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Evolucao da ciencia do homem (antropologia)

Por:   •  19/8/2018  •  1.938 Palavras (8 Páginas)  •  284 Visualizações

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Todavia, com o passar dos tempos e a afirmação e desenvolvimento de um conhecimento mais calcado pela razão, influenciado pelo desenvolvimento do movimento Renascentista, alguns pensadores passaram a enxergar os grupos de “selvagens” como seres que viviam nas terras como frutos próprios da natureza. É nesta perspectiva que pensadores como Montaigne, tem um papel fundamental. Em sua obra “Dos Canibais”, o autor tenta aprender e enxergar o costume do canibalismo entre os Tupinambas através de uma ótica de distanciamento do objeto estudado utilizando os manuais de viagens dos missionários e viajantes europeus do século XVI. Seu objetivo, é tentar explicar o evento através de uma metodologia que exclua os julgamentos sociais e as opiniões vulgares, valorizando desta forma um olhar objetivo.

Montaigne, nesta lógica, tenta construir a imagem de “bárbaros” e “selvagens” tentando se distanciar de análises preconcebidas e de opiniões vulgares que menosprezam e/ou inferiorizam os hábitos culturais de tais povos. Para o autor, quando comparamos a cultura europeia com a dos povos nativos, deveríamos chamá-los enquanto “selvagens” como são selvagens os frutos da própria natureza, e como vivem neste meio natural, são povos originais poucos modificados pela ação do próprio ser humano. Ele parte da argumentação que cada povo desenvolve-se de modo diferente e que a definição de bárbaro ou selvagem, nada mais expressa do que a visão da sociedade que enxerga esta civilização.

“(...) creio que não há nada de bárbaro ou de selvagens nessa nação, a julgar pelo que foi referido; sucede, porém que classificamos de barbárie o que é alheio aos nossos costumes; dir-se-ia que não temos da verdade e da razão outro ponto de referência que o exemplo e a ideia das opiniões e usos do país a que pertencemos. Neste, a religião é sempre perfeita, o governo perfeito, perfeito e irrepreensível o uso de todas as coisas. Aqueles povos são selvagens na medida em que chamamos selvagens aos frutos que a natureza germina e espontaneamente produz; na verdade deveríamos chamar selvagens aos que alteramos por nosso artificio e desviamos da ordem comum” (4)

Fica claro, em suas análises, uma determinada preocupação em relativizar a cultura do outro, do desconhecido, evidenciando que aqueles que chamamos de “bárbaros”, muitas vezes são as características que são externas às nossas próprias verdades e costumes. No entanto, como homem de seu tempo, não consegue desvincular a ideia de que tais “selvagens” sejam ingênuos, pois são seres naturais regidos pela lógica da própria natureza. Montaigne, portanto, através de sua visão calcada por princípios racionais de distanciamento e relativismo cultural, foi capaz de explicar tais hábitos não por preconceitos ou explicações fantasiosas.

Como citamos anteriormente, uma das inquietações da época, sobretudo discutida pelos grandes pensadores, era sobre como este “Novo Mundo” deveria ser pensado em relação à organização social e cultural do europeu. Com o desenvolvimento do modelo científico baseado nas ciências da natureza ao longo do século XVIII e a difusão do pensamento Iluminista, muitos pensadores passaram a pensar o homem como objeto de estudo. Começavam a postular uma ideia do ser humano em estado de natureza – onde vivia só, sem leis, governos e religião – para pensar a origem da humanidade em comparação com a “civilização” - utilizada como parâmetro de desenvolvimento. Tais ideias consistia em aproximar os costumes dos povos nativos à natureza em comparação à cultura da civilização europeia. Nesta lógica, como relata Hélêne Clastres em sua obra “Primitivismo e ciência do homem no século XVIII” que a comparação tornava-se possível como método.

Pensadores da época passavam a aproximar a população amerindia a tal estado de natureza, através da ideia do Bom Selvagem – que pelo fato da natureza reger seus hábitos e costumes e provi-los com a diversidade de alimentos, têm naturalmente, uma bondade ingênua, que não condiz com a competição e depravações das civilizações “modernas”.

Um dos principais pensadores sobre o Estado de Natureza e da ideia do “bom selvagem”, Rousseau, nos traz grandes contribuições para a discussão sobre a população ameríndia se situarem na “origem” dentro da historia natural do desenvolvimento humano.

Em sua obra, “Discurso sobre a origem da desigualdade” o autor tenta mostrar que tais as “populações primitivas” do continente americano não pertenceriam ao estado de natureza, porém em uma fase intermediária entre a “origem” e a “civilização”, uma vez que não seriam tão desenvolvidos, devido à influência da natureza em seus hábitos de vida e costumes que os permitiam à ociosidade, como também o desenvolvimento pouco maduro do pensamento racional, mas também não estariam em Estado de Natureza – uma vez que este estágio é caracterizado pela ausência de agrupamentos sociais, e como vivem sós, sempre tentavam valorizar suas próprias vidas, portanto são tímidos e sempre prontos para fugir. (5)

Se no tocante do caminhar das ciências do homem entre o intervalo XVI e XIX as ciências dos homens (etnografia e etnologia) se desenvolveu através da comparação cultural e a atribuição dos hábitos e costumes povos nativos à influência da natureza e à superstição mistica de sua religião, o século XIX romperá com tais ideias, reconhecendo o lado racional dos costumes e hábitos dos “selvagens” que estariam em um grau inferior e “primitivo” do desenvolvimento. Traçava-se assim uma história natural do ser humano, onde que as ciências do homem aplicadas às regras e leis provindas das ciências naturais, conseguiriam explicar a grande diversidade dos seres humanos e de seus costumes e ao mesmo tempo traçaria uma linha de desenvolvimento humano (do “primitivo’ ao “civilizado”). Por influência da Revolução Industrial e o Imperialismo um novo parâmetro passará a ser utilizado para associar o “Velho Mundo” com a ideia de “civilização”: a indústria e a ciência.

Acreditavam que o grau de desenvolvimento científico era a base da evolução humana. Viam-nos enquanto seres evoluídos por suas indústrias e ciências, e pensavam que tal evolução, uma hora chegaria aos povos “selvagens” dos lugares remotos. Assim sendo, a ideia positivista evolucionista ganhava força. Somente por bases científicas racionais, desligadas das visões míticas, poderia explicar e compreender os hábitos

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