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Análise e Comparação entre Max Weber e Franz Kafka

Por:   •  17/10/2018  •  1.998 Palavras (8 Páginas)  •  475 Visualizações

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Essa burocracia ramificou-se por várias esferas do Estado, um exemplo disso seria a burocracia presente nos partidos políticos. A burocracia nos partidos se desenvolve da mesma forma de que no Estado. Para a campanha política membros do partido se unem de forma hierárquica para obter o financiamento para campanha, o qual é feito por “ patrocinadores”.

Um pouco mais adiante na obra, o autor discorre sobre a burocracia estatal. Segundo Weber com o fim do capitalismo privado a burocracia estatal iria predominar na sociedade. Essa mudança causaria mudança na relação entre burocracia privada e pública, elas que, por vezes trabalham lado a lado e também são contrárias acabariam por fundir-se. Sobre como tudo isso viria a se disseminar no Estado e nos indivíduos o autor diz o seguinte:

"Uma máquina inanimada é a mente (mind) concretizada. Somente este fato proporciona à máquina o poder de forçar os homens a operá-la, e o poder de dominar suas vidas de trabalho diário tão completamente como ocorre em realidade na fábrica. A inteligência concretizada é também uma máquina animada, a da organização burocrática, com sua especialização no adestramento de habilidades, sua divisão de jurisdição, seus regulamentos e relações hierárquicas de autoridade. Juntamente com a máquina inanimada, a inteligência concretizada ocupa-se em construir a concha da servidão que os homens serão talvez forçados a habitar algum dia. " (WEBER, Max. "Parlamentarismo e governo numa Alemanha reconstruída" . In: Os Pensadores. São Paulo: Abril, 1974 (1918)(p. 25)).

Já quando fazemos uma análise, dos textos selecionados, de Kafka em relação às formas de dominação descrita por Weber teremos uma nova forma avaliar a fábula.

Na parábola, presente em “O Processo”, o porteiro mostra uma postura de autoridade, ele segue ordens de, no caso, não deixar o homem entrar, essa figura poderia estar representando o contrato, visto que para Weber, a vida se baseia em um contrato, talvez este estivesse ali com o intuito de legitimar o contrato e garantir a obediência do homem a cumpri-lo. Lembrando que para Weber legitimidade e legalidade aparecem em seu texto muitas vezes como sinônimos. Vamos além, poderíamos pensar na figura do porteiro como uma figura divina, assim o mesmo apareceria, aos olhos do simples homem do campo, como um poder superior, mas mesmo assim o homem não o teme, e questiona o porteiro diversas vezes, afinal, o acesso às leis, a entrada à porta da lei, deveria ser um direito de todos. Talvez o porteiro fosse um simples porteiro e por um motivo patológico o homem tenha se deixado acreditar em sua figura como divina, apesar de não adentrar, talvez temendo os outros porteiros.

Quando questionado sobre o que aconteceria se deixasse o homem entrar, o porteiro explica a violência que seria usado sobre o homem pelos outros porteiros, vendo-o como uma figura representante da lei, podemos lembrar que segundo Weber, na política não se deve abdicar da violência quando o uso da mesma se faz por necessário.

Mas, e quanto a figura do homem? Ele poderia estar representando a massa popular, que, diante da figura da lei, não exerce a liberdade; a porta talvez seria uma passagem para a liberdade, para um mundo onde todos são livres, e onde a prática da liberdade não é exclusiva a um único grupo social. A figura do homem aparece sempre inferior a do porteiro, e este está sempre se recolhendo a sua insignificância diante da figura do porteiro, a descrição da imagem de ambos é muito importante, o porteiro aparece como um homem robusto, um defensor da lei, enquanto o homem é um simples cidadão do campo, que no decorrer da história perde todos os seus bens tentando subornar o porteiro para atravessar a porta.

Em nenhum momento o porteiro diz que a entrada do homem é algo impossível, pelo contrário, no início da fábula ele faz o homem criar expectativas sobre sua passagem dizendo que "é possível" entrar mas que "agora não", o homem, então, espera sentado com a expectativa de um dia adentrar às portas da lei.

Em uma reflexão podemos ver o homem como um representante da humanidade perante a lei, seria a lei, na fábula, acessível à poucos (talvez não só na fábula, contudo vamos nos privar a esta). O homem como indivíduo, realiza e enfrenta ações constantemente, mas perante a autoridade do porteiro decide esperar pela autorização de sua entrada, isso talvez demonstre que a humanidade, a massa popular, não possui acesso às leis. Isso talvez explicaria o fato do porteiro ter ido embora ao perceber que o homem estava no fim de sua vida, este enganou o homem, enganou o que ele representa, para que não tivesse acesso à lei, mesmo deixando-o criar expectativas por tanto tempo.

Na obra de Kafka, tudo passa pela burocracia. Uma imensa estrutura, que pode passar a ideia de máquina – a máquina burocrática – altamente hierarquizada, controlando e definindo a vida das pessoas.

Essa máquina burocrática estabelece rigorosamente papéis e entre estes seus níveis na escala social. Alguns burocratas estão no topo da pirâmide enquanto a grande maioria está na base. Embora o importante mesmo seja o cargo, não o indivíduo que o ocupa, aquele que está em destaque é inatingível.

A relação entre o porteiro e o homem do campo é uma relação de poder, visto que o homem obedece as ordens do porteiro de esperar até que seja convidado a entrar, essa relação de poder pode ser caracterizada como um tipo de “Dominação Legal”, pois se dá em uma democracia. A dominação Legal nas concepções de Weber é uma dominação em virtude de um estatuto de direito, o qual pode ser criado ou modificado de acordo com a forma; se obedece não à pessoa, mas à regra estatuída, quem ordena é o "superior", o “burocrata”, legitimado por uma regra estatuída no âmbito da consciência concreta.

Segundo Weber "a burocracia constitui o tipo, tecnicamente, mais puro da dominação legal". Mas voltando às atitudes do porteiro, talvez o cenário do homem seja uma democracia, afinal para ele todos deveriam ter acesso às leis, mas o fato do porteiro obedecer à uma lei superior, que o impede de deixar o homem entrar, também demonstra uma característica da Dominação Legal, afinal, ele mesmo, como uma figura de autoridade, obedece às ordens. O porteiro,

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