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O Big Brother Escola

Por:   •  24/4/2018  •  1.757 Palavras (8 Páginas)  •  418 Visualizações

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Percebe-se que, no ambiente escolar, o ideal seria que a paz e respeito não dependessem de tanta fiscalização, e o monitoramento gera apenas uma disciplina ilusória, uma distorção na moralidade, que é distinta por estar, ou não, diante da hipótese de um registro mecânico. Entretanto, o que percebemos é que a sociedade, como um todo, tem sido inábil no controle da violência por outros meios, e temos assistido o aumento dos episódios de comportamentos violentos e das manifestações descontroladas de ira, com ataques ao patrimônio ou mesmo pessoais dentro do ambiente escolar. E neste contexto, algumas instituições necessitam, até mesmo, instalar detectores de metal para coibir o ingresso de armas, temendo não apenas o elemento externo à comunidade acadêmica, como traficantes, mas também seus próprios alunos. Mas, também é verdade que a repressão não pode compensar a ineficiência do Estado, dos pais ou da própria instituição de ensino, e que estes equipamentos podem sugerir intimidação.

Ambiente “vigiado” por câmeras como o acima citado é cada vez mais frequentes nas escolas do país. Quase sempre é resultado de uma demanda dos pais. Elas se tornaram o mais novo capítulo na delicada relação entre pais e professores. Sem dúvidas é o antigo e tão atual poder disciplinar e a prática da vigilância de Michel Foucault. Em sua obra “Vigiar e Punir” umas das referências que o autor utiliza para tratar da vigilância é o conceito de panóptico, formulado no século XVIII, por Jeremy Bentham: um projeto arquitetônico para uma prisão ideal, onde seria possível, de um ponto central, observar todos os presos, reduzindo custos com funcionários. O modelo panóptico serviria não só para prisões, mas também para escolas, hospitais, fábricas etc.; essas são algumas das instituições disciplinares. Isso se torna realidade com o projeto Big Brother na sala de aula.

O que se percebe é que o Sorria, você está sendo filmado nada mais é do que o panoptismo virtual já naturalizado nos edifícios, supermercados, shoppings, bancos, hospitais, ruas entre outros locais públicos e privados. Assim, surge-nos a pergunta: por que não aceitá-lo nas escolas? Afinal, as câmeras podem ‘ver’ e gravar atos delinquentes. Neste sentido, os foucaultianos alertam que a intenção eletrônica de “vigiar” não garante, por si só, coibir ou punir atos delinquentes. Até porque camufladas ou visíveis, as câmeras vão se banalizando também nas escolas e universidades, filmando preferencialmente alunos no pátio, nas salas de aula, refeitórios, corredores, até nos banheiros ou por ou lado, os alunos com seus celulares, escondidos, filmam colegas e professores, geralmente em situação constrangedora. Alguns vídeos vão parar na internet: o YouTube mostra um professor destruindo o celular de um aluno cujo “sonzinho” atrapalhava a aula e alunos sabotando professores em trabalho. Pode ser um risco e procedimentos como esses estão sendo conduzidos a processos judiciais em vez de uma análise profunda e debate sobre as consequências da presença de câmeras do dia-a-dia dos estabelecimentos de ensino.

Neste contexto há que se perguntar: a vigilância eletrônica será que melhora ou piora a vida psíquica, social e educativo desses ambientes? A autoridade do professor ou o abuso dos alunos são diminuídos diante do olho eletrônico? É legal ou moral o uso de câmeras para “controle de qualidade” do trabalho? As câmeras podem proporcionar uma sensação de segurança, mas também poderiam desencadear paranóia? Em nome da segurança, devemos aceitar um “vale tudo” invasivo da privacidade? Filmar o professor pode boicotar ou não o rendimento da aula? Até que ponto usar câmeras de celulares para filmar um professor em atitude não-pedagógica ou um aluno se drogando é eticamente correto? Será que a vigilância eletrônica prenuncia o esgotamento do modelo civilizatório no limite da barbárie ou é sintoma de um novo tipo de totalitarismo ‘justificado’?

A verdade é que muito temos que pesquisar, muito temos que saber sobre o tema. E realmente não temos noção do até que ponto largar mão das nossas privacidade, para sermos vigiados, observados pode prejudicar ou não a construção do sujeito. Entretanto, algo é certo com as câmeras de vigilância, instaura-se uma espécie de força que se limita a controlar a ação no espaço físico. Perde-se, pois, a oportunidade de educar verdadeiramente, pois que autonomia terão os alunos com câmeras olhando para suas faces e seus atos. E nos ambientes onde não há câmeras? Como agirão? A autonomia não surge num sistema de imposição de ordem e de obediência vigiada. Para sua aquisição, deve-se permitir e propiciar a discussão constante de princípios e regras pelos próprios alunos entre si e com a participação dos professores, para que, de fato, elas sejam internalizadas e se tornem legítimas. É preciso que o aluno não só cumpra as determinações, mas, especialmente, internalize-as, conferindo-lhes legitimidade, pois só assim conseguirão comportar-se de forma adequada não só na escola como em outros ambientes sociais. De nada adianta construir-se uma relação na qual se busque meramente um comportamento passageiro – no período das aulas – como se vivêssemos numa sociedade de total vigilância. Portanto, não se trata de imposição, mas de aquisição negociada, dialogada, problematizada no contexto da aprendizagem, só assim conseguiremos construir cidadãos autônomos, responsáveis que de fato conseguem ser agentes atuantes e livres.

REFERÊNCIAS

CAMARGO, Wanda, O Big Brother vai à escola. Disponível em http://www.unibrasil. com.br/noticias/detalhes.asp?id_noticia=10205>. Acesso em 19 de setembro de 2016.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. 36ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

LIMA, Raymundo de. Big Brother na Escola. Disponível em 2016.https://www.google. com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&ved=0ahUKEwjG4Kz-wqDPAhUD

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