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Fichamento cemitério dos vivos

Por:   •  3/9/2018  •  1.248 Palavras (5 Páginas)  •  272 Visualizações

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Um membro da guarda revelou que a presença dos pesquisadores era positiva, pois as presas estavam tendo com quem desabafar. Essa passagem demonstra a carência e a necessidade de afeto das mulheres reclusas.

Por parte das internas, havia a necessidade de assegurar a confiança mantida pela equipe pesquisadora. A equipe era frequentemente “testada”, a fim de verificar a confiança estabelecida.

Ao iniciar as entrevista, a equipe de pesquisa verificou a necessidade de esclarecer que não poderia realizar qualquer intervenção direta a nível pessoal ou institucional para benefício das informantes e que a cooperação delas poderia surtir efeitos a médio ou longo prazo, à medida que as pessoas tomassem conhecimento de uma série de problemas que as afligiam. O pesquisador deve negar qualquer possibilidade de trocar a informação por qualquer tipo de favor.

Durante as entrevistas foi necessário também enfatizar o anonimato e explicar às informantes que o interesse era pelo que acontecia e não pelas pessoas envolvidas. Os pesquisadores queriam fatos e não nomes.

A possibilidade do uso do gravador foi posta de lado. O gravador, no caso concreto, gerava desconfiança. E, em geral, inibe o informante de tal maneira que seu depoimento fica bastante prejudicado.

O roteiro era previamente elaborado, mas, muitas vezes, não obedecido. Inicialmente constava de breve relato da vida, discussão da experiência pessoal na prisão, abordagem do problema da mulher presa em oposição ao homem, análise do tipo de interação existente entre presas, guardas e administração.

Quanto à seleção das internas, foi dada certa prioridade àquelas que estavam na prisão há mais tempo ou eram reincidentes, possuíam maior conhecimento sobre a vida prisional. Havia algumas “informantes-chave”, que surgiam ao longo da interação e agiam como legitimadoras do trabalho: apresentavam presas, mencionavam a importância da pesquisa e a confiabilidade da pesquisadora, gerando uma atitude positiva.

As entrevistas em grupo foram pouco utilizadas. Algumas informantes se sentiam constrangidas e outras monopolizavam a situação. As discussões só existiram então quando o grupo se formava espontaneamente.

Dois aspectos fundamentais foram observados: as discrepâncias que surgem entre o que é relatado e o que é observado; e a necessidade do pesquisador estar treinado para saber ouvir mais do que perguntar.

A partir daí, inicia-se um relato sobre os dados que foram observados e obtidos durante a pesquisa. Há uma análise do Instituto Penal Talavera Bruce, dos serviços disponíveis na instituição, da chegada no presídio, das internas, da administração e do corpo de guardas, das privações das detentas, dos modos de adaptação, da organização social estabelecida dentro da prisão, do homossexualismo e do trabalho.

Julita expõe seu pessimismo em relação à prisão afirmando que os objetivos da pena – reformar, retribuir, incapacitar e deter – são conflitantes entre si, sendo possível realizar apenas o objetivo de retribuir o sofrimento, ou seja, meramente punir.

Por fim, a autora propõe algumas sugestões na tentativa de minorar os efeitos perniciosos do confinamento e analisar alternativas à prisão-pena. Conclui que as desigualdades são vinculadas à classe social e ainda agravadas quando considerados os fatores cor e sexo. Refere-se às internas do Talavera Bruce como não cidadãs por excelência: criminosas, na sua maioria de cor e provenientes dos estratos mais baixos da população, fazem parte da massa de indivíduos que vivenciam diariamente no cárcere injustiças e arbitrariedades as quais, na verdade, já faziam parte de suas existências quando livres.

São não cidadãs por excelência: fazem parte da massa de indivíduos que vivenciam diariamente no cárcere injustiças e arbitrariedades as quais, na verdade, já faziam parte de suas existências quando livres.

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