processo de racionalização e de industrialização da modernidade, e também tinha como propósito a expansão, por todos os meios possíveis, da instrução das camadas menos favorecidas, a fim de preparar essa mão de obra para mundo do trabalho.

No Brasil não foi diferente. As elites brasileiras logo viram na educação uma forma de atingir o progresso, de tornar a nação brasileira desenvolvida como as nações europeias. A educação das classes populares levou a um amplo e prolongado debate sobre como realizar a organização do sistema nacional de ensino, sem perder de vista uma organização feita de forma racional e padronizada que permitisse atender a um grande número de jovens, visto a necessidade de uma escolarização em massa. Dessa forma:

“O fenômeno da escolarização em massa, configurado a partir da segunda metade do século XIX, apresentou muitos aspectos comuns de abrangência global, entre eles: a obrigação escolar, a responsabilidade estatal pelo ensino público, a secularização do ensino e da moral, a nação e a pátria como princípios norteadores da cultura escolar, a educação popular concebida como um projeto de consolidação de uma nova ordem social” (FRANÇA; FELIPE; PEREIRA, 2012, p. 7).

No final do século XIX e início do século XX, a escola pública foi elevada à condição de redentora da nação e de instrumento de modernização por excelência. Contudo, cabe ressaltar a seguinte passagem, que nos servirá de indicio para o argumento que será exposto mais a diante no trabalho:

“a escola pública ter como projeto a educação da grande massa não se tratava fornecer todo o ensino a toda sociedade, já que esta escola era oferecida nos moldes das elites cafeicultoras da época que visavam normatizar simplesmente os movimentos populares que reivindicavam instrução pública” (FRANÇA; FELIPE; PEREIRA, 2012 apud HILSDORF, 2001).

A escola então assume também o papel tranformador da sensibilidade, da linguagem, de comportamentos, costumes e mesmo de projetos e perspectivas pessoais das populações mais pobres, visto que a cultura dessas populações não era considerada apropriada para a vida social no mundo urbano e para o progresso ou desenvolvimento pretendidos pelas classes dominantes. Já a partir da metade do século XX, período de grande agitação política, o processo de industrialização do país, juntamente com o golpe militar de 1964, levam a educação pública do país a assumir um carater ainda mais tecnicista:

“Com a sede de desenvolvimento econômico, o desejo pelo poder e como forma de enquadrar a maior parte da sociedade num sistema político autoritário, os militares desenvolveram um método de ensino centrado em formar pessoas, não para a vida social, mas para o mercado de trabalho. (...) O sistema educacional tecnicista, baseado nos moldes da educação norte-americana, adota o modelo empresarial, com o objetivo de adequar a educação às exigências da sociedade industrial e tecnológica, seu ensino é voltado diretamente para produzir indivíduos “competentes” para o mercado de trabalho, em detrimento a formação do senso crítico dos educandos, fazia brotar em cada educando o sentimento involuntário de individualismo, manifestado através da competitividade gerada pelo sistema” (LEÃO; LAURIANO; SANTOS, 2014).

Essa transformação do modelo de educação ocorrido na década de 60 foi sem dúvida um dos mais significativo e transformadores da história educacional do Brasil e persiste até hoje. Diante dessa historicização da escola pública brasileira, é possivel perceber as diferentes temporalidades coexistindo no ambiente escolar ainda hoje. A escola atual continua influenciada pelo velho paradigma da transmissão de conteúdos de cima para baixo, de relações hierarquicas de conhecimento, típicos do surgimento da escola pública na transição do século XVIII para o XIX. A herança militar do século XX no ensino público é visível na cotidianidade das escolas desde as estruturas físicas das instituições de ensino até na métodologia pedagógica adotada, que restringe a autonomia dos educadores e educandos no processo de aprendizagem, faz uso de sistemas de avaliação repressivos e que não possibilitam a formação de pensamento crítico sobre a própria vida cotidiana, além de regras de comportamento rígidas e a punição de insubordinações.

Tendo se desenvolvido dentro do sistema capitalista, a escola se torna cada vez mais instrumento de transmissão da ideologia burguesa, de controle social e de divisão do trabalho. É através do cotidiano opressor de escola, das relações não horizontais entre professores e alunos, da falta de materiais adequados, da ausência

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