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A PESQUISA QUALITATIVA EM CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS: EVOLUÇÃO E DESAFIOS

Por:   •  5/11/2018  •  1.564 Palavras (7 Páginas)  •  476 Visualizações

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Um primeiro marco remonta às raízes mais remotas da pesquisa qualitativa e está associado ao romantismo e ao idealismo, e às querelas metodológicas do final do século XIX, reivindicando uma metodologia autônoma ou compreensiva para as ciências do mundo da vida procurando, a partir do neokantismo, estabelecer as fases evolutivas pregressas da sociedade europeia ocidental, contraposta a outros povos colonizados ou a culturas primitivas. (IBID. p. 224).

Neste primeiro momento, as pesquisas procuraram descrever as precárias condições do mundo da vida dos trabalhadores urbanos e rurais na era da industrialização por meio de levantamentos estatísticos, descritivos e ilustrativos. Outros estudos europeus foram inspirados no evolucionismo de Darwin e Spencer. Assim como na filosofia positivista, fazendo levantamentos classificatórios de informações que comprovariam os estágios hipotéticos de Comte, permitindo fazer classificações de grupos sociais.

A partir da primeira metade do século XX, temos o segundo marco da pesquisa qualitativa, quando a Antropologia impulsionada pelos estudos socioculturais, constitui-se em disciplina distinta da história e procura estabelecer meios de estudar como vivem grupos humanos, partilhando de suas vidas, no local onde vivem e como dão sentido às suas práticas e coesão ao seu grupo. Assim, a História, a Antropologia, a Sociologia e a Educação consolidam-se como novos campos de investigação científica.

A pesquisa começa a se profissionalizar: torna-se produto exemplar de um pesquisador acadêmico renomado que foi viver em lugar distante e original para estudar um grupo primitivo, diferente de sua cultura, partilhando do lugar, das experiências vividas, de suas práticas, ritos e celebrações para descobrir o sentido que eles são a tudo isso. (IBID. p. 225).

Com este estudo, surge a Etnografia com Malinowski (1922), que segundo Chizzotti (2003), em seu artigo, apresenta uma visão sócio histórica da etnografia, ressaltando o seu significado como sendo uma descrição das crenças, magias, artefatos e da organização social de um determinado grupo ou comunidade. A etnografia, no entanto, consolida-se como a descrição do conhecimento cultural do meio em que estão os informantes, pela observação e significados atribuídos às suas ações e práticas.

O autor traz o terceiro marco, demarcado após a II Guerra Mundial até os anos de 1970, sendo a fase áurea da pesquisa qualitativa, onde os conceitos de objetividade, validade, fidedignidade e rigor da pesquisa científica vão sendo transformados à medida que se começa a repensar a finalidade da pesquisa qualitativa. O movimento passa da corrente filosófica empirista, idealista, positivista, historicista até a dialética, que é o movimento que a corrente filosófica marxista preconiza.

O debate qualitativo versus quantitativo se revigora neste período e “os pesquisadores qualitativos contestam a neutralidade científica do discurso positivista e afirmam a vinculação da investigação com os problemas ético-políticos e sociais, declaram-se comprometidos com a prática” (IBID. p. 228).

Chizzotti (2003) destaca a importância da fundamentação teórica (epistemologia) na pesquisa qualitativa, pois esta se encaixa em qualquer corrente ideológica, seja positivista, marxista, fenomenológica, construtivista, historicista ou outras. Por isso, o processo de investigação precisa ser neutro, mesmo sabendo-se que o pesquisador pertence a um grupo social, a um contexto histórico, político e econômico da sociedade que determinam uma visão de mundo.

Vem, então o quarto marco, década de 70 e 80:

[...] ampliaram-se os investimentos públicos e privados, [...] surgem novas orientações e novos paradigmas, refletindo uma mudança de visão sobre a natureza da pesquisa e sua contribuição para a política e a prática (v. World Yearbook, 1980-1985), e gerando uma profusão de iniciativas, métodos e técnicas de pesquisa em todas as áreas do conhecimento, conexas com o desenvolvimento e a educação (Landsheere, 1986). [...]. Novos temas e problemas originários de classe, gênero, etnia, raça, culturas trazem novas questões teóricas e metodológicas aos estudos qualitativos. (p. 227-228).

O autor traz ainda o quinto marco que se inicia na década de 90 em diante, neste momento, a pesquisa qualitativa é demarcada pelo desaparecimento do único sistema concorrencial ao capitalismo liberal, o comunismo soviético, abrindo caminhos para a globalização do capital e ascensão dos programas políticos neoliberais:

Se, de um lado ressurge a confiança nas teses da “sociedade do conhecimento” e o “fim das ideologias” (Bell, 1974) e no poder apaziguante do consumo capitalista, fortalecido pelas novas tecnologias; de outro, aguça-se o vigor analítico das teorias críticas, denunciando as desigualdades subjacentes a essa ilusão igualitária. (p. 230).

Assim, as pesquisas propenderam a reconhecer uma pluralidade cultural, como afirma Chizzotti (2003), elas abandonaram a autoridade única do pesquisador para:

- Reconhecer a polivocalidade dos participantes. (Fine, 1994; Fine e Weis, 1998; Fine e Powel et al., 1997; Fine et al., 2000);

- Admitir a poliformidade descritiva da vida e da cultura. (Lemke, 1995; Marcus e Fisher, 1986; Rosaldo, 1989; Gergen, 1991);

- A legitimidade do texto escrito fundamentado no percurso reflexivo do autor para obter resultados. (Hertz, 1997);

- Assumindo várias formas. (Ellis e Bochner, 1996);

- A validade da investigação se traduz na experiência humana de um texto. (Smith, 1993; Tierney e Lincoln, 1997) e

- Patenteiam-se as virtudes e os limites discursivos sobre a realidade descrita em um produto científico.

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